País precisa de medidas mais fortes para conter dívida pública, diz presidente do Bradesco
Banqueiro critica política fiscal do governo e alerta sobre inflação e câmbio no Fórum Econômico Mundial em Davos
247 – Marcelo Noronha, presidente do Bradesco, afirmou em entrevista ao Estadão/Broadcast durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, que o Brasil precisa adotar medidas mais robustas no campo fiscal para conter o avanço da dívida pública e garantir maior equilíbrio econômico. Segundo ele, apenas a política monetária não é suficiente para resolver os problemas estruturais do país. “Precisamos de medidas mais fortes para chegar a um equilíbrio maior do ponto de vista fiscal. É preciso fazer um grande esforço para conter a dívida. Não é só política monetária que resolve”, disse o executivo.
Noronha, que participou pela primeira vez do evento, destacou que a atual política fiscal do governo Lula gerou uma quebra de expectativas no mercado, o que, somado a uma possível inflação descontrolada e um câmbio em torno de R$ 6,00, coloca desafios adicionais para a economia brasileira. “Aí é que está o desafio”, alertou o presidente do Bradesco, enfatizando que o cenário para 2025 é mais adverso do que se imaginava.
Inflação global e geopolítica no centro das preocupações
No cenário internacional, Noronha apontou a inflação como o principal desafio, seguido por questões geopolíticas, incluindo conflitos em Gaza e Ucrânia. Ele também comentou sobre os possíveis impactos das tarifas comerciais dos Estados Unidos e a posição do Brasil em relação às economias emergentes. “Se houver aumento de tarifas, isso pode ser inflacionário. Em um ambiente inflacionário, a política monetária pode agir, mas isso é ruim para mercados emergentes como o Brasil”, analisou.
Noronha avaliou que o agronegócio será um dos motores de crescimento da economia brasileira em 2025, mas destacou que o Produto Interno Bruto (PIB) deve registrar uma expansão de cerca de 2%, abaixo dos 3,6% observados no ano anterior. Ele também expressou preocupação com a taxa de juros elevada, que deve permanecer próxima de 15% ao ano, e seu impacto no apetite a risco e no crédito. “Esse é um cenário que onera mais as empresas alavancadas e diminui a perspectiva de crescimento”, explicou.
Ações do Banco Central e desafios fiscais
Noronha elogiou os esforços da equipe econômica do governo, mas ressaltou que o problema fiscal brasileiro é estrutural e não será resolvido rapidamente. Ele mencionou que, embora o governo possa atingir a meta primária, a dívida pública deve ultrapassar 80% do PIB em 2026. “É preciso fazer um grande esforço para conter a dívida. Não se trata apenas de receitas, mas também do nível de despesas”, afirmou, destacando que a carga tributária no Brasil já é elevada.
Ao comentar sobre o mercado de crédito, Noronha observou que as empresas de médio porte são as mais vulneráveis no atual cenário de juros altos, enquanto as pequenas e médias empresas enfrentam dificuldades maiores para se capitalizar. Ele também relatou que o apetite dos investidores estrangeiros pelo Brasil varia de acordo com a companhia e o setor, mas ainda há interesse em investimentos de longo prazo, especialmente em infraestrutura.
Questionado sobre a ausência do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no Fórum de Davos, Noronha considerou a prioridade em resolver os desafios internos do país. “É natural que o ministro da Fazenda seja uma figura importante em um Fórum desse, mas é mais importante fazer o dever de casa interno do que participar do evento”, concluiu.
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