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Mercado aposta em cortes mais agressivos da Selic após queda das projeções de inflação

Relatório Focus reforça expectativas de flexibilização monetária e juros futuros recuam no mercado financeiro

Dinheiro

247 - A queda das expectativas de inflação registradas no Relatório Focus do Banco Central, divulgado nesta segunda-feira (26) e noticiada pelo Valor Econômico, abriu espaço para novas apostas de corte na taxa básica de juros (Selic). Analistas e gestores avaliam que o movimento pode acelerar o ritmo de flexibilização monetária, sobretudo diante da sequência de revisões baixistas nas projeções de preços.

Segundo os dados do Focus, a expectativa para o IPCA em 2025 caiu de 4,95% para 4,86%, a 13ª redução consecutiva. Para 2026, a projeção recuou de 4,40% para 4,33%, enquanto a estimativa para 2027 foi ajustada de 4% para 3,97%. O cenário de inflação mais branda, somado ao noticiário político do fim de semana sobre a possível candidatura presidencial do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), contribuiu para a queda firme dos juros futuros. A taxa do DI para janeiro de 2029, por exemplo, passou de 13,27% para 13,19%.

Otimismo do mercado com trajetória da inflação

Para Michael Kusunoki, chefe de renda fixa e multimercados da BNP Paribas Asset Management no Brasil, os números recentes confirmam uma mudança significativa no cenário inflacionário.

 “O Focus desta semana reforça a percepção de que um quadro de inflação mais benigna se materializou para o segundo semestre”, afirmou.

Ele destacou especialmente a revisão das projeções de 2026, considerada “muito relevante para o modelo do BC”. Segundo Kusunoki, a redução ainda não reflete totalmente o impacto da valorização cambial e da queda da inflação implícita, o que abre espaço para cortes adicionais nas estimativas.

Projeções de cortes mais agressivos na Selic

Na mesma linha, Fabricio Taschetto, sócio e diretor de investimentos da Ace Capital, avalia que os juros de mercado podem cair de forma ainda mais expressiva, sobretudo nos prazos mais curtos.

 “Neste momento, temos 2,6 pontos percentuais de corte espalhados até meados de 2027. Com o câmbio bem comportado, a inflação rodando melhor e expectativas caindo, daria para ver pelo menos 3 pontos de corte na curva”, disse.

Para o executivo, há possibilidade até de antecipação nos cortes da Selic, o que poderia pressionar ainda mais a curva de juros. No entanto, ele alerta para os riscos fiscais, especialmente diante da votação da proposta de isenção do Imposto de Renda sem compensação clara para a perda de arrecadação.

 “O risco é se houver algum problema no Orçamento ou na aprovação da isenção do IR, o que é até mais provável”, avaliou Taschetto.

Estratégias de curto prazo diante das incertezas

Tanto Kusunoki quanto Taschetto apontam preferência por posições mais curtas na curva de juros. O gestor da BNP Paribas acredita que o mercado pode especular com um início mais agressivo do ciclo de cortes, ainda que considere “muito cedo” uma redução já em novembro. Taschetto, por sua vez, enfatiza que o cenário eleitoral ainda está distante e critica a precificação de ativos baseada em 2026:

 “Está fazendo preço, mas acho uma bobagem. Não dá para querer montar posição agora pensando na eleição daqui a um ano.”

Embora reconheçam que a consolidação de Tarcísio como candidato possa influenciar os juros longos no futuro, os gestores defendem cautela diante da proximidade de decisões fiscais imediatas no Congresso.

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