Meta é acusada de ocultar evidências sobre danos das redes sociais à saúde mental
Documentos revelados na Justiça dos EUA indicam que a empresa enterrou estudos internos que apontavam impactos negativos do Facebook e do Instagram
247 – A Meta está no centro de novas acusações nos Estados Unidos após a divulgação de documentos não editados em um processo coletivo movido por distritos escolares contra grandes plataformas digitais. Segundo a agência Reuters, que revelou os detalhes da ação, arquivos internos indicam que a empresa teria encerrado pesquisas que apontavam efeitos negativos do Facebook e do Instagram sobre a saúde mental de usuários.
Os documentos fazem parte da ação conduzida pelo escritório Motley Rice contra Meta, Google, TikTok e Snapchat, em que os autores acusam as empresas de esconder riscos amplamente reconhecidos por elas próprias.
Estudo interno confirmou impacto psicológico negativo
De acordo com os registros obtidos via discovery, a Meta teria conduzido, em 2020, o chamado Project Mercury — uma pesquisa realizada em parceria com a Nielsen para avaliar os efeitos de “desativar” o uso de Facebook e Instagram.
O resultado foi considerado preocupante para a empresa: segundo os documentos, usuários que ficaram uma semana longe das plataformas relataram menor sensação de depressão, ansiedade, solidão e comparação social.
Em vez de publicar ou aprofundar o estudo, a companhia teria encerrado o projeto, alegando internamente que os resultados teriam sido “contaminados pela narrativa midiática” desfavorável à empresa.
No entanto, em comunicações privadas, funcionários teriam reconhecido a validade das conclusões.
Um pesquisador escreveu que “o estudo da Nielsen mostra impacto causal na comparação social”, acompanhado de um emoji de rosto triste.
Outro funcionário teria comparado a ocultação dos resultados ao comportamento da indústria do tabaco, dizendo que seria como “fazer pesquisa, saber que cigarros eram ruins e manter a informação em segredo”.
Apesar disso, a Meta teria afirmado ao Congresso dos EUA que não tinha capacidade de medir se seus produtos eram prejudiciais, especialmente para meninas adolescentes.
Empresa nega irregularidades e fala em metodologia falha
Em resposta à Reuters, o porta-voz Andy Stone afirmou que o estudo foi encerrado devido a falhas metodológicas e que a empresa trabalha há anos para aprimorar a segurança de seus produtos.
Segundo ele, “o registro completo mostrará que, por mais de uma década, ouvimos os pais, pesquisamos temas importantes e fizemos mudanças reais para proteger adolescentes”.
Stone também contestou as demais acusações, alegando que os trechos citados pelos autores da ação são “selecionados a dedo” e baseados em opiniões equivocadas.
Acusações incluem incentivo a menores, falhas de segurança e manipulação de organizações infantis
A denúncia apresentada pelos distritos escolares aponta que as plataformas teriam ocultado riscos de seus serviços de pais, professores e usuários.
As acusações incluem:
- incentivo tácito ao uso das plataformas por crianças abaixo de 13 anos;
- falhas na contenção de material de abuso sexual infantil;
- estratégias para aumentar o uso entre adolescentes durante o período escolar;
- tentativas de influenciar organizações voltadas ao público infantil para defender a segurança das plataformas.
Um dos episódios descritos envolve o TikTok, que teria patrocinado a National PTA e, internamente, comemorado a capacidade de influenciar publicamente a entidade. Segundo a denúncia, funcionários teriam afirmado que a organização faria “o que quisermos daqui para frente” e divulgaria comunicados favoráveis.
Acusações específicas contra a Meta são mais detalhadas
Os documentos internos citados no processo apresentam alegações particularmente graves contra a Meta. Entre elas:
- ferramentas de segurança para jovens teriam sido projetadas para serem ineficazes e pouco utilizadas;
- a empresa bloquearia testes de recursos de segurança que pudessem prejudicar métricas de crescimento;
- usuários envolvidos em tráfico sexual só seriam removidos após 17 tentativas, uma “margem muito alta”, segundo um documento;
- a otimização para engajamento elevaria a exposição de adolescentes a conteúdos nocivos — e ainda assim teria sido mantida;
- esforços internos para impedir que predadores contatassem menores teriam sido retardados por “preocupações com crescimento”;
- funcionários teriam sido pressionados a justificar internamente a decisão de não agir.
Os documentos também citam uma mensagem de texto atribuída a Mark Zuckerberg, em 2021, em que ele teria dito que não afirmaria que a segurança infantil era sua principal prioridade, já que estaria concentrado “na construção do metaverso”. Solicitações de Nick Clegg por mais investimentos em segurança para jovens teriam sido ignoradas ou rejeitadas.
Stone negou todas as alegações e afirmou que a empresa remove contas assim que são sinalizadas por tráfico de pessoas, e que suas medidas para adolescentes são amplamente eficazes.
Documentos ainda não são públicos
A Meta pediu à Justiça que suprima o material apresentado pelos autores, argumentando que o pedido de divulgação é excessivamente amplo, mas não que se opõe integralmente à sua liberação.
Uma audiência sobre o caso está marcada para 26 de janeiro, no Tribunal Distrital do Norte da Califórnia.



