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Jorge Folena: “O Poder Judiciário não pode se aproximar de interesses privados”

O advogado e analista político denuncia patrimonialismo captura do Judiciário e a influência de interesses privados no STF

Sessão plenária do STF - 17/12/2025 (Foto: Rosinei Coutinho/STF)

247 - O advogado e analista político Jorge Folena fez duras críticas à relação entre setores do Poder Judiciário e interesses econômicos privados ao comentar o caso envolvendo o Banco Master e familiares do ministro Alexandre de Moraes. Em entrevista ao programa Bom Dia 247, Folena classificou a situação como mais uma expressão do caráter patrimonialista da República brasileira.

Segundo ele, a reação da grande mídia e da elite econômica contra ministros do Supremo Tribunal Federal não nasce de compromisso com a ética republicana, mas da defesa de interesses de classe.

“Essa mesma classe dominante que agora grita contra o ministro Moraes e contra o ministro Toffoli foi a mesma que fez editoriais contra o Lula na época do triplex e do sítio de Atibaia. Eles apenas defendem seus interesses. Não têm compromisso com uma república efetiva no Brasil.”

Folena afirmou que o Brasil vive sob uma lógica histórica em que as oligarquias tratam o Estado como extensão de seus interesses privados.

“É uma república patrimonialista. As oligarquias controlam efetivamente o Estado brasileiro, e uma parcela desse poder é estendido não à República como nós sonhávamos, mas a interesses aristocráticos.”

Para o jurista, esse traço se expressa de forma aguda no Judiciário, especialmente quando magistrados e ex-magistrados passam a operar em favor de grandes grupos econômicos.

“Muitas instituições poderosas contratam ex-ministros e ex-embargadores não pela capacidade técnica, mas pela influência que eles poderão exercer no julgamento de processos.”

O caso do Banco Master, segundo Folena, expõe publicamente um problema estrutural.

“Esse caso está desnudando ainda mais essa aproximação do Judiciário com interesses privados.”

Ele também criticou a postura corporativista do Supremo ao rejeitar controles externos sobre a magistratura.

“O ministro Gilmar está errado. A lei que regula a magistratura parte dos próprios magistrados. Código de ética, regras, tudo isso fica fechado dentro do Judiciário. Isso é autoproteção.”

Na avaliação de Folena, esse modelo produz um sistema blindado, no qual os próprios juízes decidem seus limites e não respondem à sociedade.

“O Poder Judiciário tem essa autoproteção e autocontenção para si mesmo. Isso faz parte desse vício original da República brasileira.”

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