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Weverton Rocha se reuniu com Careca do INSS em churrasco em Brasília

Senador admite reuniões com Antônio Carlos Antunes, o Careca do INSS, em encontros no Senado e em churrasco em Brasília

Senador Weverton Rocha (PDT-MA) (Foto: Evandro Macedo/LIDE)

247 - O senador Weverton Rocha (PDT-MA) confirmou que manteve encontros com o empresário Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, personagem central do escândalo envolvendo fraudes em descontos indevidos de aposentadorias e pensões. As reuniões ocorreram no Senado Federal e também na residência do parlamentar, em Brasília, durante um churrasco do tipo “costelão”.

As informações foram reveladas em reportagem publicada pelo jornal O Globo, divulgada nesta quinta-feira, no mesmo dia em que a Polícia Federal realizou buscas e apreensões tendo Weverton como alvo. O senador, no entanto, não é investigado no inquérito que apura o esquema bilionário envolvendo o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

Aliado do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), Weverton é uma figura influente no Congresso e ocupa a função de vice-líder do governo no Senado. Pessoas próximas ao parlamentar e a própria assessoria confirmaram os encontros com Antunes, que circulava com frequência em ambientes políticos de Brasília antes de se tornar alvo da investigação.

Em nota enviada ao O Globo, Weverton relatou como conheceu o empresário. “Conheci Antônio Carlos Camilo Antunes em um costelão na minha casa, para a qual ele foi levado por um convidado. Na ocasião, ele se apresentou como empresário do setor farmacêutico”, afirmou o senador. Segundo ele, o encontro teve caráter social e não envolveu tratativas irregulares.

O parlamentar também admitiu que recebeu Antunes em seu gabinete no Senado ao menos três vezes. De acordo com Weverton, as reuniões tiveram como foco a discussão de um tema específico da agenda legislativa. Ele afirmou que os encontros ocorreram “para tratar da pauta legislativa de legalização da importação de produtos à base de cannabis para fins medicinais”.

Procurado por meio de seu advogado, Antônio Carlos Antunes não se manifestou sobre os encontros com o senador. O empresário ganhou notoriedade após se tornar uma das figuras centrais da investigação da Polícia Federal sobre descontos indevidos aplicados em benefícios previdenciários, um esquema que, segundo estimativas do governo, pode ter atingido cerca de quatro milhões de aposentados e pensionistas, com prejuízo estimado em R$ 6 bilhões.

De acordo com a Polícia Federal, Antunes é “sócio de uma miríade de empresas” atuantes em diferentes setores. A investigação aponta que pessoas físicas e jurídicas ligadas a ele receberam R$ 53,5 milhões provenientes de entidades sindicais e empresas relacionadas a associações envolvidas no esquema. O empresário também é proprietário de uma frota de oito carros de luxo e de imóveis em São Paulo e em Brasília, incluindo uma casa no Lago Sul adquirida à vista por R$ 3,3 milhões, conforme documentos da apuração.

Ainda segundo a PF, Antunes consta como representante legal de uma empresa sediada nas Ilhas Virgens Britânicas. Em relatório, os investigadores afirmaram: “Trata-se, possivelmente, de uma offshore constituída por Antônio Carlos, a fim de blindar o patrimônio ilegítimo amealhado”. Ex-advogados do empresário, que deixaram a defesa recentemente, sustentam que ele é inocente. “A defesa confia plenamente na apuração dos elementos constantes nos autos e na atuação das instituições do Estado Democrático de Direito. Ao longo do processo, a inocência de Antonio será devidamente comprovada”, disseram em nota.

Além da relação com o Careca do INSS, a reportagem também aponta que Weverton manteve contato com o ex-diretor de Benefícios do INSS André Fidélis, outro nome citado pela Polícia Federal como relevante no suposto esquema. À época, Fidélis buscava apoio no Congresso para assumir um cargo na cúpula do instituto.

O senador afirmou que apoiou Fidélis por critérios técnicos. “Fiz o apoiamento do André Fidélis por ser um funcionário de carreira, que chegou a mim com um ótimo currículo dentro da Previdência”, declarou. Fidélis foi afastado do cargo no ano passado, após o surgimento das primeiras suspeitas sobre os descontos indevidos.

Segundo a investigação, pessoas e empresas ligadas a Fidélis teriam recebido R$ 5,1 milhões de intermediárias associadas às entidades investigadas. Procurado, o ex-diretor negou ter sido indicado politicamente por Weverton e explicou como seu nome chegou ao então ministro Carlos Lupi. “Os superintendentes têm muita experiência e normalmente, são escolhidos para assumir a diretoria. E o foco era acabar com a fila. Quando Lupi assumiu, fui escolhido entre os superintendentes para fazer uma apresentação de como acabar com a fila e Lupi gostou”, afirmou.

A Polícia Federal também aponta que a ligação entre Fidélis e o Careca do INSS ocorreria por meio de Eric Fidélis, filho do ex-diretor e advogado. A apuração identificou que pelo menos R$ 1,5 milhão foi transferido para contas do escritório de Eric, que nega irregularidades. Segundo a PF, os valores teriam como destinatário final o ex-diretor do INSS. “Esse movimento, somado às ligações com as entidades associativas, ‘reforça as suspeitas de irregularidades financeiras e desvios de dinheiro’”, conclui o relatório policial.

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