Seleção joga bem, vence Senegal e estilo Ancelotti vai se consolidando
Neste momento, Neymar está cada vez mais distante da Copa de 2026, opina Ricardo Nêggo Tom
No jogo considerado o mais difícil sob o comando de Carlo Ancelotti, a seleção brasileira conquistou uma vitória convincente contra a boa seleção de Senegal, mostrando que o estilo do treinador italiano vem se consolidando no time. O esquema 4-2-4 que já havia sido utilizado na goleada sobre a Coreia do Sul por 5x0, voltou a funcionar bem, com destaque para a movimentação do quarteto ofensivo formado por Mateus Cunha, Estevão, Rodrygo e Vini JR, que deram trabalho para a defesa senegalesa. O volante Casemiro – autor do segundo gol do time - e o meia Bruno Guimarães, também tiveram uma atuação destacada sendo responsáveis pelo equilíbrio no setor de meio-campo, com chegadas surpresa na área adversária.
E foi numa dessas chegadas que Casemiro tentou uma tabela com Mateus Cunha, e a bola sobrou à feição para Estevão abrir o placar aos 27 minutos do primeiro tempo, marcando o seu quarto gol pela seleção e se firmando como o artilheiro do Brasil na era Ancelotti. O segundo gol saiu aos 35 minutos, após uma cobrança de falta ensaiada entre Estevão e Rodrygo, que encontrou Casemiro livre na área para tocar com categoria no canto do goleiro Mendy, que já tinha evitado um gol de Vini Jr com uma grande defesa. O Brasil ainda criou outras chances de gol no primeiro tempo, com Mateus Cunha acertando a trave por duas vezes e Rodrygo parando em mais uma defesa do goleiro Mendy, após jogada individual pela esquerda.
No segundo tempo o ritmo da seleção caiu um pouco, também pela melhor arrumação tática de Senegal, mas as oportunidades continuaram a ser criadas. Principalmente, com os avanços de Vini Jr pela esquerda que foi a principal válvula de escape do time na etapa final. Mateus Cunha - que a meu ver é a peça que deve ser substituída no quarteto - deu lugar a João Pedro, que não entrou muito bem no jogo. Eu teria testado Vitor Roque do Palmeiras como o homem mais de área do quadrado, por entender que ele tem as características ideais para o esquema que Ancelotti está implementando no time. Um esquema com quatro atacantes habilidosos, criativos, velozes, taticamente aplicados, mas que não são exímios finalizadores. Falta o especialista em fazer gol, e nesse momento, o atacante do Palmeiras é aquele que atravessa melhor fase para cumprir esta função.
Ainda sobre o ataque da seleção, é provável que Ancelotti já tenha os seus preferidos para a Copa do Mundo, mas acredito que o atacante Pedro do Flamengo ainda possa ganhar uma oportunidade antes da convocação final, por ser o melhor finalizador entre todos os atacantes brasileiros em atividade. Embora seu estilo de jogo não se encaixe muito com a movimentação proposta pelo italiano para o quarteto ofensivo. Richarlyson é outro jogador que vem sendo convocado e não consegue justificar a escolha de Ancelotti por seu nome. Em má fase desde o fim da Copa do Catar, e sem a menor condição de vestir a amarelinha neste momento, o atacante parece se manter no grupo graças a amizade com o técnico da seleção, que foi o seu primeiro treinador na Europa.
Na defesa, Éder Militão se destacou jogando pela lateral-direita, posição que ele conhece bem dos tempos de São Paulo, abrindo mais concorrência naquele setor que ainda tem Wesley da Roma – que entrou bem no segundo tempo no lugar de Gabriel Magalhães que saiu machucado – e o insosso Vanderson do Mônaco da França, presente em todas as convocações de Ancelotti até aqui. Danilo do Flamengo também está no grupo daqueles com chances de irem à copa. Embora seja reserva no time rubro-negro, o jogador é tipo por Ancelotti como polivalente, podendo jogar nas quatro posições da defesa e também como volante. Como zagueiro, a convocação de Danilo me agrada, uma vez que Gabriel Magalhães e Marquinhos – atual zaga considerada titular da seleção – não estão tecnicamente muito à frente de seus concorrentes. Alex Sandro do Lille é um nome que deveria ser utilizado com mais frequência, e Léo Ortiz do Flamengo merece mais oportunidades.
À medida que o trabalho de Ancelotti vai se consolidando, e o time vai se encaixando taticamente, o grupo dos 26 jogadores que irão à copa vai se definindo. Com isso, um nome está ficando cada vez mais distante da seleção: Neymar. Apesar do lobby de alguns ex-jogadores e de alguns nomes da crônica esportiva, o jogador do Santos não deve ser mais convocado por Ancelotti. Suas péssimas atuações no Campeonato Brasileiro, e suas agora polêmicas também dentro de campo – como a bronca dada por ele no zagueiro Zé Ivaldo do Santos, e a reclamação pela substituição no jogo contra o Flamengo – vão fazendo com que sua imagem dentro da seleção passe a ser vista como um fator de desagregação do ambiente. Neymar não é o mesmo que foi um dia, e a seleção de Ancelotti conseguiu se livrar da chamada “neymardependência” que um dia escravizou treinadores e mutilou a capacidade de rendimento de companheiros de time em função do seu talento.
Se for rebaixado com o Santos para a segunda divisão, Neymar pode dar início a um melancólico final de carreira. Pela seleção principal, apesar de recordista de gols com a camisa verde e amarela, Neymar nunca ganhou nada de relevante. Nas três copas que disputou, não foi decisivo e ainda virou chacota mundial por rolar infinitamente no chão após as faltas sofridas na copa de 2018. O talento indiscutível de Neymar com a bola nos pés só serviu a ele mesmo e ao seu ego. Coletivamente falando, ele nunca foi útil a seleção que sempre jogou em sua função durante o tempo em que ele foi o principal jogador do time. O currículo de Ancelotti como técnico é maior do que Neymar como jogador, e isso garante ao técnico italiano a tranquilidade de não ter que convocá-lo sem ser questionado. É muito precoce falar em conquista da copa, porque ainda não temos time para isso. Mas já estamos um pouco melhor do que estávamos. Se Neymar acabou, a seleção de Ancelotti está apenas começando.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.




