O governo Tarcísio e as mentiras que ele te conta
A retórica do “bom gestor” esconde cortes, atraso em obras e a dependência do apoio federal para viabilizar projetos estratégicos em São Paulo
A distância entre o discurso e a prática do governo Tarcísio de Freitas tem se tornado cada vez mais evidente e merece uma análise criteriosa. A dicotomia fica clara quando descolamos dessa gestão a propaganda oficial e o manto de proteção da chamada “grande imprensa”, que, sob a influência do mercado, tenta vender, a qualquer custo, uma imagem de eficiência administrativa.
Um dos exemplos mais claros em que essa falácia se impõe está na proposta de Orçamento do Estado de São Paulo para 2026, elaborada pelo governo Tarcísio e recentemente aprovada na Assembleia Legislativa. Eles insistem no mantra do “bom gestor”, com corte de gastos e enxugamento da máquina pública, uma retórica que se desfaz quando observamos os números com atenção.
O que se vê, na prática, é que pouco ou quase nada tem sido feito em duas áreas fundamentais para o desenvolvimento de São Paulo: investimentos e obras públicas.
O paradoxo é ainda maior quando se leva em conta o perfil do governador. Tarcísio de Freitas é engenheiro e foi ministro da Infraestrutura. Seria razoável esperar que investimentos estruturantes e grandes obras fossem prioridade absoluta de sua gestão. Mas não são.
No acumulado de quatro anos, o governo Tarcísio deve investir nessas duas áreas menos do que a gestão que o antecedeu. E veja que o governo anterior foi profundamente impactado pela pandemia de Covid-19, que afetou os gastos públicos e inviabilizou projetos.
Para efeito comparativo, a gestão anterior aplicou na área de investimentos R$ 98 bilhões em quatro anos. Para ao menos empatar esse desempenho, o governo Tarcísio precisa correr e executar R$ 31 bilhões até dezembro de 2026. Pelo ritmo atual, é uma meta improvável, e a realidade indica que essa linha de chegada dificilmente será cruzada.
Em obras, o governo Tarcísio de Freitas vai ainda pior. A gestão anterior investiu R$ 39 bilhões em quatro anos. Mesmo em um cenário otimista, Tarcísio deve chegar a cerca de R$ 35 bilhões até o fim do seu mandato, em dezembro de 2026. Isso representa aproximadamente 10% a menos na comparação com o seu antecessor. Menos obras significam menos empregos e estagnação no desenvolvimento regional.
Como se não bastasse a falta de ações concretas, o governo estadual ainda tenta capitalizar politicamente iniciativas que só saem do papel graças ao apoio decisivo do Governo Federal. É o caso de dois projetos frequentemente utilizados como vitrine pela atual gestão: o túnel Santos–Guarujá e o Trem Intercidades entre Campinas e São Paulo.
O túnel da Baixada Santista, orçado em R$ 6,8 bilhões, só se viabiliza porque há uma composição robusta de recursos. O Governo do Estado entra com R$ 2,5 bilhões, exatamente o mesmo valor aportado pelo Governo Federal, sob a gestão do presidente Lula. Ou seja, metade do investimento público é federal, enquanto o restante será bancado pela iniciativa privada, que ficará com a concessão. Vender essa obra como mérito exclusivo do governo Tarcísio é, no mínimo, desonesto.
O mesmo ocorre com o Trem Intercidades, estimado em R$ 14 bilhões. Nada menos que 45% desse montante será viabilizado pelo BNDES, banco público federal especializado em financiar projetos estruturantes de longo prazo, capazes de induzir desenvolvimento econômico e social. Sem esse suporte, o projeto simplesmente não se sustentaria. Ainda assim, o governo estadual tenta apagar o papel central da União nessa equação.
Esses “detalhes” raramente aparecem na propaganda oficial. Mas eles importam, e muito. Porque governar não é construir narrativas, é apresentar resultados concretos. São Paulo precisa de investimentos reais, obras executadas, planejamento estratégico e transparência. Não de marketing, nem de apropriação indevida do esforço alheio.
Em bom português, a verdade é que o governo Tarcísio fala muito e faz menos do que promete. E, quando faz, muitas vezes depende do apoio federal, que prefere esconder.
A população paulista merece mais do que slogans e discursos bem ensaiados. Merece um governo que assuma responsabilidades, invista de fato no futuro do Estado e tenha a coragem de dizer a verdade. Sem maquiagem, sem atalhos e sem propaganda enganosa.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.




