Alta dos serviços impulsiona revisões positivas nas projeções do PIB do 3º trimestre
Crescimento acima do esperado no setor de serviços eleva expectativas do PIB e reforça cenário de corte de juros em 2026
247 - O avanço do setor de serviços acima das previsões de mercado está levando economistas a reverem para cima suas projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre. Em setembro, o segmento registrou alta de 0,6%, superando as estimativas de 0,4%, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Segundo reportagem publicada pelo jornal O Globo, o resultado da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) surpreendeu o mercado e pode influenciar de forma positiva as expectativas para o desempenho econômico de 2025. Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners, afirmou que sua estimativa inicial de crescimento de 0,2% no trimestre pode subir para 0,3%. Já Claudia Moreno, economista do C6 Bank, revisou sua projeção de queda de 0,2% para recuo mais leve de 0,1%.
Expectativa de moderação no ritmo de crescimento
Para Leal, o resultado de setembro reflete fatores pontuais, como o impacto da Semana do Consumidor, que impulsionou setores como “Transporte, armazenagem e correio”, com alta de 1,2%, e “Outros serviços prestados às famílias”, que avançaram 7,2%. “A PMS veio acima do esperado por causa da Semana do Consumidor, mas a tendência é de moderação em outubro”, explicou o economista.
Ele destacou ainda que o desempenho acumulado do setor até setembro, com alta de 2,8%, foi fortemente influenciado pelos “Serviços de tecnologia da informação”, que cresceram 12,5%. “Esse movimento está ligado à digitalização da economia e é pouco sensível à política monetária”, observou Leal.
Política monetária e inflação
Apesar da surpresa positiva nos serviços, Leal pondera que o resultado não deve comprometer o início do ciclo de cortes de juros pelo Banco Central, previsto para o início de 2026. “Esse resultado acima do esperado desfaz um pouco o otimismo gerado pelo IPCA de ontem em relação à queda dos juros no início de 2026. Entretanto, é preciso lembrar que os dados de atividade só influenciam a política monetária na medida em que impactam a inflação”, afirmou.
A economista-chefe do PicPay, Ariane Benedito, destacou que os dados recentes já mostram sinais de arrefecimento nas atividades voltadas às famílias, o que indica os efeitos defasados dos juros altos. “Quando olhamos para a composição, vemos que os serviços prestados às famílias e os segmentos mais sensíveis ao crédito já mostram sinais de desaceleração”, explicou.
Perspectiva de corte de juros em 2026
Benedito avalia que o atual cenário, de perda gradual de fôlego e inflação em trajetória de queda, abre espaço para o início de um ciclo de flexibilização monetária. “O desempenho recente dos serviços não exige a manutenção dos juros altos por muito mais tempo. Ao contrário: começa a sinalizar que o aperto monetário já cumpriu boa parte de seu papel”, disse.
A economista projeta que o Banco Central pode iniciar os cortes em março de 2026, com uma redução inicial de 50 pontos-base, levando a taxa Selic a 12,5% até o fim do próximo ano.
Valorização do real e estabilidade de preços
Para Renato Veloni, professor do Ibmec, a valorização do real frente ao dólar ajuda a equilibrar o crescimento do setor de serviços e o controle da inflação. “A parte de serviços, impulsionada pelo aumento da renda da população, tende a pressionar preços. Por outro lado, juros elevados e câmbio valorizado contribuem para conter a inflação. Esses dois movimentos estão ocorrendo simultaneamente na economia”, avaliou.



