Galípolo critica poupança e diz que modelo atual é um “Robin Hood às avessas”
Presidente do BC afirma que produto é sustentado pela desinformação e antecipa proposta de transição para novo modelo de financiamento imobiliário
247 – O presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, fez duras críticas ao atual funcionamento da caderneta de poupança em evento realizado em São Paulo nesta quarta-feira (12). A informação foi publicada originalmente pelo jornal InfoMoney.
Durante sua participação no encontro organizado pela Bradesco Asset Management, Galípolo afirmou que a poupança funciona como um “Robin Hood às avessas”, por prejudicar justamente quem tem menos acesso à informação e a alternativas de investimento. “É um Robin Hood às avessas. Porque a pessoa que não tem informação e acesso a outras alternativas de investimento é provavelmente a pessoa que possui menos recursos”, disse. Ele acrescentou que o produto é “apoiado na desinformação” e que seu uso tende a diminuir com a ampliação do acesso a outros instrumentos financeiros.
Críticas ao modelo atual e proposta de transição
Galípolo destacou que o poupador acaba “sub-remunerado” para permitir linhas de crédito mais baratas, e apontou que o BC já discute internamente uma mudança estrutural no modelo de financiamento que hoje depende dos recursos da caderneta.
Segundo ele, a instituição trabalha em uma proposta de transição que leve os recursos para um sistema mais alinhado à captação de mercado, com prazos mais adequados ao financiamento imobiliário. A alteração, explicou, pode aumentar a sensibilidade das taxas de juros à política monetária. “Se você vai captar a mercado, as taxas vão ser mais sensíveis à política monetária”, afirmou.
Para Galípolo, o que se observa hoje é uma baixa sensibilidade dos fornecedores de crédito imobiliário às decisões do BC. Ao aumentar essa correlação, argumentou ele, a potência da política monetária seria reforçada de forma estrutural.
Inflação, juros e ritmo lento da política monetária
O presidente do BC também comentou o atual cenário de política monetária. Ele disse que a trajetória da inflação rumo à meta de 3% ocorre de forma lenta e gradual, algo que considera “bastante incômodo” para a autoridade monetária. “Até agora o que a gente assiste é que a política monetária funciona, mas de maneira mais lenta do que se vê no livro-texto”, afirmou.
Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a Selic em 15% ao ano e reiterou que a taxa seguirá em “patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado” para conduzir a inflação à meta. A ata divulgada na terça-feira, porém, foi vista por parte do mercado como mais branda, especialmente após incorporar, de forma preliminar, os efeitos da isenção do Imposto de Renda.
Com o IPCA de outubro vindo abaixo do esperado, aumentaram as apostas de que o BC poderia iniciar um ciclo de cortes já em janeiro. Galípolo, no entanto, reforçou que a instituição permanece “dependente de dados”. “Em nenhum momento da comunicação estamos tentando dar nenhum tipo de sinal sobre política monetária”, declarou.
Economia em desaceleração e impacto gradual das medidas
O presidente do BC afirmou que os dados mostram uma economia em desaceleração, crescendo a taxas menores, e reconheceu que a política de juros altos tem impacto, mas de forma gradual. Ele ressaltou que a incorporação dos efeitos da isenção do IR nas projeções econômicas é ainda “preliminar” e será ajustada ao longo do tempo.
“É normal que os agentes de mercado procurem em cada palavra, cada número, um sinal sobre o que o BC fará ou deixará de fazer”, afirmou Galípolo. “Mas o BC está sendo factual no reconhecimento do que está acontecendo e tem sido dependente de dados.”



