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Presidente da Anvisa diz que dificuldades da Sputnik V podem ser superadas

Antonio Barra Torres afirmou que novos documentos a respeito da vacina russa Sputnik V foram recebidos pela Anvisa. Segundo ele, "as dificuldades da Sputnik V podem ser superadas" desde que seja "com ciência e não com truculência"

Antonio Barra Torres (Foto: Pedro França/Agência Senado)

247 - O presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, afirmou, em entrevista à CNN nesta sexta-feira, 30, que novos documentos a respeito da vacina russa Sputnik V foram recebidos pela agência na terça-feira, 27, um dia após o órgão negar importação e uso do imunizante no Brasil.

Segundo Barra Torres, os documentos estão sendo analisados e "as dificuldades da Sputnik V podem ser superadas" desde que seja "com ciência e não com truculência".

"Tivemos o aporte de mais documentos, que já estão sob uma análise bastante criteriosa. O Brasil precisa de vacinas e nós entendemos que as dificuldades da Sputnik V podem ser superadas. Agora, precisam ser superadas com questionamento científico e respondidas com ciência e não com truculência", afirmou.

"A decisão da segunda-feira passada foi extremamente focada no fato de que não foi possível para nós, até aquele momento, com os documentos que tínhamos recebido, garantir a segurança", disse.

Russos alegam pressão norte-americana

Uma mensagem postada no perfil da Sputnik V, vacina desenvolvida pelo Instituto Gamaleya, afirmou que o governo Jair Bolsonaro foi pressionado pelo ex-presidente dos EUA Donald Trump e concordou em vetar o imunizante russo.

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, revelou em entrevista à Sputnik, que os Estados Unidos não escondem que exercem pressão sobre o Brasil na questão da vacina russa Sputnik V.

Comentando o fato de os EUA terem confirmado que estão fazendo esforços em relação ao Brasil para este rejeitar a vacina russa Sputnik V, o chanceler russo disse que não está surpreendido.

"Não estou surpreendido com isso. Os norte-americanos não se acanham de estar fazendo este trabalho. Eles não estão escondendo isso", disse Lavrov.

Lavrov afirmou que a administração anterior fez algo similar, quando o então secretário de Estado norte-americano Mike Pompeo viajou pela África e apelou publicamente nas coletivas de imprensa a seus colegas para não cooperarem e negociarem com a Rússia e China, porque estes países "têm objetivos egoístas", enquanto os americanos negociam com os países africanos "para o bem dos povos".

"No Brasil surgiu agora um movimento contra esta privação. E se os norte-americanos admitiram que estão por trás deste resultado, então, é porque são fiéis à sua lógica de que tudo é permitido para eles e já não se acanham de dizer isso publicamente", declarou Lavrov.

O chanceler da Rússia lembrou que o presidente francês, Emmanuel Macron, disse que estava acontecendo uma nova guerra, com a China e a Rússia usando a vacina como arma e ferramenta de propaganda. Mas agora a situação está mudando.

"Agora tudo isso está passando, recuando para o segundo plano. Já a Alemanha, inclusive a chanceler Merkel, está falando seriamente que é possível usar a vacina russa. Não vamos forçar ninguém a fazê-lo. Acredito que a vida colocará tudo em seu lugar", afirmou o ministro russo.

EUA pressionaram Brasil a não comprar a vacina russa

O Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos (HHS, na sigla em inglês) confirmou que o governo do ex-presidente Donald Trump pressionou o Brasil contra a aquisição da vacina russa contra a Covid-19, Sputnik V, e o Panamá contra o uso de médicos cubanos.

Segundo os EUA, as medidas foram tomadas contra o “aumento da influência” da Rússia em países latino-americanos e caribenhos.

O HHS publicou recentemente seu Relatório Anual para 2020. Escondido na página 48, o relatório revela de forma chocante como os EUA pressionaram o Brasil a rejeitar a vacina russa Sputnik V.

Sob o subtítulo “Combatendo influências malignas nas Américas”, o relatório anunciou:

“O Departamento usou as relações diplomáticas na região das Américas para mitigar os esforços dos Estados, incluindo Cuba, Venezuela e Rússia, que estão trabalhando para aumentar sua influência na região em detrimento da segurança dos Estados Unidos. O Departamento coordenou com outras agências governamentais dos EUA para fortalecer os laços diplomáticos e oferecer assistência técnica e humanitária para dissuadir os países da região de aceitar ajuda desses estados mal intencionados. Os exemplos incluem o uso do escritório do Adido de Saúde da Departamento para persuadir o Brasil a rejeitar a vacina russa COVID-19 e a oferta de assistência técnica do CDC no lugar do Panamá aceitar uma oferta de médicos cubanos”.

Os Estados Unidos também despacharam Adidos de Saúde para a China, Índia, México e África do Sul, provavelmente encarregados de realizar atividades semelhantes.

Vacina russa, eficácia de 97,6%

Estudo realizado pelo Centro Nacional de Pesquisa de Epidemiologia e Microbiologia de Gamaleya e o Fundo Russo de Investimento Direto (RDIF, fundo soberano da Rússia) apontam que a vacina Sputnik V demonstrou eficácia de 97,6% com base na análise de dados sobre a taxa de infecção de coronavírus. 

Segundo a página da vacina Sputnik, de acordo com os dados de 3,8 milhões de russos vacinados com ambos os componentes do Sputnik V de 5 de dezembro de 2020 a 31 de março de 2021, como parte do programa de vacinação civil em massa, a taxa de infecção a partir do 35º dia a partir da data do primeiro a injeção foi de apenas 0,027%.

"Os dados e cálculos da eficácia da vacina serão publicados em uma revista médica revisada por pares em maio", diz o fabricante do imunizante russo. 

A vacina Sputnik V foi aprovada para uso em 60 países, com uma população total de 3 bilhões de pessoas. É o segundo lugar entre as vacinas contra o coronavírus em todo o mundo em termos de número de aprovações emitidas por reguladores governamentais.

Para Kirill Dmitriev, CEO do Fundo Russo de Investimento Direto, os dados confirmam a eficácia da Sputnik V. 

"Dados publicados pelo principal jornal médico The Lancet demonstraram a eficácia do Sputnik V em 91,6%. A análise dos dados da taxa de infecção de quase 4 milhões de vacinados na Rússia mostra que a eficácia da vacina é ainda maior, chegando a 97,6%. Esses dados confirmam que o Sputnik V apresenta uma das melhores taxas de proteção contra o coronavírus entre todas as vacinas", afirmou. 

Alegações

A fabricante da vacina Sputnik V afirmou, nessa quinta-feira, 29, que está iniciando uma reclamação legal por difamação contra a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) do Brasil por espalhar informações falsas sobre o o imunizante russo.

A entidade brasileira decidiu não recomendar a aplicação da Sputnik V sob o argumento de que a vacina e contém adenovírus replicante (adenovírus capaz de reprodução, ou RCA), mas não chegou a fazer os testes necessários para barrar a importação do imunizante

Na última terça-feira, 27, a Sputnik V desafiou a Anvisa para um debate público sobre a vacina russa, por causa de "afirmações incorretas e enganosas" da agência.

Sputnik V rebate 30 argumentos da Anvisa sobre a vacina

O laboratório Gamaleya enviou nesta quinta-feira (29) à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) um documento rebatendo 30 pontos utilizados como argumentos pela agência para negar a importação do imunizante russo ao Brasil.

O documento tem 55 páginas e foi repassado à Anvisa pelo Consórcio Nordeste por meio da PGE (Procuradoria Geral da Bahia), na pessoa do presidente da agência, Antônio Barra Torres.

Um dos aspectos da vacina considerado pela Anvisa como mais decisivo para negar a importação da substância foi a suposta existência de adenovírus replicante. O laboratório Gamaleya negou a existência do chamado "RCA". "O Centro Gamaleya, que conduz estritos controles de qualidade de todos os locais de produção da Sputnik V, confirmou que nunca algum adenovírus replicante-competente (RCA) foi encontrado em nenhum lote de vacina Sputnik V que foi produzida. Controle de qualidades existentes asseguram que nenhum RCA pode existir na vacina Sputnik V".

O documento diz que somente os tipos E1 e E3 de vetores adenovirais não replicantes, "que são inofensivos para o corpo humano", são usados na Sputnik V. "A qualidade e segurança da Sputnik V são, entre outras coisas, asseguradas pelo fato de que, ao contrário de outras vacinas, usa uma tecnologia de purificação com 4 estágios que inclui dois estágios de cromatografia e dois estágios de filtragem por fluxo tangencial. Essa tecnologia de purificação auxilia na obtenção de um produto altamente purificado que passa por controles de qualidade mandatórios, incluindo controle para RCA ou qualquer presença de aditivos".

Gamaleya também rebate a afirmação da Anvisa de que não há como precisar a eficácia do imunizante, já que "provas incondicionais de eficácia e segurança da vacina são demonstradas pelos resultados da Fase 3 do fundamental estudo clínico conduzido".

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