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Michelle trabalha por 'projeto de poder pessoal', acusam bolsonaristas

Dirigentes partidários acusam a ex-primeira-dama de priorizar aliadas para compor chapas eleitorais, criando um núcleo “michelista” no PL

Michelle Bolsonaro (Foto: Reuters/Amanda Perobelli)

247 - Lideranças do PL e de partidos aliados intensificaram críticas à atuação da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, acusando-a de conduzir um movimento focado exclusivamente em um projeto próprio de poder. As acusações apontam que suas intervenções eleitorais têm provocado fissuras importantes no campo bolsonarista, sobretudo nas articulações para o Senado, relata Mônica Bergamo, da Folha de São Paulo.

Segundo dirigentes citados, a ex-primeira-dama estaria priorizando mulheres consideradas extremamente leais a ela — rotuladas por um deputado como “feministas de direita” — para compor chapas eleitorais em estados estratégicos, fortalecendo assim um núcleo “michelista” dentro do PL.

Essas candidaturas femininas, afirmam bolsonaristas, atenderiam não apenas ao critério de gênero, mas sobretudo ao de fidelidade pessoal à presidente do PL Mulher. A leitura entre parlamentares é de que, se eleitas, essas mulheres contribuiriam para consolidar um centro de poder exclusivo de Michelle, ampliando a disputa interna com os filhos de Bolsonaro, em especial Flávio, hoje limitado pela prisão do ex-presidente e pela consequente fragilidade de sua liderança.

O Ceará se tornou o palco mais recente dessa disputa. Michelle atua pela indicação da vereadora Priscila Costa (PL) a uma das vagas ao Senado, destacando sua defesa de pautas ligadas à família e à vida. A posição, porém, conflita com a estratégia do presidente estadual do PL, André Fernandes, que busca emplacar seu pai, Alcides Fernandes, na chapa majoritária articulada com Ciro Gomes ao governo e Eduardo Girão (Novo-CE) na segunda vaga ao Senado. Ao rejeitar a aliança com Ciro, Michelle reagiu: “Isso não dá”, afirmou, desencadeando uma resposta imediata dos filhos de Bolsonaro, que a acusaram de agir de forma autoritária.

Em Santa Catarina, a tensão se repete. A ex-primeira-dama apoia a candidatura da deputada federal Caroline de Toni (PL-SC) ao Senado, embora a vaga do partido no estado já esteja reservada a Carlos Bolsonaro. A segunda vaga da coligação está comprometida com o senador Esperidião Amin (PP-SC). Mesmo assim, Michelle fez declarações públicas em favor de Carol. A deputada Ana Campagnolo (PL-SC), aliada de Michelle e presidente do PL Mulher regional, ecoou a defesa e afirmou que Caroline estava sendo preterida porque a candidatura estaria sendo “dada” a Carlos. A reação da família Bolsonaro foi imediata: Carlos chamou Campagnolo de mentirosa, enquanto Eduardo acusou a parlamentar de confrontar o 'líder maior', Jair Bolsonaro, que determinou a candidatura do filho por Santa Catarina.

Outro foco de atrito aparece no Distrito Federal. Michelle apoia as pretensões de Bia Kicis (PL-DF) ao Senado, contrariando aliados próximos da família Bolsonaro, como o governador Ibaneis Rocha (MDB-DF), que também demonstra interesse na vaga.

As disputas regionais explicitam um cenário de fragmentação crescente entre os grupos que orbitam o bolsonarismo. No centro das divergências, Michelle Bolsonaro passa a ser vista por integrantes do PL como protagonista de um projeto político próprio.

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