Autoridades e especialistas defendem papel estratégico do Complexo Econômico-Industrial da Saúde
Transformação produtiva no Brasil e concentração de recursos de saúde nos países ricos foram temas de debates no 14º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva
247 - O 14º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, o Abrascão, realizado na última semana, contou com uma mesa redonda de membros do governo federal e especialistas da área da saúde pública, que discutiram as perspectivas para o Complexo Econômico-Industrial da Saúde (CEIS).
Com o tema “Complexo Econômico-Industrial da Saúde (CEIS): Soberania, Inovação e Desenvolvimento”, a mesa contou com a presença da ministra de Gestão e Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, e da ex-ministra da Saúde e pesquisadora da Fiocruz, Nísia Trindade. A mediação coube a Claudio Maierovitch, sanitarista da Fiocruz-Brasília.
"É preciso orientar a economia para os objetivos do bem-estar e da sustentabilidade ambiental, articulando inovação e transformação produtiva às demandas do SUS e da sociedade”, enfatizou Carlos Gadelha, coordenador do grupo de pesquisa GPCEIS/CEE-ENSP/Fiocruz na abertura da mesa redonda.
Os debatedores defenderam a necessidade de fortalecimento do CEIS, que coloca a produção nacional, a saúde e o Sistema Único de Saúde (SUS) como pilares fundamentais para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, de acordo com a divulgação oficial da Fiocruz.
Gadelha detalhou como as assimetrias globais desafiam a soberania nacional em saúde, demonstrando a concentração de conhecimento no Norte Global.
Dados apontam como países em desenvolvimento têm poucos investimentos em ciência, tecnologia e inovação em relação a países como EUA, China, Reino Unido e Alemanha, que concentram 51,65% da produção científica mundial.
Gadelha indicou várias discrepâncias em saúde entre o Norte Global e o Sul Global, como em produção científica, de vacinas, propriedade intelectual e saúde digital, mas apontou que existe saída para a superação dessa realidade:
Ele defendeu uma estratégia nacional que utilize o poder de compra do SUS, o maior sistema universal de saúde do mundo, para articular instituições públicas e privadas, orientar a economia para atender às demandas da sociedade com sustentabilidade ambiental e desenvolver produtos e inovações.
A ministra Esther Dweck concordou e complementou, destacando o papel estratégico das compras governamentais para fortalecer a indústria brasileira, gerar empregos e reduzir a vulnerabilidade do SUS.
“A saúde é uma grande inspiração e as compras públicas têm um peso gigantesco para fortalecer a indústria, gerar empregos e melhorar a balança comercial”. Ela continuou: “a implementação da experiência exitosa do CEIS na área da saúde pode servir como exemplo de fortalecimento de outras áreas da sociedade”.
Trindade ressaltou a relevância das políticas voltadas ao fortalecimento do Complexo Econômico-Industrial da Saúde, citando como exemplo a colaboração entre a Fiocruz, a Universidade de Oxford e a biofarmacêutica AstraZeneca para o desenvolvimento e a produção local da vacina contra a Covid-19, fundamental para garantir o direito à saúde durante a pandemia. Nísia ressaltou a necessidade da aceleração do acesso à ciência e às tecnologias para o enfrentamento de futuras pandemias.
Para ela, a fabricação da vacina contra a dengue — primeiro imunizante desenvolvido 100% no país, pelo Instituto Butantan — é uma demonstração do potencial da inovação.
A vacina foi desenvolvida via Programa de Desenvolvimento e Inovação Local (PDIL), que visa impulsionar o desenvolvimento de soluções produtivas e tecnológicas para o SUS.



