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      "PT precisa definir estratégia para os próximos anos, não só disputar espaços", diz Pomar

      Disputa interna se intensifica com saída de Gleisi Hoffmann e racha na CNB pode paralisar o partido em um momento estratégico

      (Foto: Brasil247 | Lula Marques/Agência PT)
      Dafne Ashton avatar
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      247 - A sucessão no comando do Partido dos Trabalhadores (PT) escancarou disputas internas e expôs a fragilidade da hegemonia da corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), grupo majoritário da sigla. Com a saída de Gleisi Hoffmann para o governo Lula, o PT se vê diante de um impasse sobre quem comandará a legenda nos próximos anos, em um momento crítico de preparação para as eleições de 2026. Durante o programa Contramola, da TV 247, o historiador e dirigente petista Valter Pomar fez duras críticas ao processo e alertou para os riscos de uma disputa interna que não se baseie em projetos políticos, mas em controle de espaços. "O PT precisa definir sua estratégia para os próximos anos", afirmou. A presidência interina do PT foi assumida pelo senador Humberto Costa, escolhido entre os cinco vice-presidentes do partido. A falta de uma hierarquia clara na sucessão gerou insatisfação dentro da própria CNB, aprofundando ainda mais o racha na tendência que há anos comanda a sigla. "Cinco vices sem hierarquia é por causa das disputas internas na CNB. Quando não há uma hegemonia definida, o partido fica refém de disputas internas intermináveis", apontou Pomar.

       A CNB, que por anos manteve um controle mais ou menos coeso sobre a direção do PT, enfrenta agora uma fragmentação evidente. O ex-prefeito de Araraquara, Edinho Silva, era apontado como preferido para assumir a presidência, mas enfrenta resistência dentro do seu próprio grupo. Como alternativa, outros nomes da CNB surgiram no tabuleiro, como o senador Humberto Costa e o ministro do Trabalho, Luiz Marinho. A divisão entre os setores da CNB se aprofundou muito, segundo Pomar. "Esse racha paralisa o partido. Seria melhor que assumissem essa separação de forma clara, em vez de manter um acordo artificial", avaliou. Diante desse cenário, outras correntes internas do PT buscam lançar uma candidatura alternativa, fora da CNB. O nome mais citado é o do ex-presidente do PT e ex-deputado federal Rui Falcão, que já recebeu apoio de setores da esquerda petista. "Uma candidatura de Rui Falcão poderia atrair votos de filiados ligados a CNB mas descontentes”, ponderou Pomar, que ressaltou que a Articulação de Esquerda - tendência de que Pomar faz parte - lançará uma candidatura própria no próximo dia 15 de março. A indefinição na sucessão ocorre em um momento estratégico, em que o PT precisa se fortalecer para disputar prefeituras e consolidar sua base eleitoral antes de 2026. "Se o partido não conseguir resolver internamente suas contradições de forma política, essa crise pode enfraquecer sua atuação nos próximos anos", alertou Pomar.

       Além da disputa pelo comando do partido, o crescimento expressivo no número de novos filiados ao PT nos últimos meses também gerou polêmica. Desde dezembro, cerca de 340 mil novos filiados ingressaram na legenda, sendo que 82 mil dessas filiações ocorreram apenas no Rio de Janeiro. O aumento repentino levantou suspeitas de manipulação no processo eleitoral interno da sigla. Um recurso foi protocolado pedindo recadastramento dos novos filiados e a adoção de urnas eletrônicas para garantir mais transparência na escolha da nova direção. "Filiação em massa não pode ser uma ferramenta aceitável para grupos internos ganharem espaço dentro do partido. O PT precisa garantir que esses novos filiados sejam militantes reais e não apenas números usados para influenciar eleições internas", denunciou Pomar. Para o dirigente, o crescimento do partido precisa ser acompanhado de um trabalho de base estruturado, e não apenas de um aumento numérico. "O PT precisa de mais militantes ativos, inseridos nas lutas populares. Caso contrário, corre o risco de criar um partido cartorial, que existe apenas no papel", destacou. 

       A crise interna do PT acontece em um momento de fragilidade política e econômica do governo Lula. A falta de uma direção clara dentro do partido pode afetar diretamente a governabilidade e a preparação da sigla para as disputas eleitorais que se aproximam. "O PT precisa sair dessa disputa interna com um rumo político claro. Se isso não acontecer, o partido corre o risco de perder protagonismo e enfrentar dificuldades para liderar a esquerda nos próximos anos", alertou Pomar. O prazo para inscrição de candidaturas à presidência do partido segue aberto até maio. Até lá, a disputa deve se acirrar ainda mais, e o futuro do PT segue incerto. Sem um consenso sobre quem comandará a legenda e qual será sua estratégia política, a crise interna pode comprometer a força da sigla em um momento decisivo para o futuro da esquerda brasileira. Assista:

       

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