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Trump aposta na força militar por não conseguir derrotar Maduro nas urnas, analisa Breno Altman

Fracasso da oposição venezuelana leva os Estados Unidos a intensificar sanções, bloqueio econômico e ameaças de intervenção externa

Trump aposta na força militar por não conseguir derrotar Maduro nas urnas, analisa Breno Altman (Foto: Reuters | Divulgação )

247 - A intensificação da pressão dos Estados Unidos contra a Venezuela é resultado direto do fracasso da oposição venezuelana em derrotar o presidente Nicolás Maduro pela via eleitoral. A avaliação é do jornalista e analista político Breno Altman, que analisou o atual cenário de tensão entre Washington e Caracas em entrevista à TV 247. 

Segundo ele, diante da ausência de forças internas capazes de promover uma mudança de governo, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, passou a apostar na coerção externa e na ameaça militar como estratégia central. De acordo com Altman, o objetivo do governo Trump é explícito e não deixa margem para ambiguidades. 

“Definitivamente, a disposição de Donald Trump é derrubar o governo Maduro, é fazer aquilo que a literatura atualmente chama de mudança de regime. Trocar o governo Maduro por um governo submisso à Casa Branca e aos interesses norte-americanos na Venezuela”, afirmou.

Breno Altman destacou que a oposição venezuelana chegou esgotada ao processo eleitoral realizado em julho de 2024. Além de não conseguir derrotar Maduro nas urnas, o campo oposicionista se fragmentou internamente, o que teria inviabilizado qualquer tentativa de mudança de governo a partir de dentro do país. 

“Como essas forças internas se exauriram no processo eleitoral do ano passado e como a oposição de direita se dividiu, Donald Trump só ficou com uma carta na mão, que é a carta da agressão militar, é tentar mudar o regime de fora para dentro”, disse.

Segundo o jornalista, a direita venezuelana se partiu entre um setor abertamente golpista e alinhado aos Estados Unidos, liderado por Maria Corina Machado, e outro setor que optou por aceitar o resultado eleitoral e atuar dentro da institucionalidade. Essa divisão teria eliminado a possibilidade de uma ofensiva interna consistente contra o chavismo.Da retórica ao bloqueio econômico

Altman explicou que a mudança de estratégia dos Estados Unidos ocorreu de forma gradual, mas constante. Inicialmente, o governo Trump passou a justificar suas ações com um discurso de combate ao narcoterrorismo. Em seguida, avançou para uma escalada política e jurídica, classificando o governo venezuelano como uma organização terrorista estrangeira. 

“Foi um truque para evitar a aprovação parlamentar de uma declaração de guerra e permitir ataques sem passar pelo parlamento”, analisou. Mais recentemente, a estratégia teria entrado em uma fase ainda mais agressiva, com foco direto na economia venezuelana, especialmente no setor petrolífero. 

“Agora busca asfixiar completamente a economia venezuelana com um bloqueio naval, especialmente as embarcações de petróleo”, afirmou.

]Para Altman, o discurso norte-americano que acusa a Venezuela de ter “roubado petróleo, terras e ativos dos Estados Unidos” não se sustenta.
“É uma fantasia psicótica que ninguém entende o que ele quer dizer com isso”, disse.Escalada não enfraquece Maduro, afirma Altman

Apesar do aumento das sanções e ameaças, Breno Altman avaliou que a ofensiva dos Estados Unidos não produziu o efeito esperado. Em vez de enfraquecer o governo venezuelano, a pressão externa teria reforçado o apoio interno a Maduro. 

“O governo de Nicolás Maduro, ao invés de se enfraquecer, está se fortalecendo”, afirmou.O jornalista relatou que esteve recentemente na Venezuela e observou um cenário de estabilidade política e mobilização popular. 

“Praticamente todos os dias há grandes manifestações populares em defesa do país e contra a agressão norte-americana. Gigantescas manifestações de centenas de milhares de pessoas”, disse.Segundo ele, enquanto o governo convoca atos massivos, a oposição não consegue promover nenhuma atividade pública relevante. 

“Você tem gigantescos atos convocados pelo governo e nenhuma atividade pública liderada pela oposição”, completou.Trump não pode recuar sem custo político
Na avaliação de Altman, o presidente dos Estados Unidos se encontra agora em uma situação delicada. Após elevar o tom e aprofundar a escalada, Trump teria dificuldade de recuar sem sofrer desgaste político interno. 

“Ele já foi longe demais. Se ele recuar sem fazer nada, ele vai se desmoralizar”, afirmou.Por isso, Altman considera provável algum tipo de ação militar limitada. 

“O mais provável é um ataque cirúrgico, um bombardeio cirúrgico da Venezuela, escolhendo poucos alvos que demonstrem o poderio norte-americano”, disse.Ainda assim, o jornalista descartou qualquer possibilidade de rendição venezuelana. 

“Somente parvos podem achar que a Venezuela se dobrará aos Estados Unidos. Não irá acontecer”, declarou.Mudança de regime como peça-chave da estratégia regional
Para Breno Altman, a insistência dos Estados Unidos em derrubar Maduro não se explica apenas pelas riquezas naturais da Venezuela, mas também por seu papel geopolítico na América Latina. 

A Venezuela seria a primeira peça do dominó. Depois da Venezuela, todas as demais cairiam”, afirmou. Segundo ele, Washington aposta que a queda do chavismo facilitaria a consolidação de governos alinhados aos interesses norte-americanos em toda a região. 

“Donald Trump poderia contar com governos de direita em todo o continente”, disse.Nesse contexto, a impossibilidade de derrotar Maduro pelas urnas teria levado os Estados Unidos a abandonar qualquer aposta institucional e a concentrar esforços em uma estratégia de coerção externa.

Altman reforçou que não existe um conflito entre dois países em condições semelhantes, mas sim uma agressão unilateral. “Não há um conflito entre os Estados Unidos e a Venezuela, há uma agressão. Há um agressor e há uma vítima”, afirmou. 

Segundo ele, a postura do governo venezuelano de defender a paz e denunciar a agressão internacional é parte central de sua estratégia política. “A Venezuela não oferece nenhum risco à segurança dos Estados Unidos”, disse.

Para o analista, o fracasso da oposição venezuelana nas urnas marcou um ponto de inflexão na política norte-americana. A partir desse momento, Donald Trump teria abandonado qualquer expectativa de mudança interna e passado a apostar na força, nas sanções e na pressão militar como último recurso para tentar impor seus interesses na Venezuela.

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