Dia da Saúde na COP 30 marca lançamento de plano global para fortalecer sistemas de saúde diante da crise climática
Iniciativa apresentada em Belém coloca a saúde no centro das negociações climáticas e busca adesão internacional
247 – Pela primeira vez na história das Conferências das Partes (COPs), esta quinta-feira (13/11) é inteiramente dedicada à relação entre saúde e clima na COP 30, realizada em Belém. O chamado Dia da Saúde será marcado pelo lançamento do Plano de Ação em Saúde de Belém, iniciativa reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma das principais estratégias globais para fortalecer sistemas de saúde resilientes às mudanças do clima. A reportagem tem como fonte original a matéria publicada pela Agência Gov.
O plano, considerado o primeiro documento internacional de adaptação climática voltado exclusivamente para a saúde, representa um marco da COP 30. Em entrevista à Voz do Brasil, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, afirmou que a agenda climática já impacta diretamente a vida das pessoas e que os sistemas de saúde precisam ser preparados para enfrentar a nova realidade. “As mudanças climáticas já estão mexendo na nossa vida hoje”, disse. Ele citou eventos extremos recentes, como o ciclone que devastou Rio Bonito do Iguaçu, no Paraná. “Um ciclone que, numa velocidade absurda, nunca tinha acontecido isso no Brasil, destruiu toda a cidade, mais de mil pessoas desalojadas. Das seis unidades de saúde, cinco totalmente destruídas”, destacou.
Impactos imediatos das mudanças climáticas na saúde pública
Segundo Padilha, a saúde é “a principal face dos impactos das mudanças climáticas”, afetando desde a rotina de vacinação até o tratamento de doenças crônicas. Quando estruturas de saúde são destruídas, explicou o ministro, o acompanhamento de pacientes com hipertensão, diabetes e gestantes é interrompido. “Crianças não são vacinadas. Então, tudo isso mexe na saúde das pessoas”, afirmou.
O ministro também ressaltou o avanço das doenças respiratórias durante períodos de queimadas e o aumento da circulação de vetores como o mosquito da dengue, cujos deslocamentos estão diretamente ligados ao aumento da temperatura média mundial. “Hoje, na França, você tem o mosquito que transmite a doença do chikungunya… Nos Estados Unidos, você tem o vetor da doença de chagas”, alertou.
Plano de Ação em Saúde de Belém: adaptação, prevenção e resposta rápida
Durante a entrevista, Padilha destacou que o plano brasileiro será apresentado ao mundo com o objetivo de mobilizar países e fortalecer a capacidade global de enfrentamento às mudanças climáticas. “Vai ser amanhã, a primeira vez que tem na história, e lançar ao mundo… um plano de ação Belém de adaptação dos sistemas de saúde”, afirmou.
O plano se apoia em três frentes principais:
1. Monitoramento e inteligência em saúde
Padilha citou como exemplo o Centro Operacional Integrado de Dados Epidemiológicos, no Rio de Janeiro, que cruza dados climáticos e de saúde para prever demandas e organizar respostas. O modelo recebeu reconhecimento internacional durante a visita do príncipe William.
Com esse tipo de monitoramento, explicou o ministro, é possível identificar regiões de maior vulnerabilidade e agir antecipadamente, reforçando equipes, medicamentos e estruturas.
2. Assistência adaptada às populações mais vulneráveis
A região amazônica é um dos focos do plano. Em períodos de seca, comunidades ribeirinhas ficam isoladas, dificultando acesso a medicamentos e atendimento básico. Para enfrentar esse desafio, o governo federal está financiando barcos especializados que realizam exames, cirurgias e diagnósticos avançados.
“Nessa uma semana, atenderam mais de 10 mil pessoas aqui em Belém e região”, disse Padilha, destacando o papel dos novos investimentos: “A expectativa é que possa fazer mais 9 mil cirurgias”.
3. Inovação e desenvolvimento tecnológico
O ministro anunciou R$ 60 milhões, em parceria com a Embrapii, destinados ao desenvolvimento de medicamentos a partir da biodiversidade amazônica. “Inovar a partir da Amazônia protege mais a Amazônia e evita as mudanças climáticas do mundo”, afirmou.
Infraestrutura de saúde montada para a COP 30 deixa legado permanente
Padilha também detalhou o funcionamento da estrutura emergencial criada em Belém para atender participantes da conferência. O Centro Integrado de Operação e Controle da Área da Saúde coordena o trabalho conjunto entre União, Estado e município desde 6 de novembro.
Segundo o ministro, mais de mil atendimentos já haviam sido realizados até o dia 12. Apenas 1% dos casos exigiu internação, graças ao funcionamento integrado entre unidades básicas, UPAs e hospitais temporários montados especialmente para o evento.
Além disso, foi anunciado investimento em seis novos equipamentos de radioterapia no Pará — em Belém, Santarém e Castanhal — reforçando o legado duradouro que a COP deixa para o estado.
COP 30 consolida a saúde como eixo central da ação climática global
Ao afirmar que “as pessoas estão morrendo hoje no mundo por conta das mudanças climáticas”, Padilha reforçou que a discussão sobre clima não pode ficar restrita ao meio ambiente. Com o lançamento do Plano de Ação em Saúde de Belém, o Brasil busca liderar a construção de sistemas de saúde mais fortes, ágeis e preparados para eventos extremos, do nível local ao global.



