Patrimônio imobiliário de Vorcaro em Miami chega a R$ 500 milhões
Documento liga aquisição de imóvel de luxo a Antônio Carlos Freixo Júnior, empresário que já atuou com Vorcaro e responde ao mesmo processo na CVM
247 - A movimentação imobiliária de Daniel Vorcaro em Miami ganhou novos contornos após revelações publicadas pelo jornal O Globo, que repercutiu informações originalmente divulgadas pelo site americano The Real Deal. O portal especializado detalhou que Vorcaro utilizou uma empresa registrada em Delaware — jurisdição que dificulta a identificação de beneficiários finais — para constituir um patrimônio avaliado em cerca de R$ 500 milhões na Flórida pouco antes do colapso do Banco Master.
O The Real Deal precisou recorrer a fontes do mercado local para identificar o comprador das propriedades, já que a estrutura societária empregada tinha como propósito dificultar o rastreamento do verdadeiro controlador. Agora, um documento revela novas ligações que enfraquecem essa blindagem.
As aquisições atribuídas a Vorcaro envolvem duas propriedades de alto padrão. A mais valiosa é a mansão em Bay Point, um dos condomínios mais exclusivos de Miami, comprada por US$ 85,2 milhões (aproximadamente R$ 460 milhões) por meio da empresa Goldbeach Properties LLC. A segunda é um apartamento de US$ 2,8 milhões (mais de R$ 15 milhões), localizado no condomínio Asia, em Brickell Key, registrado pela Brickell Palm Holdings LLC.
Apesar de terem sido adquiridos por empresas distintas, os dois imóveis compartilham o mesmo endereço de correspondência em Provo, Utah — coincidência que chamou a atenção de uma fonte experiente consultada pelo O Globo. Endereços desse tipo podem ser usados para registrar múltiplas empresas, mas a documentação revelou algo ainda mais significativo.
No processo de aprovação do apartamento do Asia pela associação de moradores, aparece o nome de Antônio Carlos Freixo Júnior, empresário que já fez negócios com o Banco Master e que é acusado, ao lado de Vorcaro, em um processo da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
“A necessidade de aprovação do condomínio é normal, mas o documento nem sempre está incluído e, às vezes, a pessoa aprovada pela associação de moradores não é o verdadeiro proprietário, mas alguém que o representa. Neste caso, que se refere a uma unidade no Asia, em Brickell Key, o nome que aparece é o de Antonio C. Freixo Jr.”, explicou a fonte.
Freixo Júnior foi dono da Entre Investimentos, empresa que, segundo a CVM, “participou ativamente” das operações consideradas potencialmente fraudulentas envolvendo cotas do fundo imobiliário Brazil Realty. A autarquia aponta que o Banco Master teria orquestrado o esquema, enquanto a Entre Investimentos funcionava como uma “câmara de liquidação”, fornecendo liquidez aos demais participantes por meio da compra e venda de cotas no mercado secundário.
Assim como Vorcaro, Freixo Júnior apresentou proposta para firmar acordo no processo: R$ 4,95 milhões pela Entre Investimentos e R$ 2,5 milhões do próprio patrimônio. No entanto, a análise do termo de compromisso está paralisada há quatro anos na CVM, mais recentemente em razão de pedidos de vista de dois diretores.
Outro elemento é a proximidade física entre um dos imóveis atribuídos a Vorcaro e o escritório que o Banco Master alugou em Miami por valores elevados, mas jamais chegou a utilizar. O apartamento no Asia está situado a apenas 900 metros do endereço corporativo.
Em nota, o Grupo Entre afirmou não ter qualquer vínculo com o caso. "Em relação às acusações feitas contra a Entre e ao senhor Antônio Freixo no processo da CVM, ambos nunca participaram de qualquer integralização das cotas do Fundo em questão, ou seja, a acusação carece de qualquer comprovação. Não bastasse a total ausência de provas, a suposta conduta ilícita não foi identificada e/ou individualizada nos autos. Em relação ao Termo de Compromisso proposto, o mesmo não implica assunção de culpa pelo proponente. Foi proposto na tentativa de encerrar um processo que por mais que ao final resultasse em uma absolvição de Entre e Antonio, levaria tempo e acarretaria prejuízos de reputação para ambos. Sobre o imóvel da Brickell onde aparece como administrador o senhor Freixo, este esclarece que trata-se de investimento e patrimônio do Grupo Entre no qual Freixo é o beneficiário final."


