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Adão Pretto Filho

Deputado estadual pelo PT-RS

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COP30: sem investimentos em agroecologia e redução de agrotóxicos não há política climática séria

Se quisermos uma política climática, é por aqui que ela começa: na terra, nas mãos de quem produz e na coragem de escolher um modo de viver em paz com o planeta

COP30: sem investimentos em agroecologia e redução de agrotóxicos não há política climática séria (Foto: Reprodução)

Estamos em meio à COP30, em Belém (PA),  com os olhos do mundo voltados ao Brasil. Já tivemos anúncios importantes, como a criação do fundo permanente para preservação das florestas. No entanto, um tema que precisa aparecer mais nas mesas de discussão é a agroecologia. Se o mundo quer realmente enfrentar a crise climática, precisa colocar no centro do debate aquilo que nasce da terra, quem dela vive e a forma como estamos produzindo alimentos. A agricultura industrial baseada em agrotóxicos, monoculturas e dependência química é hoje um dos pilares do aquecimento global — e também um dos maiores entraves à construção de um futuro sustentável.

Reduzir o uso de agrotóxicos é mais do que uma pauta ambiental: é uma agenda de saúde pública e de justiça social. Cada litro de veneno usado no campo recai sobre trabalhadores rurais, sobre comunidades inteiras e sobre quem consome. O custo desse modelo é altíssimo — ambiental, social e econômico . A transição não pode ser apenas discursiva; precisa ser concreta, com metas, financiamento e coragem.

A agroecologia demonstra, na prática, que outro caminho é possível. Tecnologias próprias deste modelo — como os bioinsumos — já são uma realidade sólida. Estudos de instituições brasileiras mostram que Bioinsumos reduzem drasticamente a necessidade de insumos químicos e aumentam a produtividade. No arroz, por exemplo, o uso de bioinsumos pode elevar a produção em até 30%. Ou seja: produzir mais, com melhor qualidade, protegendo a saúde de quem planta e de quem consome, é perfeitamente viável.

Aqui no Rio Grande do Sul, a prática falou mais alto que qualquer discurso. Após as enchentes de 2024, que devastaram lavouras e cadeias produtivas inteiras, os primeiros produtores de arroz a retomar o plantio foram justamente aqueles que adotavam sistemas agroecológicos e tecnologias alternativas. Esses agricultores resistiram porque seus modelos produtivos eram mais resilientes, diversificados, menos dependentes de veneno e de fertilizantes importados. A resposta ao colapso climático veio do campo que produz com cuidado, não do agronegócio químico que se vende como sinônimo de produtividade. Como resultado, tivemos no Rio Grande do Sul uma safra recorde de arroz agroecológico, com mais de 14 mil toneladas do grão em assentamentos do MST.

E é impossível falar de agroecologia sem falar de reforma agrária. Quando a terra está concentrada nas mãos de poucos, prevalece o modelo que degrada: monocultura, destruição do solo, uso intensivo de veneno. Já a agricultura familiar — que nasce do direito à terra — cuida mais e melhor dos territórios. Onde há reforma agrária, há diversidade produtiva, há preservação de nascentes, há produção limpa, há vínculo com a comunidade. Nos assentamentos do Brasil inteiro, vemos que a agroecologia floresce quando há acesso à terra, apoio técnico e participação social. Reforma agrária não é só justiça social — é política climática de primeira ordem

O mundo já entendeu isso. Da transição orgânica na Índia, às experiências cubanas, passando por políticas de restrição a agrotóxicos na Europa, a lição é a mesma: clima, alimentação e saúde são dimensões inseparáveis. E todos os modelos bem-sucedidos têm algo em comum — terra distribuída, agricultores valorizados e políticas públicas de longo prazo.

O Brasil — dono de uma agricultura familiar forte, da maior biodiversidade do planeta e de um acúmulo científico respeitado — tem condições reais de liderar essa virada. Para isso, é preciso tomar decisões: crédito orientado para a transição agroecológica, avanço na reforma agrária, assistência técnica pública e de qualidade, metas firmes de redução de agrotóxicos, incentivo à pesquisa em bioinsumos e ampliação das compras públicas que priorizem quem produz alimento de verdade.

Quem cuida da terra hoje está cuidando do clima de amanhã. E quem insiste no veneno, na destruição dos solos e na precarização da vida rural está atrasando a solução. A COP30 precisa marcar um compromisso mundial com modelos que regenerem, e não destruam. Com a agroecologia e a reforma agrária, não estamos falando apenas de produção de alimentos — estamos falando de futuro, de vida e de responsabilidade com as próximas gerações.

Se quisermos uma política climática séria, é por aqui que ela começa: na terra, nas mãos de quem produz e na coragem de escolher um modo de viver em paz com o planeta.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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