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Marcas chinesas avançam no varejo dos EUA apesar da guerra comercial de Trump

Empresas de bens de consumo buscam margens maiores no mercado americano

Consumidores compram brinquedos artísticos na loja pop-up Skullpanda da Pop Mart em Manhattan, Nova York, EUA, em 12 de dezembro de 2025 (Foto: REUTERS/Mike Segar.)

247 - Uma nova onda de grandes marcas chinesas de bens de consumo está ampliando sua presença nos Estados Unidos. A aposta das empresas chinesas para aumentar seus mercados recai sobre o poder de compra do consumidor americano, capaz de oferecer margens de lucro mais elevadas do que as obtidas na China, mesmo em um cenário marcado por tarifas rigorosas e por tensões comerciais entre os dois países.

Reportagem da agência Reuters aponta uma aceleração desse processo ao longo de 2025. Empresas como a Pop Mart, fabricante do personagem Labubu, a Miniso, conhecida por seus produtos de baixo custo, a gigante de artigos esportivos Anta e a marca de fast-fashion Urban Revivo anunciaram novas lojas ou planos de expansão no varejo americano, mirando o maior e mais lucrativo mercado consumidor do mundo.

A tendência começou a se consolidar em 2023, no período pós-pandemia de covid-19, quando o enfraquecimento do consumo doméstico levou companhias chinesas a buscar oportunidades fora do país, inicialmente no Sudeste Asiático. Em 2025, porém, os Estados Unidos passaram a ocupar posição central nessa estratégia, apesar das tarifas impostas por Washington e do debate sobre uma possível desvinculação econômica entre as duas maiores economias globais.

Nova York como teste estratégico

A Urban Revivo, frequentemente chamada de “Zara da China”, inaugurou em março sua loja principal em Nova York, numa aposta simbólica e estratégica. Segundo Leo Li, presidente e CEO do Fashion Momentum Group, controlador da marca, a presença na capital da moda funciona como um teste decisivo para uma expansão mais ampla no Ocidente.

“Ainda estamos em um estágio inicial de entrada neste mercado”, disse Li à Reuters. “Precisamos expandir continuamente nossa escala e ser lucrativos para que possamos ser considerados verdadeiramente bem-sucedidos.”

O executivo afirmou que o desempenho da Urban Revivo nos mercados ocidentais dependerá da estratégia adotada, da qualidade dos produtos e do fortalecimento do valor da marca. Ele também minimizou o impacto das crescentes tensões comerciais entre China e Estados Unidos, que se intensificaram com o retorno de Donald Trump, atual presidente dos Estados Unidos, ao cargo.

Marcas chinesas como Urban Revivo, Auntea Jenny, Chagee, Luckin Coffee e Mixue abriram suas primeiras lojas nos Estados Unidos em 2025. A Anta, por sua vez, planeja inaugurar em breve uma unidade em Beverly Hills. Já a Miniso, que celebrou a abertura de sua 100ª loja em 2023, chegou a 421 unidades na América do Norte até setembro.

Lucros potenciais muito mais elevados

A Pop Mart, que estreou no mercado americano em 2023, operava 41 lojas nos Estados Unidos até meados de 2025 e sinalizou planos de rápida expansão. Após a divulgação dos resultados semestrais, que apontaram crescimento superior a 1.000% na América do Norte, o CEO Wang Ning destacou o potencial do país.

“O mercado dos Estados Unidos é enorme e conta com um forte poder de compra”, afirmou o executivo.

Analistas observam que essas empresas já se destacaram em um dos mercados consumidores mais competitivos do mundo, o chinês. Caso consigam repetir esse desempenho nos Estados Unidos, os retornos financeiros podem ser significativamente maiores.

“Muitas dessas empresas chinesas dizem: ‘Crescemos na China em meio a uma concorrência intensa e enorme pressão, e se conseguirmos fazer exatamente a mesma coisa nos Estados Unidos que fizemos na China, ganharemos quatro vezes mais dinheiro’”, afirmou Gabor Holch, fundador da consultoria East-West Leadership.

Preço baixo como principal vantagem

Especialistas apontam que o público-alvo inicial dessas marcas tende a ser formado por consumidores ocidentais mais jovens e sensíveis a preço, muitos deles já habituados a comprar em plataformas chinesas como Shein e Temu, da PDD Holdings. Nesse cenário, o posicionamento com valores mais acessíveis surge como diferencial competitivo.

“As marcas chinesas hoje estão se posicionando como alternativas mais acessíveis, ao mesmo tempo em que constroem confiabilidade”, disse Ivan Su, analista da Morningstar. “Você já experimentou um par de tênis de corrida chinês? Eles são bons.”

A Anta, maior marca de artigos esportivos da China em participação de mercado, à frente de Nike e Adidas no país, pode conquistar consumidores globais justamente por seus preços mais baixos, segundo Andreas Döring, gestor de portfólio da Union Investment, na Alemanha.

Reconhecimento de marca segue como desafio

Apesar do avanço, a expansão nos Estados Unidos impõe desafios relevantes, especialmente pela baixa familiaridade do público americano com marcas chinesas. A abertura de uma loja da Anta em Beverly Hills e o patrocínio a estrelas do basquete dos EUA, como Kyrie Irving, fazem parte da estratégia para ampliar o reconhecimento da marca.

“Trata-se de construir confiança em um novo mercado, em vez de avançar de forma agressiva e desordenada para entrar nos Estados Unidos”, afirmou Sagar Thanki, gestor da Guinness Global Investors, acionista da Anta.

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