Parceria entre Brasil 247 e Global Times

HOME > Global Times

China prepara resposta dura após provocação do Japão sobre Taiwan

Pequim afirma que Tóquio cruzou limites ao vincular a segurança japonesa à questão de Taiwan e alerta que o país terá de arcar “com todas as consequências”

China prepara resposta dura após provocação do Japão sobre Taiwan (Foto: Global Times)

247 – A tensão entre China e Japão alcançou um novo nível após as declarações da primeira-ministra japonesa, Sanae Takaichi, que associou diretamente um eventual conflito em Taiwan à segurança japonesa. Para Pequim, a fala rompe o entendimento político que sustenta as relações bilaterais e constitui uma provocação de gravidade inédita desde 1945.

As informações foram divulgadas pelo jornal Global Times, que destacou um artigo publicado no sábado pelo perfil yuyuantantian, ligado à emissora estatal China Central Television (CCTV). O texto afirma que “a China já fez preparações para levar adiante contramedidas substanciais contra o Japão” e ressalta que, diante das declarações de Takaichi, “a paciência tem limites”.

Convocação extraordinária e advertências em tom histórico

A resposta chinesa começou a ganhar força no dia 14 de novembro, quando o vice-ministro das Relações Exteriores, Sun Weidong, convocou o embaixador japonês Kenji Kanasugi às 2h56 da madrugada, uma ação qualificada como realizada “sob instruções” — expressão raríssima na diplomacia sino-japonesa, segundo o próprio yuyuantantian.

Especialistas citados pelo veículo afirmam que essa formulação indica que Sun transmitiu diretamente a posição de um nível superior de autoridade, representando, portanto, a “vontade nacional” da China.

Na mesma sexta-feira:

  •  A porta-voz da chancelaria chinesa apresentou três questionamentos decisivos ao governo japonês sobre atividades militares recentes.
  •  O Ministério da Defesa advertiu que, caso Tóquio decida “arriscar” interferir militarmente na questão taiwanesa, “sofrerá uma derrota esmagadora” e pagará “um preço pesado”.
  •  À noite, o embaixador chinês no Japão, Wu Jianghao, reuniu-se com o vice-ministro Kenji Funakoshi, também “sob instruções”.

Na manhã de sábado, o Diário do Exército de Libertação Popular publicou o artigo “O Japão pagará um preço insuportável se ousar intervir militarmente na situação do Estreito”, assinado por Jun Sheng.

Pequim vê violação ao legado histórico da Segunda Guerra e ameaça novas medidas

O perfil yuyuantantian observou que as reações chinesas ocorrem no ano que marca o 80º aniversário da vitória na Guerra de Resistência do Povo Chinês contra a Agressão Japonesa e na Segunda Guerra Mundial. Nesse contexto, afirma o artigo, as declarações de Takaichi se tornam “ainda mais ultrajantes”.

A escalada retórica, segundo o Global Times, passou de pedidos para que o Japão “cessasse imediatamente a interferência” para advertências explícitas de que “todas as consequências deverão ser arcadas pelo lado japonês” e de que Pequim dará “uma resposta firme”.

Conforme explicou o especialista Xiang Haoyu, do China Institute of International Studies, o uso de “sob instruções” revela que a convocação não partiu apenas do nível ministerial, mas refletiu diretamente a posição da alta liderança chinesa. Ele afirmou: “Trata-se da vontade nacional da China, sustentada por 1,4 bilhão de pessoas.”

O artigo alerta diretamente Takaichi: “O povo chinês não aceita provocações. Tente provocá-lo e as coisas ficarão feias.”

Possíveis contramedidas incluem suspensão de diálogos, sanções e impacto econômico

A análise publicada pelo yuyuantantian detalha que a China tem amplo repertório de medidas de pressão relacionadas à questão de Taiwan. Cerca de 80% da lista atual de contra-sanções envolve figuras políticas e entidades que adotaram posições consideradas hostis ao país.

Entre possíveis ações futuras, o texto cita:

  •  suspensão de contatos governamentais em frentes econômica, diplomática e militar;
  •  aplicação de sanções a políticos japoneses;
  •  restrições a viagens e orientações para que cidadãos chineses evitem deslocamentos ao Japão;
  •  medidas de impacto econômico, dado que a China é o maior parceiro comercial do Japão e diversos setores japoneses são “altamente dependentes” de importações chinesas.

O jornal observa ainda que os avisos de Pequim têm implicações militares, especialmente após movimentos recentes do governo japonês, como a reintrodução de patentes militares do antigo Exército Imperial e relatórios que mencionam operações submarinas próximas ao litoral chinês. Para analistas, esses gestos reforçam a percepção de uma tentativa de reabilitação do militarismo japonês.

Disputa ultrapassa o âmbito bilateral e toca o pós-Guerra no Leste Asiático

Segundo Lü Yaodong, da Academia Chinesa de Ciências Sociais, as atitudes de Takaichi “violam gravemente o direito internacional, as normas fundamentais das relações internacionais e abalam a ordem internacional do pós-guerra”. Ele lembra que o Japão, como país derrotado em 1945, está submetido a restrições explícitas em sua Constituição pacifista — especialmente o Artigo 9, que renuncia ao uso da força na resolução de disputas.

O Global Times acrescenta que a insatisfação não é exclusiva da China: desde que Takaichi assumiu o cargo, suas declarações têm despertado críticas também na Rússia, na Coreia do Sul e em outros países da região.

O artigo conclui com uma advertência incisiva de Pequim a certos políticos japoneses:

 “Parem de viver em delírios de arrogância e grandeza. Existem coisas que simplesmente não se pode fazer.”

Artigos Relacionados