Indústria do aço corta 5,1 mil empregos e reduz investimentos no país
Importações chinesas pressionam produção, paralisam usinas e derrubam resultados do setor
247 - A indústria siderúrgica instalada no Brasil reduziu 5.100 postos de trabalho e suspendeu R$ 2,5 bilhões em investimentos entre janeiro e novembro de 2025. No mesmo período, quatro alto-fornos, uma aciaria e cinco minimills foram paralisados, em um contexto de menor demanda pelo aço nacional e aumento das importações, especialmente de origem chinesa.
As informações foram divulgadas na terça-feira (16) pelo Instituto Aço Brasil, segundo reportagem da Folha de S.Paulo. A entidade não detalhou os dados por empresa, mas informou que o cenário levou à revisão das projeções de produção. A estimativa de queda na produção de aço bruto em 2025 passou de 0,8% para 2,2%.
De acordo com o instituto, a produção brasileira deve totalizar 33,1 milhões de toneladas ao fim do ano. Desse volume, 21,1 milhões de toneladas devem ser destinadas ao mercado interno e 10,2 milhões ao mercado externo, com aumento de 6,9% nas exportações em relação à projeção anterior.
As importações seguem em alta. A expectativa é de crescimento de 7,5% nas compras de aço bruto em relação a 2024 e de 20,5% nos aços laminados, principal insumo da construção civil e das indústrias automobilística e de máquinas. Apesar de inferiores às estimativas iniciais do setor, os percentuais continuam elevados, segundo o Instituto Aço Brasil.
Até novembro, o país importou 5,4 milhões de toneladas de aço laminado, ante uma média anual de 2,2 milhões entre 2000 e 2019. Do total importado em 2025, 64% tiveram origem na China. Além disso, outras 6,2 milhões de toneladas ingressaram no Brasil de forma indireta, incorporadas a produtos finais como eletrodomésticos, automóveis e equipamentos industriais.
O instituto atribui o aumento das importações ao que classifica como práticas de dumping. Dados da plataforma Platts apresentados pela entidade indicam queda no preço das bobinas a quente chinesas de US$ 560 por tonelada em janeiro de 2024 para US$ 454 em novembro de 2025, movimento que ocorreu simultaneamente à redução das margens das usinas chinesas.
No mercado interno, as siderúrgicas brasileiras reduziram preços para competir com o aço importado. Ainda assim, os resultados financeiros recuaram. No terceiro trimestre de 2025, o Ebitda das empresas do setor somou R$ 2,8 bilhões, quase metade do registrado no mesmo período do ano anterior. A margem Ebitda caiu de 12,9% para 7,7%.
Em maio, o governo federal renovou o sistema de cotas para 16 tipos de aço importado, sendo que 76% desses produtos eram provenientes da China. A medida é considerada insuficiente pelo setor, que agora defende o aumento das tarifas de importação, hoje entre 9% e 16% dentro das cotas e de 25% para volumes excedentes.
Outra frente de atuação envolve as tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos sobre o aço importado. Segundo o presidente executivo do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, a entidade espera que, com a melhora das relações bilaterais, o governo de Donald Trump, atual presidente dos Estados Unidos, restabeleça o sistema de cotas adotado em 2018. “Em 2018, o Trump fez rigorosamente a mesma coisa [...] e, no nosso entendimento, no exemplo de 2018, se for exitoso esse canal negocial, o acordo pode ser restabelecido e o Brasil forneceria a cota e, em vez de ser taxado em 50%, ficaria com 0%”, afirmou.



