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"Esquerda perdeu no Chile porque Boric não rompeu com a lógica neoliberal", diz Hugo Albuquerque

Analista geopolítico avalia, em entrevista à TV 247, que governo cessante de Gabriel Boric fracassou em uma série de aspectos. Assista

No Chile, o desgaste com alternativas de centro levou parte expressiva da população a migrar seu apoio para a extrema direita, segundo o analista Hugo Albuquerque (Foto: Reuters | Divulgação)

247 - A vitória de José Antonio Kast, um entusiasta do pinochetismo, nas eleições presidenciais do Chile representa, segundo o analista geopolítico Hugo Albuquerque, o desfecho de um processo iniciado ainda no ciclo eleitoral anterior, quando a esquerda chilena definiu sua candidatura em 2021, em detrimento de Daniel Jadue. Ele avaliou, em entrevista à TV 247, que o resultado atual não pode ser analisado como um evento isolado, mas como consequência direta do desgaste político e social acumulado durante o governo do presidente cessante, Gabriel Boric.

Segundo ele, “a grande derrota que a esquerda sofreu no Chile foi em 2021 com a escolha do Boric para ser o candidato da esquerda”, acrescentando que a derrota da candidata do campo governista, Jeannette Jara, consolidou esse processo.

Para o analista geopolítico, houve um rompimento direto entre o governo e as forças sociais que impulsionaram mobilizações de massa no país. “Ele entrou em choque com o movimento que o colocou lá, que foi um grande levante social”, afirmou. 

Albuquerque também apontou que Boric manteve posições alinhadas aos Estados Unidos em temas caros à esquerda  regional.

Esse conjunto de fatores, segundo o analista, abriu espaço para a vitória de Kast. "Ele (Boric) fracassou, ele desmoralizou a esquerda e nesse sentido ele normalizou o retorno da extrema direita que é abertamente pinochetista”, declarou. 

Ele também relacionou o avanço da extrema direita ao desgaste do modelo econômico chileno. Ele lembrou que o país se tornou um laboratório do neoliberalismo, com crescimento baseado na exportação de commodities e forte desigualdade social. “É uma economia pensada como os nossos liberais pensam aqui: exportar material bruto, ganhar dinheiro e não industrializar”, disse.

“As pessoas no Chile cansaram de uma solução centrista”, afirmou, ao explicar por que a vitória de Kast se tornou possível mesmo com seu discurso abertamente ligado à ditadura. 

A primeira eleição presidencial chilena com voto obrigatório terminou com a derrota da coalizão governista de esquerda por uma boa margem: 42% a 58%.

A vitória de José Antonio Kast também marca a chegada do governante mais à direita ao poder no país desde 1990, ano que marcou o fim da ditadura de Augusto Pinochet. Assista: 

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