Brasil lança Plano de Ação de Saúde na COP30
Iniciativa impulsiona ações globais de adaptação climática e recebe aporte internacional para fortalecer sistemas de saúde vulneráveis
247 - O governo federal lançou em Belém, no Pará, o novo Plano de Ação em Saúde de Belém, elaborado para orientar países na adaptação de seus sistemas de saúde aos efeitos já visíveis da crise climática. O conteúdo, divulgado originalmente pela Secretaria de Comunicação Social do governo federal, destaca o caráter inédito do documento, apresentado durante a COP30.
O plano inaugura uma estratégia internacional centrada na saúde pública como eixo da adaptação climática, e foi acompanhado pelo anúncio de US$ 300 milhões destinados por uma coalizão de entidades filantrópicas para impulsionar soluções, pesquisas e infraestrutura voltadas à proteção de populações vulneráveis.
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, sublinhou o momento decisivo enfrentado pelas nações. “A COP30 nos coloca diante de um dilema: permanecer nos discursos e promessas ou transformar compromisso político em ação concreta. A resposta do Brasil é clara: é tempo de passar da reflexão para a ação e enfrentarmos juntos os desafios entrelaçados entre clima e saúde”, afirmou. Ele reforçou que, para diversos países, adaptação é uma questão urgente. “Para muitos países, adaptar-se é uma questão de sobrevivência imediata”, declarou, ao destacar a necessidade de respostas diante de eventos extremos como enchentes, secas e ondas de calor.
A CEO da COP30, Ana Toni, ressaltou o protagonismo do SUS no debate climático. “Trazer o SUS para o coração da COP traz o tema da saúde como prioridade. Já temos 80 países e parceiros internacionais fazendo parte deste Plano de Ação e isso é fundamental para trazer novos passos”, disse. Representante da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, o secretário-executivo da UNFCCC afirmou que o documento abre uma nova etapa de cooperação internacional: “O Plano de Saúde de Belém nos dá agora uma base. Precisamos, a partir daí, de um trabalho coordenado, organizado e bem financiado para colocar essas políticas em prática”, resumiu.
Plano prioriza vigilância, evidências científicas e proteção de grupos vulneráveis
O Plano de Ação de Saúde de Belém tem como foco construir sistemas de saúde resilientes ao clima, integrando vigilância epidemiológica, monitoramento de riscos, capacitação profissional e investimentos em tecnologia e infraestrutura. A execução será coordenada com a Aliança para Ação Transformadora em Clima e Saúde (ATACH), sob supervisão da Organização Mundial da Saúde (OMS).
O pacote de recursos anunciado por 35 organizações filantrópicas internacionais apoiará iniciativas voltadas ao enfrentamento do calor extremo, da poluição do ar e de doenças infecciosas sensíveis ao clima. A integração de bases de dados climáticas e sanitárias é outro eixo que busca fortalecer respostas governamentais em diferentes regiões do mundo.
Entre os financiadores estão entidades como Bloomberg Philanthropies, Gates Foundation, IKEA Foundation e The Rockefeller Foundation. Naveen Rao, vice-presidente sênior de Saúde desta última, destacou o caráter colaborativo do investimento. “As mudanças climáticas são a mais grave ameaça à saúde do nosso tempo, e nenhuma organização, comunidade ou país pode enfrentá-las sozinho. Ao unirmos prioridades e recursos, podemos acelerar soluções, alcançar mais comunidades e gerar maior impacto”, afirmou.
Para John-Arne Røttingen, CEO da Wellcome Trust, os dados científicos são alarmantes. “Os alertas dos cientistas sobre as mudanças climáticas se tornaram realidade. E está claro que nem todas as pessoas são afetadas da mesma forma”, destacou. Ele lembrou que crianças, gestantes, idosos e trabalhadores expostos ao calor são os mais atingidos. “Precisamos desenvolver e implementar soluções rapidamente para salvar vidas e meios de subsistência”, completou.
OMS aponta agravamento de riscos e reforça importância da ação brasileira
Em mensagem enviada à reunião ministerial, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, alertou que a emergência climática já pressiona sistemas de saúde ao redor do mundo. “A OMS pede há décadas por adaptação e resiliência. O Plano apresentado pelo governo brasileiro é um avanço essencial”, afirmou.
Dados recentes reforçam a dimensão do desafio. O Relatório Lancet Countdown 2025 aponta que mortes associadas ao calor aumentaram 23% desde a década de 1990, alcançando 546 mil ao ano. Em 2024, a fumaça de incêndios florestais esteve ligada a um recorde de 154 mil mortes. Já o potencial de transmissão da dengue cresceu até 49% desde os anos 1950.
A intensificação de eventos climáticos extremos também compromete o acesso à água e alimentos, eleva a poluição e sobrecarrega serviços de saúde — especialmente em regiões com menor infraestrutura.
Adesão global e alinhamento com metas internacionais
Aberto à adesão voluntária de países, organismos multilaterais, sociedade civil, academia e setor privado, o Plano de Ação integra a Agenda de Ação da COP30 e responde ao Objetivo 16, que prevê sistemas de saúde resilientes à crise climática. A iniciativa também atende ao Artigo 7 do Acordo de Paris, referente à Meta Global de Adaptação, e complementa resoluções da Assembleia Mundial da Saúde.



