“É necessário diversificar a pauta de exportação e os parceiros comerciais”, diz Juliane Furno
Economista vê no tarifaço dos EUA chance para o Brasil reduzir dependência de poucos mercados e ampliar parcerias no Sul Global
247 - A economista Juliane Furno afirmou, em entrevista ao Boa Noite, da TV 247, que o pacote de tarifas imposto pelos Estados Unidos abre uma janela para o Brasil rever sua inserção internacional. Segundo ela, “o tarifaço, essa espécie de desacoplamento da economia dos Estados Unidos e veio para ficar”, o que exige respostas estruturais que vão além de medidas emergenciais
Foco em diversificação de mercados e produtos
Furno sustenta que o cenário atual pode ser convertido em estratégia de longo prazo. “Acho que pro Brasil isso pode ser uma oportunidade, a oportunidade de diversificar a nossa pauta exportadora e as nossas relações internacionais.” Para ela, a direção é inequívoca: “É necessário diversificar a pauta de exportação e os parceiros comerciais.” Isso inclui ampliar parcerias no Sul Global e buscar arranjos que incorporem transferência tecnológica, uso de moedas locais e intercâmbios produtivos, reduzindo a dependência de commodities
Dependência concentrada e vulnerabilidade
A economista pontuou que a concentração de destinos e de produtos aumenta a exposição a choques unilaterais. “Já não é mais o principal parceiro do Brasil, os Estados Unidos, mas ainda é o segundo. E a gente tem parceiros que concentram muito a nossa produção. Enquanto a China compra de um monte de gente, o Brasil praticamente só vende pra China. em segundo lugar, só vende pros Estados Unidos.” Para Furno, a mudança de rota deve ser planejada com horizonte de médio e longo prazos: “Não é pro curto prazo, mas eu acho que isso tem que voltar a entrar na agenda”
Risco de estrangulamento externo
Ao comentar um cenário de redução súbita das compras externas, Furno destacou o papel das exportações na conta de divisas. “Onde a gente acessa a moeda estrangeira é via as exportações. Então, se a gente não exporta, a gente não acessa dólar. E se a gente não acessa dólares, a gente não consegue importar as coisas que a gente utiliza.” Nessa hipótese, avalia, haveria “uma restrição externa”, com impacto sobre a capacidade produtiva doméstica, dado o peso de insumos importados em cadeias industriais nacionais
Medidas emergenciais não substituem a agenda estrutural
Segundo Furno, políticas anticíclicas são necessárias para amortecer choques, mas precisam vir acompanhadas de contrapartidas e temporalidade. A economista alertou para o risco de perpetuação de incentivos desenhados para momentos de crise e defendeu que a resposta conjuntural conviva com a reorientação estratégica das exportações e dos parceiros comerciais. Na avaliação dela, a priorização dessa agenda reduziria a vulnerabilidade a ações unilaterais e aumentaria a autonomia do país na formulação de políticas econômicas. Assista:



