Kast defende ação militar na Venezuela após encontro com Milei
Presidente eleito do Chile fala em apoio político a uma intervenção liderada pelos EUA
247 – O primeiro compromisso internacional de José Antonio Kast como presidente eleito do Chile foi marcado por declarações contundentes sobre política externa, especialmente em relação à Venezuela. Em visita a Buenos Aires, Kast afirmou que apoiaria politicamente uma eventual intervenção militar liderada pelos Estados Unidos contra o governo de Nicolás Maduro, embora tenha descartado qualquer participação direta do Chile. As declarações foram feitas após reunião com o presidente argentino, Javier Milei, e foram publicadas originalmente pelo jornal chileno La Tercera.
O encontro com Milei ocorreu na Casa Rosada e incluiu uma agenda política e econômica ampla, além de reuniões com empresários argentinos. Um dos momentos mais simbólicos da visita foi a fotografia dos dois presidentes segurando uma motosserra, símbolo do discurso de cortes radicais de gastos promovido por Milei em seu governo.
Na área econômica, Kast também se reuniu com o economista chileno-argentino José Luis Daza, atual secretário de Política Econômica do governo argentino. Daza é visto como um dos nomes fortes para ocupar um cargo central no futuro governo chileno, inclusive com a possibilidade de assumir um papel ampliado, reunindo as pastas de Economia, Energia e Mineração. Segundo o relato, o convite foi feito diretamente por Kast durante a visita.
Após os encontros, o presidente eleito abordou temas centrais de sua futura administração. Um dos pontos de maior repercussão foi sua posição sobre a eventual candidatura da ex-presidente Michelle Bachelet ao cargo de secretária-geral das Nações Unidas.
“Conversei com a presidente Bachelet, ela teve a gentileza de entrar em contato comigo e concordamos em ter uma reunião, em algum momento, espero que seja antes do Natal”, afirmou Kast. Segundo ele, o objetivo do encontro será avaliar “o que é melhor para o Chile”, preocupação que, de acordo com o presidente eleito, também é compartilhada pelo ex-presidente Eduardo Frei e pelo atual presidente, Gabriel Boric, com quem se reuniu na segunda-feira.
Kast ressaltou que ainda não há uma decisão tomada sobre o eventual apoio à candidatura de Bachelet. “Vou me reunir com ela e depois isso terá de ser objeto de análise. A decisão não precisa ser imediata. O que estamos dizendo é que vamos ouvir todos os antecedentes”, declarou.
No Chile, o presidente do Partido Republicano, Arturo Squella, reforçou a importância do diálogo com a ex-mandatária, destacando o valor de sua experiência. “São reuniões de grande utilidade, que permitem conhecer como foi a experiência de pessoas que passaram pelo mesmo cargo”, disse, evitando comentar quais seriam os critérios para um eventual apoio formal à candidatura.
Outro tema que gerou debate foi a intenção de Kast de residir no Palácio de La Moneda após assumir a presidência. O presidente eleito defendeu a decisão com base em argumentos de austeridade e tradição histórica.
“Chama-se Casa de La Moneda e, historicamente, é o lugar onde viveram os presidentes da República. Eu moro a mais de uma hora e meia da Casa de La Moneda. Não vou alugar uma casa especial para gerar mais gastos ao Estado”, explicou.
Kast afirmou ainda que não busca privilégios pessoais. “Não peço luxos. Sou capaz de arrumar minha cama, sou autossuficiente. Essa forma de agir também é um sinal de austeridade para aquilo que teremos de pedir aos chilenos”, afirmou. Em tom irônico, comentou as restrições estruturais do edifício: “Não tenho problema em dormir no terceiro andar, se puder levar minha cama e minha mesa de jantar. Há toda uma discussão de que não posso mexer em nada. Bom, se não posso mexer em nada, levo um saco de dormir. Essa é a minha vontade”.
Problema para a América Latina
Na política externa, a declaração mais dura veio ao tratar da crise venezuelana. Embora tenha descartado qualquer envolvimento militar direto do Chile, Kast deixou claro seu respaldo político a uma ação liderada pelos Estados Unidos.
“Nós não vamos intervir em uma situação como essa porque não nos corresponde, mas, se alguém o fizer, que tenha claro que resolve para nós e para toda a América Latina um problema gigantesco, inclusive para países da Europa”, afirmou. Em seguida, completou: “Quem fizer isso vai contar com o nosso apoio”.
Antes de embarcar para a Argentina, Kast também minimizou declarações do presidente venezuelano Nicolás Maduro sobre eventuais expulsões de venezuelanos durante sua futura gestão. Segundo ele, essas falas não lhe causaram preocupação, afirmando que o tema lhe era “indiferente”.
De volta ao Chile, o presidente eleito enfrenta agora decisões imediatas relacionadas à formação de seu governo. O ex-chefe de campanha de Kast, Martín Arrau, afirmou que os principais ministérios devem ser anunciados antes de 15 de janeiro, com expectativa de divulgação já na primeira semana do ano, especialmente do comitê político.
Nos bastidores da direita chilena, segue aberta a discussão sobre o formato político da nova administração. Ainda não está definido se partidos como Evópoli ou Nacional Libertário integrarão formalmente o governo. Em reunião recente com dirigentes das legendas que o apoiaram, Kast reiterou o desejo de formar uma administração de unidade, mas evitou avançar na criação de uma nova aliança política formal.



