Carlos Carvalho avatar

Carlos Carvalho

Doutor em Linguística Aplicada e professor na Universidade Estadual do Ceará - UECE.

141 artigos

HOME > blog

Os cadáveres do governador

Os cadáveres do governador não são resultado de combate ao crime, mas uma ação política vergonhosa com o objetivo de atacar o Governo Federal

Corpos de mortos pela polícia em chacina no Rio de Janeiro - 29 de outubro de 2025 (Foto: REUTERS/Ricardo Moraes)

O poeta nos diz que “o pintor Paul Gauguin amou a luz da Baía de Guanabara” e que “o compositor Cole Porter adorou as luzes na noite dela”. Um tacanho senador da República, no entanto, sugeriu que um país estrangeiro bombardeasse a Baia de Guanabara. “O antropólogo Claude Lévi-Strauss detestou a Baía de Guanabara”. A questão é que Lévi-Strauss não era pago com dinheiro público e não havia sido eleito para defender seu povo e seu país. Um parlamentar sugerir que uma potência estrangeira deva explodir seu país é, no mínimo, um ato de traição à pátria. Mas vindo de quem vem, nada causa mais espanto aos que habitam os tristes trópicos. É a extrema direita brasileira esperneando, enquanto é engolida pelas próprias tramoias e crimes, muitos deles cometidos à luz do dia. 

Em desespero, a súcia da extrema direita não deseja apenas explodir a Baia de Guanabara, mas a qualquer custo, inviabilizar o país como um todo. A missão é difícil, tendo em vista o atual governo ter colocado o Brasil no centro das atenções mundiais e estar conduzindo a economia, com detida atenção, às pessoas que mais precisam do Estado brasileiro. Em outras palavras, o país segue seu rumo. Distante, no retrovisor, os fascistas que tentaram um golpe de estado vão sendo abandonados, condenados e, feito ratos, se devorando um a um. O atual presidente declarou que concorrerá ao seu quarto mandato e, sendo eleito, enterrará de vez a bandidagem que tramou contra a democracia brasileira, violou protocolos de saúde, perseguiu opositores e assassinou pelo menos 700 mil pessoas.  

A última opção da canalha do “quanto pior, melhor” era uma sonhada intervenção dos Estados Unidos no Brasil. Contudo, após conversas entre os dois presidentes as coisas parecem ter tomado um novo direcionamento e os vira-latas ficaram a ver navios. A Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas vem aí, quando os olhos do mundo estarão para o Brasil. O país saiu do mapa da fome, os pobres estão nas universidades e a meninada está na escola. Lula da Silva lidera todas as pesquisas de intenção de voto às eleições de 2026, devendo ser reeleito para o seu quarto mandato presidencial. Algo precisava ser feito. Então, “do nada” uma chacina: mais de 120 pessoas assassinadas no Rio de janeiro. Para o governador, a operação foi um verdadeiro “sucesso”. Ele sabe muito bem (ou deveria saber), que uma operação policial que assassina mais de 120 pessoas não tem nada de sucesso, não importando quem foi assassinado. É, ao contrário, a demonstração da truculência de um sistema de segurança completamente falido, incompetente e despreparado para combater a criminalidade, uma vez que quanto mais corpos estendidos no chão, maior incompetência governamental.

A população já sabe que os cadáveres do governador não são resultado de combate ao crime, mas uma ação política vergonhosa com o objetivo de atacar o Governo Federal e desconstruir tudo de positivo que este governo tem feito. Ou seja, a extrema direita, a mesma que já havia tentado explodir o aeroporto de Brasília, desceu ao nível mais baixo do crível. Em apoio ao colega que ordenou o massacre, todos os governadores bolsonaristas irão ao Rio demonstrar união. Esses mesmos senhores nunca se reuniram no Rio e em nenhum outro lugar do país para discutir melhorias para o povo brasileiro.  

O sangue dos 120 assassinados escorre das mãos e dos discursos dos senhores da guerra e do caos, resultado em mais uma tentativa de minar o Estado Democrático de Direito e ferir de morte a democracia brasileira. Como Lady Macbeth, poderão lavar as mãos inúmeras vezes, mas a culpa não pode ser lavada, e o sangue continuará lá para sempre. E se já não faltavam motivos para cassar e prender o governador do Rio de Janeiro, agora ele deu mais 120 motivos.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

Artigos Relacionados