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Sara York

Sara Wagner York (também conhecida como Sara Wagner Pimenta Gonçalves Júnior) é bacharel em Jornalismo, doutora em Educação, licenciada em Letras – Inglês, Pedagogia e Letras Vernáculas. É especialista em Educação, Gênero e Sexualidade, autora do primeiro trabalho acadêmico sobre cotas para pessoas trans no Brasil, desenvolvido em seu mestrado. Pai e avó, é reconhecida como a primeira mulher trans a ancorar no jornalismo brasileiro, pela TV 247

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Desvendando a inclusão LGBTQIA+ no mercado de trabalho brasileiro

A ausência de dados sólidos ainda limita a implementação de políticas públicas e ações empresariais

Desvendando a inclusão LGBTQIA+ no mercado de trabalho brasileiro (Foto: Reuters)

Sem dados precisos, é difícil promover a verdadeira inclusão LGBTQIA+ nas empresas. Conhecer a realidade é o primeiro passo para transformar o ambiente de trabalho no Brasil.

Por muito tempo, a falta de dados precisos sobre a população LGBTQIA+ no Brasil foi uma barreira para a formulação de políticas públicas e estratégias corporativas eficazes de inclusão. Sem informações confiáveis, fica difícil entender a realidade desses grupos, suas vulnerabilidades e necessidades específicas. Essa lacuna de dados também impede que empresas, instituições e o poder público adotem ações assertivas para promover ambientes de trabalho mais seguros, acolhedores e igualitários para todas as identidades de gênero e orientações sexuais.

Recentemente, uma pesquisa inédita realizada pelo Instituto Mais Diversidade, em parceria com a organização internacional Out & Equal, revelou que as experiências de pessoas LGBTQIA+ no mercado de trabalho brasileiro ainda enfrentam obstáculos significativos. O estudo, que contou com a participação de mais de mil respondentes, mostrou que 57% das empresas no Brasil possuem políticas explícitas de combate à discriminação, enquanto 41% oferecem benefícios para cônjuges e familiares LGBTQIA+. No entanto, há uma percepção generalizada de que a implementação prática dessas políticas ainda pode ser melhorada.

A comparação com outros países da América Latina evidencia o quanto ainda há por avançar. Na Argentina, por exemplo, uma consequência de avanços legislatórios inclui a inclusão de perguntas específicas sobre identidade de gênero e orientação sexual em seus censos nacionais. Essa iniciativa tem buscado dar visibilidade à população trans e promover uma maior compreensão de suas realidades. Apesar desses avanços, ativistas alertam que ainda há dificuldades em garantir que dados sensíveis sejam coletados de forma segura e respeitosa, para evitar Violência, preconceito ou discriminação.

Para o jornalismo e a sociedade civil, uma questão central é o impacto direto dessa falta de dados na construção de políticas públicas que efetivamente alcancem e atendam às demandas da população LGBTQIA+. Sem números confiáveis, programas de inclusão, treinamento de equipes, implementação de benefícios e criação de ambientes mais acolhedores permanecem no campo da intenção, muitas vezes insuficientes na prática.

A importância de coletar e divulgar dados de forma ética e segura

A coleta de informações deve ser feita de modo responsável, garantindo o sigilo, a privacidade e o respeito às identidades das pessoas. A implementação de questionários específicos, como já vem sendo estudado e discutido por especialistas, pode ser um primeiro passo nessa direção. Dessa forma, é possível criar um banco de dados que subsidie ações de governos, empresas e organizações sociais que estejam alinhadas às demandas reais dessa comunidade.

O papel da educação e do jornalismo na superação desse desafio

A educação deve reforçar a compreensão sobre a importância da transparência e do respeito às diversidades, estimulando o debate sobre a necessidade de dados confiáveis. Simultaneamente, o jornalismo tem o papel de dar visibilidade a essas questões, cobrando e acompanhando as ações de estados e empresas na implementação de políticas de inclusão baseadas em evidências.

Temos que falar sobre isso...

A ausência de dados sólidos ainda limita a implementação de políticas públicas e ações empresariais que possam realmente promover a inclusão LGBTQIA+ no Brasil. Como sociedade, é fundamental avançar na coleta de informações de forma ética, segura e responsável, para que todos possam desfrutar de um ambiente de trabalho mais justo, acolhedor e igualitário. A transparência e o compromisso com os números, portanto, são passos essenciais na construção de um Brasil mais plural e inclusivo para todos.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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