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"O reinado de Alexandre de Moraes está chegando ao fim", diz Rui Costa Pimenta

Presidente do PCO avalia que o ministro do STF se tornou alvo do grande capital

"O reinado de Alexandre de Moraes está chegando ao fim", diz Rui Costa Pimenta (Foto: Brasil247 | Reuters)

247 – O presidente do PCO, Rui Costa Pimenta, afirmou nesta sexta-feira que “o reinado de Alexandre de Moraes está chegando ao fim” e avaliou que o ministro do Supremo Tribunal Federal se tornou alvo direto do grande capital. A declaração foi feita em entrevista ao jornalista Leonardo Attuch, editor da TV 247, na qual Rui traçou um diagnóstico duro sobre o cenário político e sobre os interesses que, segundo ele, comandam o regime no Brasil.

Para Rui, o momento atual revela uma mudança de vento no topo do poder, com disputas que extrapolam a polarização convencional. “É muito poder – e muito abuso de poder”, declarou. Na sua avaliação, a crise não pode ser lida como um confronto entre PT e bolsonarismo: “É briga de cachorro grande, não é PT nem Bolsonaro”.

“Quem armou a cama do Xandão foram os bancos”

Rui Costa Pimenta foi direto ao apontar, em sua análise, os principais atores por trás da pressão contra Moraes. “Quem armou a cama do Xandão foram os bancos”, afirmou, ao sustentar que o conflito se organiza em uma camada superior da estrutura política e econômica nacional.

Segundo ele, “o grande capital é um bloco unificado, que controla o regime político”, e esse bloco teria capacidade para definir ascensões e quedas no sistema. Nessa lógica, Rui afirmou que o ministro do STF passou a representar um custo político para setores que antes o toleravam ou até o respaldavam.

Comparação com Moro e Joaquim Barbosa

Durante a entrevista, Rui aproximou o momento vivido por Moraes do que, na sua leitura, já aconteceu com outros personagens que tiveram protagonismo extremo e, depois, perderam respaldo de forças dominantes. “O que está acontecendo com Alexandre de Moraes é quase o mesmo que ocorreu com Sergio Moro e Joaquim Barbosa”, disse.

Ele também comentou o noticiário recente envolvendo denúncias e exposições feitas por grandes veículos. “As denúncias da Globo são verossímeis”, afirmou, defendendo que há elementos concretos o suficiente para gerar desgaste político e institucional contra o ministro.

Contrato e sigilo ampliam suspeitas, diz Rui

Ao abordar o caso envolvendo Viviane Barci, esposa de Alexandre de Moraes, Rui foi incisivo: “Só o contrato de Viviane Barci, esposa de Alexandre de Moraes, já seria o suficiente para derrubar um ministro do STF”. Para ele, o episódio se tornou símbolo de uma fragilidade grave, com potencial de implosão, diante do contrato de R$ 130 milhões com o Banco Master.

Rui também criticou a decisão do ministro Dias Toffoli relacionada ao caso: “Além disso, o Toffoli ampliou as suspeitas ao colocar o caso em sigilo total”. Segundo ele, ao levar o processo a um nível absoluto de sigilo, Toffoli não apenas aumentou dúvidas como também intensificou a pressão política ao redor do assunto.

Ainda assim, Rui disse ver uma operação política em andamento, mas baseada em fatos concretos: “Alexandre de Moraes é vítima de uma armação, mas a partir de fatos verdadeiros”. 

Toffoli e o “Master”

Rui também relacionou o novo cenário a uma disputa de bastidores envolvendo interesses financeiros maiores. “O Toffoli agora se torna agente da pressão para evitar a liquidação do Master”, afirmou, indicando que haveria movimentações no sistema político e institucional para administrar danos e proteger determinadas estruturas.

Na sua visão, o ambiente político permite denúncia com base em evidências preliminares: “A partir de indícios é, sim, possível denunciar pessoas públicas”. Rui argumentou que figuras públicas, pela própria natureza do cargo, estão sujeitas a escrutínio e responsabilização, sobretudo quando contratos e vínculos geram suspeitas.

Rui: tema favorece a direita e desgasta a esquerda

O presidente do PCO afirmou que os impactos políticos desse episódio já são perceptíveis, inclusive na disputa eleitoral e no reposicionamento dos atores. “O que ajuda o Flávio Bolsonaro é o fato em si”, declarou, avaliando que a simples existência do caso cria munição para adversários.

Ele explicou como isso poderia ser usado: “Se eu fosse candidato da direita, eu mostraria o contrato do Alexandre de Moraes todos os dias”. Para Rui, o desgaste se torna inevitável, especialmente porque, em sua leitura, a ligação da esquerda com Moraes nunca trouxe ganhos reais. “A associação com o Alexandre de Moraes só prejudicou a esquerda”, disse.

Rui reforçou que, do ponto de vista moral e institucional, o vínculo da esposa do ministro com esse tipo de contrato seria insustentável: “A esposa de Alexandre de Moraes jamais poderia ter assinado este contrato”.

Galípolo e os bancos

Ao comentar o comportamento de autoridades ligadas ao sistema econômico, Rui avaliou que há uma tentativa de não se envolver diretamente, mas também de não oferecer sustentação política ao ministro. “Gabriel Galípolo não quer atacar o Alexandre de Moraes, mas também não quer defendê-lo”, afirmou.

E concluiu com uma frase que sintetiza sua leitura sobre o poder real no país: “Galipolo não é um homem do Lula; é um homem dos bancos”.

“Defender Moraes é um desserviço para a esquerda”

Rui Costa Pimenta fez questão de afirmar que, na visão dele, a esquerda deveria se afastar do ministro e não apostar capital político em sua defesa. “Defender o Alexandre de Moraes é um desserviço para toda a esquerda”, disse, ao criticar setores progressistas que ainda tratam Moraes como uma espécie de aliado.

Ele usou uma metáfora dura para apontar o destino do ministro: “Alexandre de Moraes é um Titanic. Se não naufragar agora, vai naufragar mais à frente”. E completou, avaliando a postura histórica do PT em situações de crise: “O PT tem o hábito de não estender a mão para quem está afundando”.

“Itaú é mais útil” do que Moraes para Lula, afirma Rui

Ao final, Rui resumiu de forma contundente sua análise do jogo de forças. Para ele, o cálculo político e financeiro do regime é pragmático, e a sustentação do governo depende mais do sistema bancário do que de figuras do Judiciário. “O Itaú Unibanco é mais útil para a reeleição do Lula do que o Alexandre de Moraes”, afirmou.

Na leitura de Rui Costa Pimenta, o ministro do STF se encontra no centro de uma engrenagem que já decidiu mudar de peça — e o processo de substituição, segundo ele, está em curso. “O reinado de Alexandre de Moraes está chegando ao fim”, repetiu, como síntese de sua avaliação sobre a disputa entre poder institucional e poder econômico.

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