TV 247 logo
    HOME > Ideias

    Steven Levitsky explica como os EUA caminham para se tornar um regime autoritário

    Autor de 'Como as Democracias Morrem' alerta para erosão democrática sob Trump e critica passividade republicana

    (Foto: Divulgação)
    Redação Brasil 247 avatar
    Conteúdo postado por:

    247 – O cientista político e professor da Universidade de Harvard, Steven Levitsky, um dos autores do livro How Democracies Die (Como as Democracias Morrem), voltou a soar o alarme sobre os riscos à democracia nos Estados Unidos. Em entrevista à Intelligencer, Levitsky analisou como o país está avançando para o que ele e o também cientista político Lucan A. Way definem como "autoritarismo competitivo". O conceito, descrito recentemente em artigo publicado na Foreign Affairs, trata de regimes em que líderes eleitos usam as instituições para minar a oposição, enfraquecer a imprensa e consolidar seu poder, mantendo uma fachada democrática.

    Levitsky vê com preocupação a rapidez com que esse processo tem se desenvolvido. "Estamos bem ferrados", afirmou. "Sabíamos que os republicanos não iriam impor grandes obstáculos, mas eles foram ainda mais fracos do que eu esperava. O Congresso, em vez de atuar como um contrapeso, basicamente se autoanulou diante do avanço do Executivo."

    O fator Elon Musk e a concentração de poder

    Entre os aspectos que surpreenderam Levitsky, está o papel do bilionário Elon Musk no atual cenário político. Segundo ele, Musk representa um fator novo e preocupante na dinâmica autoritária. "Nunca vimos uma concentração de poder econômico, político e midiático tão vasta nas mãos de um indivíduo que não foi eleito", alertou. "Isso é um território desconhecido. Não sabemos o que ele pode fazer com dados ou como pode influenciar o cenário político."

    Levitsky também apontou o comportamento errático de Trump como um elemento de risco. "Ele não está construindo uma coalizão sustentável como Chávez, Orbán ou Erdoğan fizeram. Ele está queimando pontes rapidamente e criando inimigos de forma impulsiva."

    Democratas passivos e a falta de resistência

    Questionado sobre a reação dos democratas e da sociedade civil, Levitsky expressou frustração com a falta de resistência organizada contra os ataques à democracia. Ele criticou a tendência de líderes democratas de focar apenas em temas econômicos, como inflação e custo de vida, em detrimento da defesa das instituições. "Quando a democracia está sob ameaça, você não pode simplesmente dizer 'meus dados mostram que é melhor falar de economia'. Você precisa defender a Constituição."

    O cientista político comparou o atual momento político a uma luta de boxe, onde Trump, o desafiante, entra no ringue atacando com tudo e deixa a oposição desorientada. "Não sabemos quanto tempo ele pode manter esse ritmo. Mas ele pegou todo mundo de surpresa, porque o establishment estava dormindo."

    O mito da "vitória esmagadora" de Trump

    Levitsky também criticou a forma como a mídia e o Partido Democrata reagiram à vitória eleitoral de Trump. "Estamos falando de uma margem de 1,5 ponto percentual. Mas quando Trump vence por um, parece que venceu por 30, porque ele domina a narrativa. O New York Times chegou a chamar isso de uma 'vitória esmagadora', quando claramente não foi."

    Segundo ele, se Trump cair nas pesquisas, sua aura de invencibilidade pode desmoronar. "Se ele cair para 40% de aprovação, veremos alguns republicanos se distanciando. Se chegar a 35%, pode ser um divisor de águas. CEOs, políticos e aliados podem começar a pular do barco. Isso não significa que ele não poderá causar danos, mas pode desacelerá-lo."

    O futuro do Partido Republicano

    Sobre a lealdade inabalável dos republicanos a Trump, Levitsky apontou que, historicamente, partidos personalistas tendem a cair junto com seus líderes. "O ANC na África do Sul acabou rompendo com Jacob Zuma. O UMNO se voltou contra Mahathir Mohamad na Malásia. Em muitos casos, quando um líder domina um partido de forma tão absoluta, a queda dele arrasta a sigla junto."

    Por enquanto, contudo, ele vê poucos sinais de mudança. "O Partido Republicano está completamente submisso a Trump. A não ser que ele se torne muito impopular ou sofra um declínio físico, não há incentivos para que o abandonem."

    "Nunca achei que os EUA entrariam nesse caminho"

    Por fim, Levitsky admitiu que nunca imaginou que os Estados Unidos se tornariam um exemplo prático de suas teorias sobre autoritarismo competitivo. "Nos anos 2000, quando publicamos nosso primeiro artigo sobre isso, nos perguntavam se os EUA poderiam seguir esse caminho. Achávamos que não. Mas hoje, infelizmente, essa é a realidade."

    A grande incógnita, segundo ele, é se a sociedade americana reagirá a tempo. Caso contrário, os EUA podem se tornar mais um exemplo de democracia corroída por dentro, tal como tantas outras na história.

    ❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com redacao@brasil247.com.br.

    ✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

    iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

    Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

    Relacionados