Chico Alencar: “As emendas parlamentares viraram compra de votos institucionalizada”
Deputado afirma que emendas de execução obrigatória favorecem corrupção eleitoral, distorcem o orçamento e protegem privilegiados
247 - O deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ) fez repeliu o atual modelo de emendas parlamentares de execução obrigatória, classificando o mecanismo como uma distorção grave do sistema democrático brasileiro. Em entrevista ao programa Bom Dia 247, o parlamentar afirmou que o uso desses recursos públicos se transformou em uma ferramenta de poder eleitoral e de reprodução de privilégios no Congresso Nacional.
Durante a conversa, Chicoanalisou a decisão do Legislativo de garantir o pagamento das emendas até julho de 2026, em pleno ano eleitoral. “Não por acaso eles obrigaram no orçamento de dois mil e vinte e seis que elas sejam pagas até julho, com claro, evidente intuito eleitoreiro. Isso é compra de votos institucionalizada”, declarou.
Segundo o deputado, o modelo atual favorece a perpetuação de políticos já estabelecidos, criando uma competição desigual nas eleições. “Noventa por cento da Câmara, pelo menos da Câmara, será contra, porque virou um ativo eleitoral importante”, afirmou, ao explicar por que propostas para acabar com esse tipo de emenda enfrentam forte resistência no Parlamento.
Chico Alencar também relacionou as emendas à proliferação de esquemas de enriquecimento ilícito. “Existem muitos desonestos na política institucional”, disse, ao comentar a recorrência de escândalos envolvendo recursos de gabinete, emendas e movimentações financeiras incompatíveis com a renda oficial de assessores e parlamentares.
O deputado ressaltou que as investigações sobre esses casos precisam avançar, independentemente do calendário eleitoral. “Essas somas, essa movimentação é, no mínimo, estranhíssima e tem que ser investigada, tem que ser apurada. Investigar não é acusar, denunciar não é condenar”, afirmou, elogiando a atuação da Polícia Federal e do ministro Flávio Dino nas apurações em curso.
Para Chico, interromper ou desacelerar investigações em ano de eleição seria uma forma de conivência institucional. “Parar de investigar é dizer, ó, vale tudo, quem tá mutretando vai continuar… isso é uma pré-anistia indecorosa”, disse, acrescentando que a corrupção eleitoral associada às emendas compromete a legitimidade do voto popular.
O parlamentar também apontou que o orçamento da União foi excessivamente capturado pelo Congresso. “O orçamento da União foi parlamentarizado e restringe demais o poder do Executivo, que é quem tem capacidade de planejar, promover políticas públicas com racionalidade e mais controle social”, afirmou.
Ao final, Chico Alencar alertou para o impacto direto desse sistema sobre a democracia. “A chance de quem já tem cargo de deputado ou senador se reeleger é muito maior do que quem está chegando agora”, disse, defendendo uma reforma política profunda que reduza desigualdades e enfraqueça o poder do dinheiro nas campanhas.
Para o deputado, o eleitorado precisa observar com mais atenção quem se beneficia desse modelo. “Voto não tem preço, tem consequências”, concluiu.



