Indígenas Munduruku são recebidos por presidente da COP após protestos
Lideranças cobram revisão de decreto sobre hidrovias e criticam avanço de projetos que afetam o território indígena
247 - Lideranças Munduruku se reuniram na manhã desta sexta-feira (14), em Belém, com o presidente da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), André Corrêa do Lago, após realizarem um protesto pacífico na entrada principal do evento. A mobilização causou apenas atraso na entrada de participantes, sem qualquer incidente.
Segundo a Agência Brasil, o encontro ocorreu em um anexo do Tribunal de Justiça do Pará (TJ-PA), nas proximidades da Zona Sul, onde acontecem as negociações oficiais da conferência. Além de Corrêa do Lago, participaram as ministras Sônia Guajajara (Povos Indígenas) e Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima).
Durante a reunião, André Corrêa do Lago afirmou que o diálogo foi produtivo e que as demandas apresentadas serão encaminhadas formalmente. “Nós trouxemos eles aqui para ter um diálogo com as duas ministras e comigo, e foi um diálogo muito construtivo, muito positivo, mas realmente eles têm preocupações muito fortes e muito legítimas e nos transmitiram dois documentos que nós recebemos formalmente e que vamos procurar levar adiante todas as preocupações que eles têm.”
Pautas dos Munduruku
Os indígenas pedem a revogação do Decreto nº 12.600/2025, que autoriza a privatização de empreendimentos hidroviários federais, incluindo trechos no Rio Tapajós. O grupo também critica a Ferrogrão, ferrovia planejada para ligar o Mato Grosso ao Pará e usada para escoamento da produção agrícola, apontando impactos sobre seu modo de vida e pressão sobre suas terras.
Em nota, o Movimento Munduruku Ipereg Ayu destacou que o corredor Tapajós–Arco Norte é um dos principais impulsionadores do avanço do agronegócio na Amazônia, citando dados do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc). A delegação também protestou contra mecanismos de mercado das negociações climáticas que, segundo eles, tratam as florestas como simples ativos de carbono. Nos cartazes, mensagens como “Nossa Floresta não Está à Venda” e “Não Negociamos a Mãe Natureza” se destacaram.
Posicionamento do governo
A ministra Sônia Guajajara classificou o ato como legítimo e explicou que a comitiva levou questionamentos sobre processos de demarcação de duas áreas tradicionais: Sawre Ba'pim e Sawré Muybu, ambas em Itaituba, na bacia do Tapajós. Ela explicou que, no caso de Sawré Muybu, o processo já avançou. “O processo demarcatório do Sawré Muybu já foi assinado pelo ministro [Ricardo] Lewandowski, ainda no ano passado. Está agora com a Funai, que já está contratando uma empresa para fazer o processo da demarcação física, que é a instalação dos marcos, das placas nos limites do território.”
Sobre Sawre Ba'pim, detalhou que o processo segue no Ministério da Justiça, aguardando assinatura de portaria declaratória. Marina Silva acrescentou que a Ferrogrão não possui pedido de licenciamento em análise no Ibama. “Esse processo está judicializado. Quando foi apresentado o EIA/RIMA, estava muito ruim, o Ibama devolveu. Desde então, não foi reapresentado, mas a preocupação deles continua e é uma preocupação legítima.” Ela também afirmou que encaminhará a demanda sobre privatização das hidrovias ao Ministério dos Transportes.
A participação indígena nesta edição da COP também foi ressaltada por Guajajara, que destacou o número inédito de lideranças credenciadas. “A gente conseguiu ampliar pela primeira vez na história a participação indígena. Essa participação nunca houve na história das COPs”, afirmou.
“Queremos ser ouvidos”
Alessandra Munduruku reforçou que o grupo espera uma reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tratar diretamente do decreto referente às hidrovias. “A gente quer uma resposta do Lula, principalmente [sobre] o decreto.”
Ela também alertou para os efeitos da Ferrogrão sobre o território. “A nossa preocupação é o decreto e a Ferrogrão, isso vai nos prejudicar bastante. Mas estar aqui com a Sônia, com a ministra, já é um avanço, e agora com o presidente da COP. Só que a gente precisa ser mais ouvido, precisa ser mais consultado dentro do território.”
Alessandra lembrou que decisões não podem ser tomadas de forma individual. “Eu não posso falar pelo meu povo sozinha, eu tenho que consultar meu povo, sempre foi falado isso. A decisão é coletiva, a decisão é quando está todo mundo junto e decidimos juntos”, declarou.



