Global Times: crise na Venezuela expõe necessidade de responsabilização moral dos Estados Unidos
Ações de Washington contra o setor petrolífero venezuelano isolam os EUA e reacendem memória histórica de intervenções na América Latina
247 – Um editorial do Global Times afirma que a escalada das ações dos Estados Unidos contra a Venezuela exige um acerto de contas com a “responsabilização moral” de Washington e coloca o país em rota de colisão com padrões éticos internacionais. O texto analisa a apreensão de navios petroleiros, o impacto econômico e humanitário das sanções e o isolamento diplomático crescente dos EUA na região.
Segundo o editorial, no dia 20 de dezembro, os Estados Unidos apreenderam um segundo petroleiro de petróleo bruto ao largo da costa venezuelana. No mesmo dia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva alertou que “uma intervenção armada na Venezuela seria uma catástrofe humanitária para o hemisfério e um precedente perigoso para o mundo”. De acordo com o jornal, aliados históricos de Washington, como Reino Unido, França e Holanda, teriam suspendido ou limitado o compartilhamento de informações de inteligência com os EUA sobre a região, sinalizando desconforto com a escalada.
Asfixia econômica e risco social
O Global Times destaca que o petróleo é o eixo central da economia venezuelana, com produção estimada em cerca de 1 milhão de barris por dia. A intensificação do bloqueio norte-americano provocou uma queda abrupta nas exportações, deixando diversos petroleiros carregados de petróleo retidos em águas venezuelanas, incapazes de zarpar.
Para o jornal, essa estratégia representa um “estrangulamento” da base econômica do país, com consequências diretas para a população. O governo venezuelano já indicou estar pronto para declarar estado de emergência diante do que classifica como ameaça de “agressão” por parte dos Estados Unidos, o que, segundo o editorial, aumenta o risco de uma nova crise internacional no Caribe, em um cenário global já marcado pelos conflitos na Ucrânia e no Oriente Médio.
Herança do monroísmo e ressentimento regional
O texto recupera o histórico das relações entre Estados Unidos e América Latina para sustentar que a atual crise não é um episódio isolado. O editorial menciona a Doutrina Monroe e suas consequências, citando guerras, ocupações militares, embargos prolongados, golpes apoiados por Washington e intervenções diretas que, ao longo do século XX, violaram a soberania de países como México, Cuba, Guatemala, Chile e Panamá.
Segundo o Global Times, esse histórico alimentou um ressentimento profundo na região. O jornal afirma que, quanto mais os Estados Unidos reprimem e intervêm, mais se aprofunda a animosidade latino-americana, acelerando o distanciamento político e estratégico entre Washington e seus vizinhos do sul.
Direito ao desenvolvimento e apoio internacional
O editorial sustenta que o direito ao desenvolvimento é inerente a todas as nações e que a Venezuela tem o direito de escolher seu próprio caminho e buscar cooperação mutuamente benéfica com parceiros internacionais. Essa posição, segundo o texto, é amplamente compartilhada pelos países do Sul Global.
Ao solicitar uma reunião emergencial do Conselho de Segurança da ONU, a Venezuela recebeu apoio de diversos países latino-americanos. O jornal destaca ainda a iniciativa do Brasil de se oferecer como mediador entre Washington e Caracas, como sinal de que a comunidade internacional tende a compreender a posição venezuelana e a rejeitar precedentes que violem o direito internacional, especialmente a possibilidade de apreensão de ativos estrangeiros com base em legislações domésticas dos EUA.
Militarização, rejeição interna e desgaste estratégico
O Global Times lembra que a América Latina e o Caribe foram declarados, em 2014, uma Zona de Paz, e argumenta que qualquer ação militar contra a Venezuela sabotaria esse compromisso regional. O editorial critica o aumento da presença militar norte-americana no sul do Caribe, descrita como “a maior em décadas”, alertando que isso pode gerar recessão econômica, instabilidade política, crises humanitárias e ondas migratórias com efeitos diretos sobre os próprios Estados Unidos.
O texto cita uma pesquisa do instituto Quinnipiac, segundo a qual 63% dos norte-americanos se opõem a uma ação militar contra a Venezuela, enquanto apenas 25% a apoiam. Para o jornal, isso revela uma percepção crescente dentro dos próprios EUA de que intervenções militares tendem a produzir mais problemas do que soluções, corroendo a credibilidade diplomática do país.
Escolha estratégica e lição histórica
Na conclusão, o editorial observa que, no início do século XIX, os Estados Unidos chegaram a apoiar a resistência latino-americana contra o colonialismo europeu, acumulando certo capital simbólico na região. No entanto, à medida que se consolidaram como potência global, tornaram-se, segundo o texto, um fator externo de instabilidade e subdesenvolvimento na América Latina.
O Global Times afirma que Washington enfrenta agora uma escolha estratégica decisiva e cita um princípio recorrente da história: “uma causa justa reúne amplo apoio, enquanto uma causa injusta encontra pouco respaldo”. Para o jornal, apenas relações baseadas em respeito mútuo, igualdade e cooperação podem garantir paz duradoura e desenvolvimento, não apenas para a Venezuela e a América Latina, mas também para o próprio povo norte-americano.




