HOME > Brasil

PF investiga venda de títulos do Master a fundos públicos e pode atingir o Centrão

Operações com letras financeiras sem proteção do FGC envolveram bilhões de reais e atingem fundos de estados e municípios

Banco Master (Foto: Divulgação)

247 - A Polícia Federal prepara novas diligências para aprofundar as circunstâncias das operações bilionárias do banco Master com fundos de previdência estaduais e municipais. 

Segundo Malu Gaspar, do jornal O Globo, a ampliação das investigações ocorre após a prisão do CEO do Master, Daniel Vorcaro, e de executivos da instituição por supostas fraudes envolvendo a venda de créditos ao BRB. A PF agora mira especialmente a comercialização de letras financeiras sem cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), que renderam ao menos R$ 1,867 bilhão ao banco.

Esses títulos, considerados de risco elevado, foram oferecidos a fundos de pensão de diversos governos locais. Com a liquidação extrajudicial do Master determinada pelo Banco Central, o FGC precisará realizar o maior resgate de sua história para garantir o limite legal de até R$ 250 mil por pessoa ou empresa — montante que não se aplica às letras financeiras adquiridas por entes públicos. Essas operações prometiam rendimentos superiores ao CDI e já haviam sido classificadas como excessivamente arriscadas pela Caixa Econômica Federal em 2024.

Um levantamento citado pela reportagem mostra que metade de toda a arrecadação do Master com esses papéis — cerca de R$ 970 milhões — veio da venda ao Rioprevidência. Outros entes também adquiriram volumes expressivos: os governos do Amapá e do Amazonas, e a prefeitura de Maceió, todos administrados por grupos políticos ligados ao Centrão. No Rio, fontes do setor previdenciário relatam que o fundo estadual é historicamente influenciado pelo União Brasil, partido comandado por Antonio Rueda.

O alcance político das operações se estende por diferentes administrações. A Cedae, também sob influência do União Brasil, adquiriu outros R$ 200 milhões em títulos do banco. Rueda, dirigente partidário com forte atuação no governo do Rio, mantém relação próxima com Daniel Vorcaro e teria atuado nos bastidores para facilitar a tentativa de compra do Master pelo BRB, anunciada em março.

No fim de 2024, o Tribunal de Contas do Estado do Rio (TCE-RJ) já havia apontado suspeitas de irregularidades nessas aplicações e recomendou ao Rioprevidência a suspensão imediata de novos investimentos no Master e em outras instituições que não garantissem padrões mínimos de segurança e prudência financeira.

O Amapá aparece como o segundo maior investidor nas letras financeiras do banco. Embora governado pelo Solidariedade, o fundo de previdência estadual é influenciado por lideranças do União Brasil, entre elas o presidente do Senado, Davi Alcolumbre. Já o Amazonas, outro estado sob comando do partido, destinou R$ 50 milhões às aplicações. Juntos, os fundos ligados a Rueda movimentaram quase R$ 1,5 bilhão no Master. Em Maceió, o Instituto de Previdência dos Servidores do Município aplicou R$ 117,9 milhões, em meio ao apoio do União à reeleição do prefeito João Henrique Caldas (PL), o JHC.

Em alguns casos, as negociações não foram feitas diretamente pelo Master. A corretora Planner intermediou a venda de R$ 510 milhões em títulos ao Rioprevidência. A empresa já foi investigada em diferentes operações, entre elas a Greenfield, que apurou desvios em fundos de pensão federais. Um dos acusados nesses processos, o sócio Maurício Quadrado, tornou-se posteriormente sócio do Master. Ele chegou a anunciar sua saída do banco em setembro, mas a saída ainda não se concretizou.

Quadrado foi citado em 2018 na delação de Roberto Madoglio, ex-superintendente da Caixa, que afirmou ter recebido uma propina de R$ 8 milhões para direcionar recursos do FI-FGTS a empresas da Odebrecht. No acordo de colaboração, Madoglio comprometeu-se a devolver R$ 39,2 milhões obtidos em subornos. A conexão desses fatos levou a Caixa a rejeitar uma operação de R$ 500 milhões em letras financeiras do Master, classificada como arriscada pelos seus gerentes. Após assinarem parecer contrário, eles acabaram destituídos, e a transação foi interrompida após a repercussão pública.

A busca de recursos por parte do Master intensificou-se no fim de 2023, quando o Banco Central editou novas regras exigindo que instituições financeiras diversificassem as fontes de capital além de precatórios e CDBs. A medida deu dois anos para adaptação, e o banco passou a mobilizar contatos políticos e institucionais para ampliar as vendas de letras financeiras. Fundos federais, contudo, estavam impedidos de adquirir esse tipo de ativo desde as fraudes reveladas pela operação Greenfield, que resultaram em perdas bilionárias para Petros, Postalis e Funcef, ainda cobertas pelos próprios aposentados.

No caso dos fundos estaduais e municipais, sem a proteção do FGC e diante da liquidação do Master, o cenário futuro permanece incerto. As autoridades aguardam o avanço das investigações para dimensionar o impacto financeiro e político das operações.

Artigos Relacionados