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    O dilema europeu diante da mudança na política externa dos EUA

    Com a nova postura de Washington sobre a Ucrânia, líderes da União Europeia enfrentam o risco de isolamento e incerteza geopolítica

    Emmanuel Macron, Keir Starmer e Volodymyr Zelensky (Foto: NTB/Javad Parsa/via Reuters)
    Redação Brasil 247 avatar
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    247 – As recentes movimentações diplomáticas entre os Estados Unidos e a Ucrânia colocaram a União Europeia em uma posição delicada. Conforme analisado por Fyodor Lukyanov em artigo originalmente publicado no jornal Rossiyskaya Gazeta e traduzido pela RT, a crise entre Washington e Kiev expôs a fragilidade da estratégia europeia para o conflito. O governo dos EUA, sob influência do ex-presidente Donald Trump e seus aliados, sinaliza uma mudança drástica na abordagem, priorizando o fim das hostilidades em vez de uma confrontação direta com a Rússia.

    O que antes parecia ser um compromisso inabalável com a defesa da Ucrânia agora se revela como um instrumento de conveniência dentro de um jogo geopolítico maior. O apoio de Washington a Kiev nunca foi um princípio fixo, mas sim uma variável ajustável conforme os interesses estratégicos dos EUA. Esse novo cenário deixa os países da UE sem uma alternativa clara, pois não possuem meios econômicos e militares para substituir os americanos como principais patrocinadores do esforço de guerra ucraniano.

    A encruzilhada da União Europeia

    Os líderes europeus insistem publicamente que a Ucrânia não será abandonada, mas, na prática, enfrentam sérias limitações. Além da dependência histórica dos EUA na área de segurança, o bloco está imerso em uma série de crises internas que dificultam qualquer decisão drástica. Mudar de posição abruptamente seria admitir erros estratégicos e abrir espaço para críticas internas, fortalecendo movimentos nacionalistas e céticos da política externa da UE.

    Outro fator que complica a situação europeia é a sua própria estrutura política. Ao contrário dos Estados-nação tradicionais, o bloco opera sob uma burocracia lenta e complexa, o que dificulta ajustes rápidos na política externa. Durante anos, a UE tentou transformar essa característica em uma força moral, posicionando-se como um modelo de governança multilateral. No entanto, os eventos recentes sugerem que essa estratégia pode não ser viável diante de um mundo onde os interesses nacionais se sobrepõem a ideais coletivos.

    A visita do chanceler alemão Friedrich Merz a Washington será um teste para essa nova realidade. Apesar de se apresentar como um defensor da postura europeia firme contra a Rússia, há indícios de que Berlim pode recalibrar sua posição para se alinhar com a nova abordagem americana. Esse pragmatismo alemão pode ser um sinal de que outros países seguirão o mesmo caminho, mesmo que a narrativa oficial continue defendendo uma postura rígida em relação ao conflito.

    O futuro das relações transatlânticas

    Diante dessa mudança no tabuleiro geopolítico, a UE tem basicamente duas opções: tentar preservar sua aliança com os EUA, mesmo que em termos menos vantajosos, ou buscar uma autonomia estratégica – cenário este que, pelas divisões internas e pela falta de uma liderança forte, parece improvável.

    Trump e seu círculo político já deixaram claro que não consideram mais uma Europa forte e unida como um ativo estratégico para os EUA. A lógica de décadas passadas, onde Washington incentivava a integração europeia como uma forma de consolidar o Ocidente sob sua liderança, já não se aplica. Para os republicanos trumpistas, o bloco europeu é hoje um obstáculo burocrático e um concorrente econômico, e não um parceiro indispensável.

    Se os líderes europeus decidirem desafiar essa nova postura americana, a consequência poderá ser um abalo profundo na relação transatlântica e o início de um novo ciclo político global. No entanto, essa resistência demandaria um grau de coesão e pragmatismo que o bloco ainda não demonstrou possuir.

    O olhar de Moscou

    Para a Rússia, os desdobramentos da crise dentro do Ocidente não são um problema a ser resolvido, mas sim uma oportunidade estratégica. O Kremlin não vê valor em uma UE forte e alinhada aos EUA e, com a erosão da influência americana no bloco, abre-se um espaço para uma política externa mais flexível e baseada em interesses pragmáticos.

    A nova realidade geopolítica não permite mais grandes planejamentos estratégicos de longo prazo. Em vez disso, o momento exige ações rápidas e decisões táticas que garantam os interesses russos em meio à reconfiguração do poder global. Moscou está ciente de que a incerteza dentro da União Europeia e as dificuldades em manter a unidade política tornam o bloco um ator menos previsível e, consequentemente, mais vulnerável a pressões externas.

    A crise entre EUA e UE pode ser o ponto de virada que consolidará uma nova ordem mundial, onde alianças se tornam cada vez mais fluidas e interesses nacionais ganham primazia sobre compromissos ideológicos. O futuro da Europa dependerá da capacidade de seus líderes de se adaptarem a essa realidade sem ficarem reféns de uma estratégia obsoleta.

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