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Vorcaro, do Master, teve reunião com diretor do BC horas antes de ser preso

Encontro virtual contou com a participação de Ailton de Aquino e Belline Santana

Sede do Banco Central, em Brasília 22/02/2022 REUTERS/Adriano Machado (Foto: ADRIANO MACHADO)

247 - Poucas horas antes de ser preso pela Polícia Federal no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em 17 de novembro, o empresário Daniel Vorcaro, proprietário do Banco Master, participou de uma reunião virtual com integrantes da cúpula de fiscalização do Banco Central. O encontro ocorreu no mesmo dia da detenção, em meio a um contexto de forte pressão sobre a instituição financeira.

As informações foram reveladas pela CNN Brasil, que apurou que a videoconferência aconteceu entre 13h30 e 14h10 e contou com a presença de Ailton de Aquino, diretor de Fiscalização do Banco Central, além de Belline Santana, chefe do Departamento de Supervisão Bancária, e Paulo Sérgio Neves de Souza, chefe adjunto do mesmo departamento.

Daniel Vorcaro foi preso por volta das 22h, no âmbito da Operação Compliance Zero, deflagrada para investigar a emissão de títulos de crédito falsos por instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional. A Polícia Federal justificou a prisão preventiva pelo risco de fuga, já que o banqueiro tinha passagem marcada para Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.

Segundo a apuração, a viagem tinha como objetivo avançar em negociações para a venda do Banco Master a um consórcio formado pela Fictor Holding Financeira e investidores dos Emirados Árabes Unidos. A defesa de Vorcaro sustenta que ele também mantinha tratativas com a Mastercard Brasil para redefinir condições contratuais que permitissem a liberação de crédito. O objetivo seria obter recursos suficientes para cumprir as grades de liquidação do arranjo de pagamentos até a conclusão da venda da instituição.

Procurado pela CNN, o Banco Central informou que não comentaria o conteúdo da reunião virtual. No entanto, no dia seguinte ao encontro, a autoridade monetária decretou a liquidação extrajudicial do Banco Master. A medida determina a interrupção das atividades do banco e sua retirada ordenada do Sistema Financeiro Nacional, o que inviabiliza o avanço do acordo de venda ao Grupo Fictor.

A liquidação extrajudicial é adotada em casos considerados extremos, como insolvência irreversível ou infrações graves às normas do sistema financeiro. O que chamou a atenção neste episódio foi a decisão do Banco Central de avançar diretamente para a liquidação, sem a adoção prévia de medidas cautelares, prática que historicamente costuma anteceder esse tipo de desfecho. De acordo com a defesa, o Banco Central tinha conhecimento tanto das negociações de venda quanto da viagem de Vorcaro a Dubai.

No desdobramento do caso, a Polícia Federal colhe nesta terça-feira (30) depoimentos, de forma separada e por videoconferência, de Daniel Vorcaro, do ex-presidente do BRB Paulo Henrique Costa e de Ailton de Aquino. A oitiva foi determinada pelo ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, relator do caso. Caso sejam identificadas contradições entre os relatos, a delegada responsável poderá conduzir uma acareação conjunta em sessão virtual.

O procedimento foi mantido apesar de um parecer contrário da Procuradoria-Geral da República e de um pedido do próprio Banco Central para evitar o confronto entre os envolvidos. Ambos foram negados por Toffoli. Ao rejeitar a suspensão da acareação, o ministro afirmou que nem o Banco Central nem Ailton de Aquino são investigados, mas que a participação da autoridade monetária é “salutar” e “de especial relevância para o esclarecimento dos fatos”.

Segundo apuração da CNN Brasil, as diligências determinadas por Dias Toffoli no inquérito que apura as fraudes envolvendo o Banco Master expõem, nos bastidores do Supremo, um procedimento considerado atípico no acompanhamento do caso.

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