“A Lava Jato foi uma experiência trágica para o sistema de justiça”, diz advogada

247 - Em entrevista ao programa Boa Noite 247, a advogada Ecila Meneses abordou as consequências históricas da falta de responsabilização sobre o golpe de 1964 e os crimes da ditadura militar, estabelecendo um elo direto com os eventos de 8 de janeiro de 2023. Para Meneses, a omissão do Estado brasileiro em fazer um acerto político e jurídico com seu passado gerou um ciclo de repetição de violações institucionais que fragilizam a democracia do país.

"O Brasil tem algumas experiências que nos enfraquecem enquanto país que busca um Estado de Direito assegurado", afirmou Meneses. Segundo ela, a ausência de um acerto histórico após o regime militar permitiu que personagens ligados à ditadura continuassem influentes na política e na sociedade. "Oito de janeiro é simplesmente o dia seguinte daqueles vinte anos", disse, referindo-se ao período da ditadura e ao que considera a permanência de estruturas autoritárias no Brasil.

A advogada destacou ainda a importância da Comissão da Verdade, que trouxe à tona crimes cometidos pelo regime militar e suas repercussões na sociedade. "Foi a coisa mais bonita", disse, enfatizando como a investigação ajudou a conscientizar a população sobre o valor da democracia e os horrores de um regime autoritário. Para ela, o Brasil perdeu uma oportunidade crucial de consolidar uma justiça de transição eficaz.

Outro ponto abordado na entrevista foi a Operação Lava Jato e o impacto que ela teve no sistema de justiça brasileiro. Para Meneses, a força-tarefa liderada pelo ex-juiz Sergio Moro não apenas causou danos individuais, mas desestruturou garantias jurídicas conquistadas ao longo de séculos. "A Lava Jato não foi só uma experiência trágica para algumas pessoas, foi uma experiência trágica para o sistema de justiça brasileiro", declarou. Segundo ela, a operação criou "um novo direito, um novo sistema de justiça", rompendo com princípios históricos e institucionais do Estado.

Meneses também ressaltou a importância da atual investigação sobre a tentativa de golpe em 8 de janeiro, argumentando que ela é uma "denúncia robusta" que revela uma estratégia organizada para subverter a democracia. "Não foi construída por uma pessoa, mas por um grupo político que tinha sua chefia, seus vários braços e que buscava se inserir institucionalmente e na sociedade", pontuou.

Por fim, a advogada defendeu a importância do devido processo legal e do direito à ampla defesa, destacando que um julgamento justo fortalece as instituições democráticas. "O processo é uma história que precisa ser contada", disse. Para ela, mais do que punir culpados, a investigação deve proporcionar um entendimento político e social dos acontecimentos e ajudar a sociedade a valorizar a democracia e identificar ações nocivas. Assista: