HOME > Brasil

PF sugere dobrar efetivo e aumentar orçamento em 38%

O diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, falou na CPI do Crime Organizado

Andrei Rodrigues Foto: Andressa Anholete/Agência Senado (Foto: Andressa Anholete)

247 - A primeira sessão da CPI do Crime Organizado no Senado foi marcada por um apelo direto do diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, por mais recursos e maior capacidade operacional. No encontro, ele pediu que o Congresso aprove um aumento de 38% no orçamento da instituição para o próximo ano e defendeu a ampliação do quadro de servidores. As informações são da Agência Brasil.

No início da oitiva, Rodrigues reiterou ao colegiado — conforme noticiado pela Agência Brasil — que os atuais R$ 1,8 bilhão disponíveis em 2023 são insuficientes para enfrentar o avanço das facções. “Tudo que a polícia tem de recurso é R$ 1,8 bilhão [no ano de 2023], e eu entendo, e já fiz esse apelo para que, na LOA que está aqui, sob apreciação desta Casa, nós tenhamos um aumento desse valor para, ao menos, R$ 2,5 bilhões, para que a gente tenha melhores condições de fazer [o combate às facções]”, afirmou.

Ampliação das FICCOs e críticas ao PL Antifacção

O diretor-geral explicou que a ampliação orçamentária permitirá fortalecer as FICCOs, forças integradas que reúnem PF e órgãos estaduais no enfrentamento a facções, milícias e outras organizações criminosas. A CPI foi criada após a repercussão da operação policial no Rio de Janeiro contra o Comando Vermelho, que resultou na morte de 121 pessoas.

Andrei Rodrigues também criticou trechos do PL Antifacção em análise na Câmara dos Deputados, especialmente pontos que retiram recursos de fundos federais destinados à segurança. “Há a retirada de recursos dos fundos federais, inclusive do Funapol, que é um fundo da Polícia Federal, mas também do Fundo de Segurança Pública, do Fundo Antidrogas. E, de fato, isso traria um prejuízo, uma redução de recursos para a PF, quando a gente busca o contrário, a gente busca a ampliação do orçamento da PF nesse contexto”, alertou.

Segundo ele, o texto atual cria conflitos com normas já existentes e pode resultar em entraves judiciais. “Pode trazer uma grande confusão processual, nulidades, trocas de foro, de competência, enfim, toda a sorte de prejuízos ao invés de ganhos para o sistema investigatório”, afirmou.

Efetivo insuficiente e necessidade de expansão

Rodrigues chamou atenção para o tamanho do efetivo da PF, que considera aquém das necessidades do país. Atualmente, a instituição conta com 13 mil policiais, além de 2 mil servidores administrativos. Já há previsão de incorporação de mais 2 mil policiais aprovados em concurso realizado em julho, mas, para o diretor-geral, isso não basta.

“Estimo que nós precisaríamos, para atender todas as demandas — aí pensando aqui a médio e longo prazos — ter o dobro desse efetivo para que a gente consiga, de fato, atender com ainda mais eficiência tudo aquilo que a gente faz”, disse.

Ele lembrou que, além da investigação criminal, a PF atua na emissão de passaportes, controle de imigração, fiscalização de armas, produtos químicos, fronteiras, portos e aeroportos. “Só no ano passado, foram 40 milhões de movimentos migratórios no país inteiro”, registrou.

Apreensão recorde de patrimônio do crime organizado

Respondendo ao relator da CPI, senador Alessandro Vieira (MDB-SE), o diretor-geral ressaltou que a descapitalização das facções deve ser um dos pilares do enfrentamento. “A cada investigação que a Polícia Federal faz, por exemplo, contra o tráfico de drogas, em paralelo ou concomitantemente, nós abrimos uma investigação patrimonial, para que também seja atacado o poder econômico”, explicou.

Segundo ele, os resultados são crescentes: foram R$ 1 bilhão apreendidos em 2022, R$ 3 bilhões em 2023 e R$ 6,4 bilhões em 2024. “Nós devemos chegar a cerca de R$ 9 bilhões efetivamente apreendidos [em 2025]. Não é bloqueio de contas em que nunca vai surgir o dinheiro. Isso é dinheiro, são imóveis, são veículos, aeronaves e embarcações efetivamente apreendidos”, disse. Apenas a Operação Carbono Oculto, voltada à lavagem de dinheiro ligada ao PCC, somou quase R$ 4 bilhões.

Integração entre forças policiais e avanço da economia digital

Rodrigues comentou ainda sobre a integração já existente entre PF e polícias estaduais, sobretudo nas FICCOs, mas afirmou que há margem para aprimoramento. Em sua avaliação, a PEC da Segurança deve fortalecer esse processo ao ampliar a responsabilidade da União na coordenação das ações. “[A PEC da Segurança] vai permitir uma coordenação maior, vai permitir uma responsabilidade maior da União — e, portanto, da Polícia Federal — nesse enfrentamento à segurança”, declarou.

Ele também destacou o desafio que a economia digital representa para a investigação criminal. Fintechs, criptomoedas e outros mecanismos financeiros descentralizados facilitam transações ilícitas. “Precisamos sair daquele momento da economia tangível para o hoje, essa economia fluida, essa economia digital. E nós, muitas vezes, Estado, ainda estamos num momento analógico, enquanto o crime está num passo digital. Então, é importante esse avanço de todas as instituições para fazer esse enfrentamento”, completou.

Artigos Relacionados