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Preocupação com segurança dispara após chacina policial no Rio, diz pesquisa

Crime e violência lideram inquietações nacionais e alcançam maior nível desde 2018, segundo pesquisa do instituto Ipsos

Dezenas de corpos são trazidos por moradores para a Praça São Lucas, na Penha, zona norte do Rio de Janeiro. Foto: Tomaz Silva /Agência Brasil (Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)

247 - A escalada da violência no Rio de Janeiro voltou a colocar a segurança pública no centro das atenções no país. Após a megaoperação policial  de 28 de outubro contra o Comando Vermelho, considerada a mais letal da história brasileira, o tema registrou forte avanço entre as principais preocupações da população.De acordo com O Globo, dados da pesquisa “What worries the world”, do instituto Ipsos, crime e violência atingiram 52% das menções no Brasil, um aumento de 12 pontos percentuais em relação a outubro.

Impacto direto da megaoperação na percepção de risco

A ação policial, que mobilizou forças federais, resultou no fechamento de vias, deixou mais de 120 mortos na Zona Norte do Rio e repercutiu amplamente na imprensa. Para o CEO da Ipsos, Marcos Calliari, o episódio ampliou de maneira significativa a sensação de urgência diante do cenário de confrontos no estado. 

“A operação expôs de maneira explícita a escalada dos confrontos entre facções e grupos paramilitares no estado. A dimensão da ação, com mobilização de forças federais, alto número de fatalidades, fechamento de vias e repercussão contínua na imprensa, amplificou a sensação de urgência e risco, ajudando a explicar a disparada da preocupação com violência neste mês. Esse tipo de operação, pela sua dimensão e pela narrativa de confronto, tende a amplificar a sensação de urgência e de risco”, afirmou.

Segundo o instituto, produções nacionais de streaming que abordam criminalidade também contribuíram para manter o tema em evidência e estimular debates nas redes sociais.

Direita intensifica discurso de endurecimento

A direita no Congresso aproveitou o cenário para defender políticas mais rígidas de segurança. Em novembro, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e os deputados Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Nikolas Ferreira (PL-MG) viajaram a El Salvador, onde elogiaram o modelo de combate ao crime organizado adotado pelo presidente Nayib Bukele.

Paralelamente, o chamado PL antifacção ganhou força e pode ser votado ainda nesta semana, em meio à pressão dos Estados Unidos para que organizações criminosas brasileiras sejam enquadradas como terroristas.

Outras preocupações nacionais em movimento

Depois da segurança, pobreza e desigualdade social aparecem em segundo lugar no ranking das inquietações, somando 38% — avanço de cinco pontos percentuais em relação ao mês anterior. Em terceiro lugar está a saúde, com 36%, impulsionada pela visibilidade de campanhas recentes como Setembro Amarelo, Outubro Rosa e Novembro Azul.

A preocupação com corrupção financeira e política caiu para 34%, uma redução de cinco pontos percentuais. Calliari avalia que o movimento pode refletir momentânea trégua nas manchetes, mas lembra que episódios recentes ainda podem alterar esse quadro. “Há uma hipótese de que escândalos recentes, como Banco Master e Grupo Fit, por exemplo, possam provocar o crescimento dessa preocupação, o que confirmaremos na próxima onda do estudo”, afirmou.

A carga tributária também perdeu espaço, recuando para 25% das menções. Para os pesquisadores, o arrefecimento pode estar relacionado à diminuição das discussões sobre reformas fiscais no noticiário, apesar de debates persistirem sobre justiça tributária e possíveis ajustes no Imposto de Renda.

Como o estudo foi conduzido

A pesquisa “What worries the world” foi aplicada on-line entre 24 de outubro e 7 de novembro, reunindo respostas de 25.143 participantes de 30 países. No Brasil, cerca de mil pessoas entre 16 e 74 anos participaram do levantamento. O instituto ressalta que a amostra brasileira representa um público mais conectado, predominantemente urbano e com renda e escolaridade acima da média nacional.

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