“A direita decidiu que não perderá mais nenhuma eleição”, diz Valter Pomar
Pomar aponta fraude no Equador e afirma que EUA estão em nova ofensiva para submeter a América Latina
247 - Em entrevista ao programa Contramola, o historiador e dirigente do PT Valter Pomar fez uma análise contundente das recentes eleições presidenciais no Equador e do avanço de uma estratégia golpista em curso na América Latina. A entrevista girou em torno da vitória de Daniel Noboa, proclamado presidente em um processo eleitoral marcado por irregularidades, e ampliou o foco para o papel dos Estados Unidos na tentativa de recolonização da região.
Segundo Pomar, a eleição equatoriana seguiu um padrão já conhecido: o uso da máquina pública, a manipulação das regras do jogo e a perseguição à oposição progressista. “A candidatura de Luisa González tinha uma vantagem política importante com o apoio do Pachakutik, partido indígena que nunca havia apoiado a esquerda no segundo turno. Isso dava indícios de que ela poderia vencer. Mas o governo de Noboa intensificou a repressão, decretou estado de sítio em províncias onde ele tinha ido mal, distribuiu bônus em dinheiro e retirou a proteção da candidata”, relatou.
Valter Pomar destacou ainda que, apesar das evidências de fraude, muitos governos e instituições internacionais, como a OEA e o BID, imediatamente reconheceram o resultado e parabenizaram Noboa. “A direita não tem dúvidas. Eles não têm dúvida sobre o que fazem. A dúvida é nossa, da esquerda. E a gente precisa parar com isso”, disse.
Para o dirigente, o que se vê hoje é a repetição de uma cartilha que tem sido aplicada em diferentes países da região. “A direita latino-americana e caribenha tomou uma decisão: não vai mais perder eleição nenhuma. Custe o que custar. Com ata ou sem ata, com mídia ou sem mídia, com golpe ou com fraude, não importa. Isso é novo na intensidade, mas velho na prática. Sempre que a esquerda ameaça vencer, eles agem para impedir”, afirmou.
A entrevista também abordou a mudança da política dos Estados Unidos em relação à América Latina. Pomar lembrou que, após o fim da União Soviética e os ataques de 11 de setembro de 2001, os EUA diminuíram sua presença na região, concentrando-se no Oriente Médio. Isso abriu espaço para a ascensão de governos progressistas no continente. “Mas essa janela se fechou. O atual governo estadunidense voltou a tratar a América Latina como seu quintal. Um alto funcionário do governo Trump declarou recentemente que o erro de Obama foi baixar a guarda e permitir a entrada da China. Agora, eles vão reconquistar o quintal. Somos nós esse quintal”, alertou.
Questionado sobre a atuação da diplomacia brasileira diante das denúncias de fraude no Equador, Pomar foi enfático: “Não dá para ter torcicolo. Não dá para olhar apenas para os inimigos dos Estados Unidos e fingir que nada acontece quando os aliados deles fraudam eleições. A coerência exige que se questione também o que houve no Equador.”
Ele também fez um paralelo com a tentativa de golpe no Brasil em 2023 e criticou setores da esquerda que pregam anistia para os envolvidos. “Do outro lado, não vai ter folga, não vai ter respiro, não vai ter complacência. Vai ter operação para ganhar custe o que custar. Se a gente não tiver esse mesmo espírito, o nosso futuro não será legal. A esquerda precisa entender que está enfrentando um inimigo que joga para valer.”
Para Pomar, os Estados Unidos abandonaram de vez o discurso do livre comércio quando perceberam que estavam perdendo espaço para a China. “Durante anos, defenderam a globalização. Agora que a China avança, eles rasgam tudo e assumem uma postura protecionista, militarista e intervencionista. A América Latina está no centro dessa disputa.”
Ao final, o dirigente reiterou que a única forma de enfrentar esse cenário é fortalecer a base popular dos governos progressistas. “Precisamos ampliar o apoio entre os trabalhadores, governar com medidas concretas e romper com as amarras do arcabouço fiscal. Só assim vamos impedir que a direita, mesmo quando minoritária nas urnas, continue vencendo no tapetão.” Assista:
❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com redacao@brasil247.com.br.
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.
iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: