Rumo enfrenta travessia desafiadora, mas BTG mantém recomendação de compra
Relatório aponta pressão de preços, ajuste de projeções e potencial de valorização da operadora ferroviária
247 - A Rumo, maior operadora independente de ferrovias da América Latina, atravessa um período de transição marcado por desafios operacionais e mudanças no ambiente do agronegócio, mas segue com perspectivas consideradas atrativas no médio e no longo prazos. Apesar do desempenho negativo das ações ao longo de 2025, analistas apontam que a companhia mantém fundamentos sólidos e capacidade de reduzir a percepção de risco à medida que avança em eficiência operacional e disciplina na alocação de capital.
A avaliação consta de um relatório divulgado na segunda-feira (22) pelo BTG Pactual, que atualizou suas projeções para a empresa após a divulgação dos resultados do terceiro trimestre e recentes alterações na estrutura acionária. O banco reiterou a recomendação de compra dos papéis da Rumo e manteve o preço-alvo em R$ 23, indicando potencial relevante de valorização frente aos níveis atuais de mercado.
Segundo o BTG, o desempenho mais fraco das ações neste ano está associado sobretudo a fatores de curto prazo, como a queda das tarifas e o aumento da atenção do mercado à dinâmica de preços. Embora detenha posição dominante no transporte ferroviário, a Rumo concorre diretamente com o modal rodoviário no escoamento de grãos, o que a expõe a maior volatilidade de receitas. Ainda assim, os analistas avaliam que essa característica já foi amplamente incorporada ao valor de mercado da companhia.
No terceiro trimestre, a empresa apresentou volumes robustos, o que ajudou a compensar um ambiente de preços mais pressionado. O relatório destaca que a manutenção das margens, mesmo diante desse cenário, reflete ganhos de eficiência e controle de custos, considerados fatores centrais para a tese de investimento. Para 2025, a projeção de receita foi revisada para R$ 13,7 bilhões, enquanto o EBITDA deve se situar próximo ao piso do guidance anual, em torno de R$ 8,1 bilhões.
O documento também analisa o contexto do agronegócio, com foco no Mato Grosso, principal área de atuação da Rumo. As estimativas mais recentes da Companhia Nacional de Abastecimento indicam produção total de grãos de 354,4 milhões de toneladas na safra 2025/26, sustentada pelo aumento da área plantada. Ao mesmo tempo, o avanço do uso do milho para produção de etanol tende a elevar o consumo doméstico, o que pode, no longo prazo, afetar a disponibilidade de volumes destinados à exportação.
Outro ponto abordado é a operação realizada pela Cosan, controladora da Rumo, que vendeu parte de sua participação por meio de um instrumento financeiro que preserva sua exposição econômica às ações. De acordo com o BTG, a transação teve como foco a eficiência do balanço da holding e não representa uma mudança estratégica ou redução do controle sobre a operadora ferroviária.
No campo regulatório, o relatório chama atenção para a proximidade do vencimento das concessões da Malha Oeste, em junho de 2026, e da Malha Sul, em fevereiro de 2027. Para a Malha Oeste, a expectativa é de devolução do ativo ao poder concedente, enquanto a Malha Sul, considerada mais relevante em termos de volume, tende a passar por um processo de renovação contratual. A Rumo já mantém provisões significativas relacionadas a esses ativos, o que contribui para mitigar riscos adicionais.
Apesar de um cenário mais desafiador no curto prazo, o BTG avalia que a Rumo permanece bem posicionada como um ativo estratégico de infraestrutura logística no Brasil. Investimentos em expansão de capacidade, especialmente no Porto de Santos, aliados a ganhos estruturais de eficiência, sustentam a visão de que o atual patamar de valuation não reflete plenamente o potencial da companhia.



