Petrobras quer ampliar influência sobre a Braskem e reforçar sinergias estratégicas, afirma Magda Chambriard
Presidente da estatal diz que novo acordo de acionistas deve refletir maior poder de decisão da Petrobras na petroquímica
247 – A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, afirmou que a estatal busca ampliar seu poder de decisão sobre as operações da Braskem, em meio ao processo de reestruturação societária da maior petroquímica da América Latina. A declaração foi dada em entrevista ao videocast C-Level Entrevista, da Folha de S.Paulo, publicada nesta semana, na qual a executiva detalha os planos da companhia para aprofundar a integração entre as duas empresas.
Segundo Magda, a estratégia da Petrobras é reforçar as sinergias industriais e energéticas com a Braskem, especialmente diante da saída da Novonor (ex-Odebrecht) do bloco de controle. Pelo contrato de negociação firmado recentemente, a participação antes detida pela Novonor será transferida a um fundo assessorado pela gestora IG4, que passará a concentrar 50,1% das ações com direito a voto, enquanto a Petrobras permanecerá como acionista minoritária.
“A Petrobras quer mais poder sobre a operação dessa companhia”, afirmou Magda. “A Braskem é uma petroquímica brasileira que hoje é a sexta maior do mundo e tem tudo a ver com a Petrobras.”
Sinergias como eixo central da estratégia
De acordo com a presidente da estatal, a avaliação interna é de que a administração recente da Braskem não explorou plenamente as possibilidades de integração com o sistema Petrobras. A intenção agora é mudar esse cenário por meio do novo acordo de acionistas.
“A administração recente da Braskem, segundo nosso ponto de vista, não exacerbou como poderia as sinergias com o sistema Petrobras. Qual é a nossa ideia? Exacerbar essas sinergias”, disse.
Magda citou como exemplo a nova unidade da Braskem em construção no Complexo de Energias Boaventura, no Rio de Janeiro, ao lado da produção de petróleo e de uma Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN) abastecida com gás do pré-sal.
“Será uma petroquímica moderníssima do lado da produção de petróleo, com o gás chegando na minha UPGN. Gás do pré-sal, de cara para um mercado consumidor gigantesco. Você imagina que oportunidade é essa?”
Acordo de acionistas ainda em negociação
Questionada sobre como essa maior influência da Petrobras será formalizada, Magda afirmou que o novo acordo de acionistas ainda está em elaboração e que detalhes não podem ser antecipados.
“A gente ainda está desenhando um acordo de acionistas. Eu posso dizer que já está até um pouco adiantado, mas ele ainda não está concluso, então qualquer coisa que eu disser agora é no mínimo prematuro.”
Transição energética e horizonte de longo prazo
Na entrevista à Folha, Magda Chambriard também abordou o debate global sobre o fim dos combustíveis fósseis, tema que ganha força no contexto da COP30. Ela afirmou que a Petrobras participará ativamente da construção do chamado “mapa do caminho” para a transição energética, alinhada às diretrizes do governo federal.
“A Petrobras é uma estatal alinhada com as diretrizes do governo federal. Afinal, nosso principal stakeholder é o governo.”
Segundo a executiva, a empresa trabalha com o horizonte de 2050 para atingir o net zero, mas sem rupturas abruptas.
“Creio que sim [a Petrobras vai deixar o petróleo], mas acho que ainda vai ter tempo para fazer isso. O mundo consome 85% de energia fóssil. A gente não dá um cavalo de pau em transatlântico.”
No curto e médio prazo, o foco seguirá sendo a produção de combustíveis com maior teor de renováveis.
“Vamos estar com foco primordialmente na molécula nos próximos dez anos. Em etanol, diesel coprocessado, SAF, bunker com 24% de renovável.”
Investimentos em novas energias e pesquisa
Magda explicou que, paralelamente, a Petrobras pretende destinar mais de um terço dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento do seu centro de pesquisas para projetos em eletricidade, como solar, eólica, hidrogênio e captura de carbono.
“Esses projetos ainda são caros. O nosso desafio é investir em pesquisa e desenvolvimento para que eles se tornem aceitáveis para o bolso do brasileiro.”
Interesse em ativos da Cosan e limites regulatórios
A presidente da Petrobras também comentou a possibilidade de avaliar ativos do grupo Cosan, que enfrenta elevado nível de endividamento, embora tenha ressaltado limitações contratuais.
“Eu considero todas as oportunidades que se apresentam no Brasil. Por que não? Esse é o nosso mercado.”
Ela lembrou, no entanto, que há cláusulas de non-compete que impedem a atuação da Petrobras em distribuição até 2029.
Gás natural, Margem Equatorial e governança
Sobre o uso do gás natural na indústria, Magda afirmou que o interesse econômico da Petrobras é colocar o máximo possível de gás no mercado, sempre que houver infraestrutura disponível.
“Quando a gente produz gás e vende o gás, a gente bota dinheiro no bolso. Quando a gente reinjeta um gás que não é necessário para a produção, a gente tira dinheiro do nosso bolso.”
A executiva também atualizou o cronograma da perfuração na Margem Equatorial.
“A perfuração está andando e acontecendo dentro do planejado. Está programado para março saber se a gente está chegando lá e se vamos ter ou não uma descoberta.”
No campo da governança, Magda destacou mudanças nos modelos de contratação para evitar problemas do passado, citando como exemplo a retomada das obras da Refinaria Abreu e Lima.
“Em vez de dividir em três partes, dividimos em sete partes. Isso expande muito as empresas que podem participar da concorrência e garante uma licitação muito mais transparente.”
Preços dos combustíveis e privatização
Ao ser questionada sobre pressões políticas por redução de preços em ano eleitoral, a presidente da Petrobras classificou esse debate como distorcido.
“Essa pressão sobre a Petrobras para reduzir preços com o objetivo de atender ao consumidor final é fake news.”
Segundo ela, após a política de “abrasileirar” os preços, os combustíveis ficaram significativamente mais baratos em termos reais.
“Considerando a inflação, temos diesel 35% mais barato do que em dezembro de 2022, gasolina 22,5% mais barata.”
Sobre privatizações, Magda foi categórica ao defender a manutenção da Petrobras sob controle estatal.
“Quando a gente tem uma empresa que é a maior do país, bem administrada, entregando resultado, vender para quê? Seria um crime de lesa pátria vender uma empresa que é a melhor do país.”



