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Eliane Cantanhêde alerta para a irresponsabilidade de uma elite que cogita ver Michelle na Presidência

Colunista aponta degradação institucional, crise na direita e influência da ex-primeira-dama como sintomas de um projeto político sem qualificação

Michelle Bolsonaro (Foto: Reprodução)

247 – A possibilidade de uma candidatura de Michelle Bolsonaro ao Palácio do Planalto voltou a movimentar o debate político nacional. A análise é da colunista Eliane Cantanhêde, publicada pelo jornal Estado de S. Paulo, e destaca que apenas um ambiente institucional profundamente degradado permitiria levar a sério o nome da ex-primeira-dama para o cargo de presidente da República.

Segundo a autora, o fenômeno guarda semelhanças com o que ocorreu em 2018, quando uma forte sensação de perplexidade, desesperança e falta de alternativas impulsionou Jair Bolsonaro à vitória. “Assim como só uma sensação tão forte de perplexidade, desesperança e falta de alternativa poderia alavancar e garantir a vitória de Jair Bolsonaro em 2018, só num ambiente institucional tão degradado como o de hoje seria possível levar a sério o nome da sra. Michelle Bolsonaro para a Presidência”, escreve Cantanhêde.

Falta de experiência e riscos institucionais

A colunista ressalta que Michelle Bolsonaro se destacou em momentos simbólicos — como o discurso em libras na posse do marido, em 2019 —, mas não possui experiência administrativa, política ou intelectual que a credencie para governar o País. “Michelle é uma mulher bonita, que produziu a melhor imagem da posse do seu marido, discursando em libras, mas que experiência e qualificação pessoal, política, administrativa e intelectual ela tem para presidir o Brasil? Articular uma candidatura assim é uma irresponsabilidade com o País”, afirma.

A demonstração de força no Ceará e a influência sobre o bolsonarismo

A presença de Michelle no centro da disputa interna do PL reforçou sua projeção. Ela vetou publicamente a aliança do partido com Ciro Gomes no Ceará, contrariando dirigentes e enteados, o que desencadeou uma reunião emergencial e a implosão do acordo. Para Cantanhêde, cresce a percepção de que Jair Bolsonaro, embora incomodado com sua evidência, é quem mais a escuta: “Dizem, aliás, que só Bolsonaro segura Michelle, mas a percepção é o oposto: por mais que fique incomodado com sua evidência, ele é que só ouve a mulher.”

Além disso, Michelle voltou a roubar a cena no lançamento da candidatura de Bolsonaro à reeleição em 2022, consolidando-se como figura mobilizadora entre eleitores evangélicos e setores da extrema direita.

Plano B da família Bolsonaro e resistência do Centrão

Embora deva disputar o Senado pelo Distrito Federal, Michelle surge como plano B caso Jair Bolsonaro permaneça inelegível. Com Eduardo Bolsonaro enfrentando turbulências e Flávio Bolsonaro buscando reposicionamento, seu nome aparece como o mais competitivo para manter o sobrenome nas urnas em 2026.

Enquanto isso, o Centrão — chamado no texto de “direitão” — evita aderir a Michelle e aos filhos do ex-presidente, concentrando-se na busca de apenas uma alternativa: Tarcísio de Freitas. Uma eventual chapa entre Tarcísio e Michelle é tratada como improvável, tanto por resistência de Bolsonaro quanto pelo risco de ser rotulada como “chapa puro sangue bolsonarista”, algo que afastaria setores da centro-direita.

Um cenário imprevisível para 2026

A colunista avalia que um racha na direita pode favorecer o presidente Lula, mas também há quem projete que a rejeição ao bolsonarismo empurrará eleitores moderados para um nome apoiado pelo Centrão. Em qualquer caso, Michelle — assim como Jair Bolsonaro em 2018 — escapa aos padrões tradicionais de análise política e pode contribuir para tornar a disputa de 2026 altamente imprevisível.

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