Jornalista do Estadão vê risco de anulação da liquidação do Master após ações de Toffoli
Álvaro Gribel aponta preocupação com acareação sigilosa e possibilidade de punição a técnicos que identificaram R$ 12,2 bilhões em créditos podres
247 – O risco de o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), anular a liquidação do Banco Master é tratado como real e crescente por integrantes do Banco Central, segundo avaliação publicada pelo repórter especial de economia Álvaro Gribel, do jornal Estado de S. Paulo. No texto, ele afirma que a ameaça é “concreta, crescente e atual” e sustenta que o temor, dentro do BC, não se concentra no ministro Alexandre de Moraes, mas justamente em Toffoli, que poderia reverter decisões técnicas e ainda atingir servidores responsáveis pela fiscalização.
De acordo com Gribel, a preocupação é que Toffoli venha a anular formalmente a liquidação do banco privado e punir os técnicos que identificaram R$ 12,2 bilhões em créditos considerados podres, que teriam sido revendidos ao Banco Regional de Brasília (BRB). O jornalista descreve o cenário como um teste de resistência institucional, no qual o trabalho do Banco Central pode acabar sendo desautorizado por uma decisão judicial tomada sem provocação direta, com efeitos potencialmente graves sobre o sistema financeiro.
Acareação sigilosa e pressão sobre a fiscalização
Um dos pontos centrais do texto é a acareação entre o banqueiro Daniel Vorcaro e o diretor de fiscalização do Banco Central, Ailton de Aquino. Gribel destaca que a acareação será sigilosa, o que, em sua avaliação, cria um ambiente de assimetria e pressão sobre o servidor público.
Segundo ele, o cenário coloca Toffoli — descrito como alguém “supostamente a favor do Master” — na posição de juiz em um embate que envolve, de um lado, um banqueiro diretamente interessado no desfecho do processo e, de outro, um técnico com décadas de serviços prestados ao Banco Central. Para o repórter, há uma tentativa de intimidação evidente, e o objetivo seria extrair de Aquino alguma declaração que possa ser vazada posteriormente para tumultuar o caso, frear a atuação do BC ou até mesmo anular a liquidação de forma oficial.
Decisão de ofício no STF e questionamentos sobre o caso ter chegado à Corte
O repórter do jornal Estado de S. Paulo também ressalta que Toffoli tomou decisões de ofício, sem provocação, e chegou a negar pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) para anular a acareação. O texto afirma que ainda é obscuro o motivo de a liquidação ter aterrissado no STF, e menciona que a Polícia Federal teria encontrado um documento com condições para a compra de um imóvel de Vorcaro pelo deputado federal João Carlos Bacelar (PL-BA), ponto revelado pelo próprio Estadão.
Na visão apresentada por Gribel, Toffoli estaria usando o cargo para reverter uma decisão que nasceu do trabalho de fiscalização da autoridade monetária. Já os atos atribuídos a Moraes, embora tenham gerado repercussão pública, seriam “passados” e não teriam levado o BC a recuar ou a mudar o rumo das investigações sobre o Banco Master.
Moraes, contrato milionário e cobrança por explicações
Gribel também aborda o caso envolvendo a esposa de Alexandre de Moraes, apontando que ela teria mantido um contrato milionário com o Banco Master — informação revelada por O Globo, segundo o texto. O jornalista ressalta que, diante disso, Moraes deveria explicações porque, mesmo que tenha feito apenas sondagens sobre o banco, isso poderia configurar crime de advocacia administrativa, caso um servidor público utilize o cargo para defender interesse privado.
O repórter, no entanto, enfatiza que “atos formais” de Moraes não teriam ocorrido, e que o ministro não teria utilizado decisões judiciais para favorecer Vorcaro. Ele também acrescenta que, embora circulasse a informação de que Moraes teria pressionado o Banco Central, órgãos envolvidos negaram categoricamente essa pressão, mesmo em conversas reservadas. O texto sustenta que, se houvesse evidências concretas, o caso teria sido levado ao presidente da República e à PGR.
Crise institucional e necessidade de código de ética no STF
O caso, na leitura de Gribel, vai além de um conflito pontual e expõe fragilidades institucionais importantes. Ele afirma que o episódio reforça a urgência de o STF adotar um código de ética capaz de impor limites e gerar constrangimentos adicionais a comportamentos de ministros e do Judiciário.
Ao fim, o repórter aponta que a possibilidade de uma decisão judicial reverter, de ofício, o trabalho de fiscalização do Banco Central pode minar a credibilidade da autoridade monetária e produzir impactos imprevisíveis no longo prazo sobre a solidez do sistema financeiro.
O alerta é direto: quando decisões técnicas e fiscalização bancária passam a depender de movimentos individuais dentro do STF, o sistema de freios e contrapesos se enfraquece, e o país entra em uma zona cinzenta institucional, na qual a estabilidade do sistema financeiro pode ser arrastada para disputas políticas e corporativas.



