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Equidade impulsiona crescimento e precisa orientar políticas públicas, afirma ministra

Seminário em Brasília reforça que igualdade de gênero e raça é condição estratégica para o desenvolvimento do país

Márcia Lopes (Foto: Ministério das Mulheres)

247 - O debate sobre a presença das mulheres no mercado de trabalho ganhou novo impulso durante o seminário “Programa Pró-Equidade de Gênero e Raça: Mais mulheres na liderança, mais equidade nas empresas, mais igualdade no mundo do trabalho”, realizado nesta terça-feira (2) em Brasília. O encontro reuniu empresas públicas e privadas, órgãos do governo federal e organismos internacionais para discutir medidas que promovam inclusão e combatam desigualdades estruturais. A atividade foi promovida pelo Ministério das Mulheres e teve como foco ampliar a participação feminina — especialmente de mulheres negras — em espaços de decisão e em setores estratégicos da economia.

Logo na abertura do painel da tarde, a ministra das Mulheres, Márcia Lopes, apontou que as distorções salariais e a sub-representação feminina em cargos de comando seguem incompatíveis com um país que pretende crescer de forma justa. “As mulheres ganham, em média, 21,2% a menos do que os homens, e as mulheres negras 53,4% a menos. É uma situação inadmissível, incompreensível [...]. Equidade não pode ser retórica, é método; não é promessa, é política pública; não é custo, é uma estratégia de desenvolvimento”, afirmou.

A ministra defendeu que a luta por igualdade deve envolver todo o poder público e a sociedade, e lembrou que a raiz da desigualdade profissional está na divisão histórica do cuidado. “A desigualdade no trabalho tem uma raiz estrutural: a sobrecarga do cuidado, o cuidado que historicamente recai sobre as mulheres e limita a renda, a formação, a empregabilidade e a presença nos espaços de liderança”, ressaltou. Para ela, a regulamentação do Plano Nacional de Cuidados representa um marco ao organizar o cuidado como responsabilidade pública e permitir que mulheres possam desenvolver suas carreiras com condições reais de ascensão.

Estatais como referência e estímulo ao setor privado

A ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, enfatizou o papel das empresas estatais na promoção da diversidade. Ela observou que 27 das 44 estatais federais já participam do Programa Pró-Equidade. “Já é um número importante, mas ainda é pouco diante do que podemos fazer”, afirmou. Dweck lembrou ainda que a regulamentação da nova lei de licitações incluiu vantagem competitiva para empresas que implementam políticas efetivas de igualdade de gênero, além da lei que reserva 30% das vagas em conselhos de administração para mulheres.

Para acelerar mudanças, a ministra destacou ações voltadas à formação de lideranças, inclusive entre homens. Segundo ela, programas como o curso “liderança para os homens do século XXI” buscam “ensinar os homens o que é ser líder em um ambiente em que pessoas diversas possam prosperar”.

Autonomia econômica e o combate às violências de gênero

A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, reforçou que desigualdade no trabalho e violência de gênero estão diretamente conectadas. “Muitas vezes as mulheres se sujeitam a situações de violência por falta de autonomia financeira [...], presa em um relacionamento que começa a te matar antes mesmo de acontecer um feminicídio”, alertou. Ela destacou que ampliar a presença de mulheres em espaços de poder é essencial para transformar essa realidade. “Enquanto normalizarmos e naturalizarmos o ódio contra aquelas que mais sofram neste país, não teremos o projeto político de país no qual acreditamos”, afirmou.

O painel contou ainda com contribuições de representantes da ONU Mulheres, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da Hemobrás, do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e da Caixa Econômica Federal.

Trajetórias femininas e profissões historicamente masculinizadas

No período da manhã, dois painéis apresentaram relatos de mulheres que ocupam posições estratégicas e rompem barreiras em áreas dominadas por homens. No debate “A Trajetória de Mulheres em Cargos de Gestão”, mediado por Rosane Silva, da Secretaria Nacional de Autonomia Econômica e Política de Cuidados, executivas de instituições como ApexBrasil, Caixa Econômica Federal, Embrapa e Stellantis compartilharam suas experiências.

Rosane destacou que o avanço na equidade requer enfrentar desigualdades históricas. “Não é por acaso que hoje nós temos cerca de seis milhões de mulheres que vivem do trabalho doméstico remunerado. Muitas vezes, quando as mulheres entram no mercado de trabalho, principalmente as mulheres negras, o único lugar oferecido para elas é exatamente o trabalho doméstico”, afirmou. Ela defendeu que a presença de mulheres em todos os níveis das organizações é decisiva para promover mudanças estruturais.

O painel seguinte, “Lugar de Mulher é onde ela quiser!”, trouxe relatos de profissionais que atuam em áreas como a Marinha Mercante, a indústria naval, a imunologia e a montagem automotiva, mostrando o impacto de trajetórias que desafiam padrões e ampliam referências para outras trabalhadoras.

Programa Pró-Equidade completa duas décadas

Coordenado pelo Ministério das Mulheres, em parceria com o Ministério da Igualdade Racial, o Ministério do Trabalho e Emprego, a ONU Mulheres e a OIT, o Programa Pró-Equidade de Gênero e Raça chega à sua sétima edição. Em 20 anos, 246 organizações já aderiram à iniciativa. A edição atual, vigente até junho de 2026, conta com 88 empresas das cinco regiões do país, que juntas empregam cerca de 750 mil trabalhadores e movimentam aproximadamente R$ 800 bilhões.

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