Tarcísio usa Orçamento como estratégia eleitoral
Peça aprovada para 2026 prioriza articulação política, amplia cortes sociais e fragiliza áreas como educação, habitação e políticas para mulheres
247 - O orçamento do Estado de São Paulo para 2026, elaborado pelo Governo Tarcísio de Freitas e aprovado semana passada pela Assembleia Legislativa, passou sem muito alarde. E eu digo isso com pesar. O orçamento não é apenas uma peça técnica. É a tradução mais objetiva das prioridades de um governo. E as prioridades de Tarcísio de Freitas estão longe de atender às necessidades reais da população paulista.
O que se impõe é uma lógica de austeridade seletiva. Enquanto áreas essenciais para a promoção da justiça social, da igualdade e do desenvolvimento humano sofrem cortes severos, estruturas diretamente ligadas ao controle político e à articulação do governo recebem aumentos generosos. Não se trata de coincidência, mas de estratégia.
A Casa Civil terá um aumento de 70,8% no orçamento de 2026 em relação a 2025. Já a Secretaria de Governo e Relações Institucionais, responsável pela articulação política e pelos convênios com prefeituras, terá um salto ainda mais escandaloso: 312,9%.
São números que falam por si. Investir pesado nessas áreas significa fortalecer a base aliada, ampliar o controle sobre os territórios e pavimentar o caminho para projetos eleitorais futuros. É o orçamento sendo usado como ferramenta de campanha antecipada, financiada com dinheiro público.
Enquanto isso, o Governo Tarcísio corta onde dói mais. A Secretaria de Políticas para a Mulher sofrerá uma redução brutal de 54,6% em seu orçamento. Em um Estado onde, neste ano, uma mulher foi assassinada a cada 35 horas, esse corte não é apenas irresponsável, é cruel.
O feminicídio avança e os casos de violência contra a mulher se multiplicam. A resposta da atual gestão, que caminha de mãos dadas com a extrema direita e seu discurso de estímulo à violência de gênero, é desmontar políticas públicas voltadas à prevenção, ao acolhimento e à proteção das mulheres. Ao definir suas prioridades para 2026, o Governo Tarcísio escolhe virar as costas para essa realidade.
A mesma lógica se repete em outras áreas estratégicas da administração estadual quando comparamos os orçamentos do Estado de 2025 e 2026. A Habitação perde 30,4% de recursos, o Meio Ambiente sofre um corte de 20,1%, Transportes Metropolitanos encolhe 12,1%, Esportes perde 35,1% e a Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência terá 8,4% a menos.
Em um estado marcado por desigualdades profundas, crise habitacional, colapso climático e dificuldades de mobilidade urbana, reduzir investimentos nessas áreas é aprofundar problemas graves, ampliar desigualdades e punir a população, em especial a periférica.
Mas talvez nada simbolize tão bem o projeto deste governo quanto o ataque à Educação. O orçamento de 2026 prevê cortes nos recursos para investimentos nas três universidades estaduais paulistas: Unesp, Unicamp e USP.
A Unesp perderá 68% da verba nesta área em relação a 2025; a Unicamp, 46%; e a USP, 30%. É um desmonte sem precedentes de um sistema que sempre foi orgulho de São Paulo e referência para o Brasil.
Esses cortes dialogam diretamente com a declaração recente do governador, de que “o diploma cada vez tem menos relevância”. Engana-se quem acredita nisso. Trata-se de uma afirmação de cunho elitista, propagada por quem defende a perpetuação da desigualdade.
Os ricos com acesso à educação superior de qualidade, que possibilita melhores salários, como comprovam diversas pesquisas; e os pobres, quando muito, ficam limitados a cursos técnicos, em geral, pior remunerados.
O problema está em um governo que perdeu qualquer compromisso com uma política educacional séria, inclusiva e transformadora. Em vez de ampliar o acesso ao ensino superior público, fortalecer a pesquisa e valorizar a ciência, prefere atacar as universidades e normalizar a precarização do ensino.
Para completar o cenário, o orçamento de 2026 já prevê um corte de 5% no repasse obrigatório para a Educação, outra iniciativa do Governo Tarcísio de Freitas que acabou sendo aprovada na Assembleia Legislativa há pouco mais de um ano.
Esses recursos poderiam ser destinados à recuperação de escolas estaduais sucateadas, à valorização dos profissionais da educação e a programas capazes de reverter a queda no desempenho dos estudantes. Nada disso parece prioridade para essa gestão.
O orçamento do Governo Tarcísio de Freitas para São Paulo revela, sem disfarces, um projeto de poder que olha para o calendário eleitoral e não para a realidade social. Um governo que concentra recursos em seu núcleo de poder político e esvazia políticas públicas essenciais. Um governo que escolhe a si mesmo em detrimento da vida, da educação, da moradia e da dignidade.
A história ensina que nenhum projeto eleitoral se justifica quando construído sobre o abandono social. Orçamentos passam, eleições vêm e vão, mas as consequências dessas escolhas recaem sobre milhões de paulistas.
São Paulo não precisa de um governo que trate o orçamento como palanque. Precisa de um governo que trate o orçamento como instrumento de justiça social, desenvolvimento e futuro. E isso, definitivamente, não está no horizonte do Governo Tarcísio para 2026.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.




