Ibovespa registra em 2025 a maior alta nominal em quase dez anos
Índice sobe 0,40% na sessão de correção, fecha aos 161.125 pontos e acumula valorização de 33,95% no ano, com impulso de bancos, Petrobras e Vale
247 – O Ibovespa encerrou o último pregão de 2025 em alta e consolidou o maior ganho nominal anual desde 2016, após uma sessão marcada por correção de preços e oscilação ao longo do dia. Depois de ter fechado no negativo na véspera, o principal índice da bolsa brasileira voltou ao campo positivo e terminou esta terça-feira com avanço de 0,40%, aos 161.125 pontos.
As informações são do Valor Econômico, que destacou que o índice chegou a subir quase 1% no começo da manhã, quando encostou nos 162.075 pontos, mas perdeu parte do fôlego durante a tarde, com algumas blue chips se afastando das máximas. Ainda assim, o Ibovespa ficou bem acima da mínima do dia, de 160.491 pontos, mantendo o tom de recuperação no encerramento do ano.
Dados fortes de emprego e leitura de economia aquecida
O movimento positivo ocorreu mesmo com a divulgação de dados fortes do mercado de trabalho brasileiro, que, segundo a leitura predominante, reduziram a probabilidade de o Banco Central iniciar um ciclo de cortes de juros já em janeiro. Ainda assim, a interpretação de que a economia segue aquecida ajudou a sustentar os ganhos do índice, especialmente no início do pregão.
O resultado do dia também confirmou um fechamento positivo para dezembro: o Ibovespa acumulou valorização de 1,29% no mês. No balanço anual, a alta atingiu 33,95%, marcando o maior avanço nominal desde 2016, quando o índice havia subido 38,93%.
Bancos e Petrobras dão sustentação ao índice
Entre os destaques do pregão, a recuperação das ações de bancos, em conjunto com o desempenho de Petrobras, foi apontada como um dos principais motores da alta. As units do Santander lideraram os ganhos entre as blue chips e avançaram 2,10% ao fim da sessão. Já as ações preferenciais da Petrobras subiram 0,29%, contribuindo para manter o índice em terreno positivo.
Na outra ponta, as ações da Vale fecharam com leve queda de 0,22%, após oscilarem entre perdas e ganhos ao longo do dia. Apesar do recuo na sessão, o papel ainda se consolidou como um dos principais vetores de valorização do Ibovespa em 2025.
Vale surpreende e sustenta alta anual, diz analista
De acordo com Pedro Gonzaga, sócio e analista-chefe da Mantaro Capital, a valorização de 48,01% das ações da Vale em 2025, somada ao desempenho de utilities e de grandes bancos (com exceção de Banco do Brasil), respondeu por parcela relevante da alta expressiva do Ibovespa no ano.
O analista ressaltou que, ao contrário do que esperava parte do mercado — que manteve posições vendidas em Vale durante parte do ano —, o papel surpreendeu positivamente. Gonzaga atribuiu essa performance ao comportamento do minério de ferro e à disciplina financeira da companhia.
“O preço do minério conseguiu mostrar ‘resistência’ em um patamar elevado por mais tempo do que se imaginava no começo do ano”, disse.
“A Vale apresentou boa geração de caixa e surpreendeu em termos de gestão e em relação à distribuição de capital para os acionistas”, explicou.
Itaú dispara e setor financeiro puxa o índice
O setor financeiro também teve papel central na performance anual da bolsa. Gonzaga destacou a alta de 98,76% das ações preferenciais do Itaú no ano. Nos cálculos do analista, cerca de 31% da valorização do Ibovespa em 2025 foi impulsionada por companhias do setor financeiro, além de utilities e da própria Vale.
Essa composição ajuda a explicar por que o índice manteve força mesmo em momentos de maior cautela no mercado, especialmente com a perspectiva de juros ainda elevados e a leitura de atividade econômica resistente.
Alta pode ser “distorcida” pela base de comparação
Apesar do forte desempenho, Gonzaga ponderou que o retorno nominal de cerca de 34% pode ter sido influenciado pela base de comparação. No último pregão de 2024, o Ibovespa havia encerrado próximo do menor nível nominal do ano, aos 120.283 pontos, o que ampliou a percepção de alta ao se comparar com o patamar atual.
“Teve uma coincidência que potencializou essa valorização entre 2024 e 2025. Se a gente comparasse o nível de agora do Ibovespa com o patamar de novembro do ano passado não seria tão gritante [essa diferença]”, afirmou.
O analista também ressaltou que, embora o índice tenha renovado máximas nominais em várias ocasiões ao longo do ano, a leitura muda quando se observa o desempenho em termos reais ou em relação ao crescimento dos lucros das empresas.
“O valor das empresas no índice estava baixo. Tivemos essa alta forte no ano e, mesmo assim, não acreditamos que a bolsa ficou cara”, avaliou.
Papéis cíclicos lideram ganhos no fim do ano
No último pregão de 2025, as maiores valorizações ficaram concentradas em papéis cíclicos domésticos, com destaque para Natura (+3,04%), GPA (+2,98%) e C&A (+2,57%). Segundo o Valor, esse movimento ocorreu em meio às festas de fim de ano, quando a liquidez foi reduzida e a oscilação dos preços aumentou.
O volume financeiro do Ibovespa ficou em apenas R$ 11,5 bilhões, enquanto o total negociado na B3 atingiu R$ 15,7 bilhões, confirmando um pregão mais esvaziado, típico do período.
Alta no Brasil contrasta com queda em Wall Street
O avanço do mercado brasileiro ocorreu em contramão ao comportamento das bolsas americanas. Em Wall Street, os principais índices encerraram o dia em queda: o Nasdaq recuou 0,24%, o Dow Jones perdeu 0,20% e o S&P 500 caiu 0,14%, reforçando o contraste entre o desempenho local e o humor externo no fechamento de 2025.
Com isso, o Ibovespa conclui o ano em alta expressiva, consolidando um ciclo de valorização sustentado por grandes empresas do setor financeiro, energia e mineração, ao mesmo tempo em que analistas apontam que parte do salto reflete também uma base de comparação mais baixa no fim de 2024.



