Amoêdo defende a prisão de Bolsonaro e o surgimento de uma nova direita no Brasil
Ex-presidente do Novo lamenta a submissão da direita ao bolsonarismo
247 – O empresário João Amoêdo, fundador e ex-presidente do partido Novo, publicou neste sábado 22 um forte posicionamento em defesa da prisão preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro. Em um tweet, Amoêdo afirmou que a decisão do ministro Alexandre de Moraes é “correta e embasada”, citando as sucessivas violações cometidas por Bolsonaro e por aliados nos últimos dias. As declarações ocorrem no contexto da divulgação do relatório da Secretaria de Administração Penitenciária do Distrito Federal (Seap), tornado público por Moraes, que comprova a tentativa de Bolsonaro de destruir sua tornozeleira eletrônica.
Segundo Amoêdo, “lamentar a prisão do ex-presidente, com o argumento de seu estado de saúde, é um discurso oportunista da fraca oposição que temos hoje”. Para ele, Bolsonaro encontra-se “em condições superiores às de qualquer preso” e as mesmas lideranças que o defendem jamais demonstram preocupação com a situação carcerária de outros detentos.
“Havia risco concreto de fuga de Bolsonaro”, diz Amoêdo
Em sua publicação, Amoêdo enumera os fatores que, segundo ele, justificam a prisão preventiva. O ex-presidente violou a tornozeleira na madrugada de sábado, o que exigiu sua substituição. Antes disso, Flávio Bolsonaro havia convocado nas redes sociais uma grande manifestação em frente à mansão onde o pai cumpria prisão domiciliar desde 4 de agosto. E, para completar, o ex-delegado Alexandre Ramagem — também condenado por envolvimento na trama golpista — deixou o país nesta semana.
“Ou seja, havia risco concreto de fuga de Bolsonaro”, escreveu Amoêdo. Para o empresário, esse conjunto de elementos comprova que o ex-presidente representa ameaça real ao cumprimento das decisões judiciais.
Amoêdo critica submissão da direita ao bolsonarismo
Em tom crítico, o fundador do Novo lamentou a ausência de um campo conservador que não esteja submisso ao bolsonarismo. Ele afirmou que a incapacidade da direita de se desvincular de Bolsonaro compromete a qualidade da oposição e representa um “grande problema para o pleito de 2026 e para a política brasileira”.
O posicionamento de Amoêdo confronta lideranças da direita tradicional e expõe fissuras dentro do campo conservador, que segue dividido entre setores alinhados a Bolsonaro e vozes que tentam reconstruir um projeto liberal ou moderado.
Tentativa de violação da tornozeleira: relatório detalha uso de ferro de solda
O relatório da Seap, revelado após decisão de Moraes que retirou o sigilo do material, confirma que Bolsonaro tentou abrir a tornozeleira eletrônica com um ferro de solda. O próprio ex-presidente admitiu a intervenção em vídeo enviado ao STF.
“[Foi] curiosidade”, disse Bolsonaro ao explicar que tentou abrir o dispositivo no fim da tarde de sexta-feira (21). A violação foi detectada pelo Centro Integrado de Monitoração Eletrônica (CIME) às 00h07 de sábado (22). Horas depois, Bolsonaro foi preso pela Polícia Federal.
A equipe técnica constatou “marcas de queimadura em toda a circunferência” da tornozeleira. Diante do dano, o equipamento foi substituído imediatamente.
Mobilização de Flávio Bolsonaro e preocupação com risco de tumulto
A convocação feita por Flávio Bolsonaro para uma “grande vigília de orações” em frente à casa do pai foi citada por Moraes na decisão que determinou a prisão preventiva. Segundo o ministro, a mobilização poderia gerar tumulto e facilitar “eventual tentativa de fuga do réu”, agravando a situação do ex-presidente.
Condenação por trama golpista e fase final de recursos
Bolsonaro foi condenado a 27 anos e três meses de prisão pela Primeira Turma do STF por seu papel na trama golpista que atacou as instituições brasileiras. Na semana passada, a Corte rejeitou os embargos de declaração apresentados por Bolsonaro e outros réus, mantendo as penas. O prazo para apresentação dos últimos recursos se encerra neste domingo (23). Caso sejam rejeitados, as prisões serão executadas.
Na sexta-feira (21), a defesa pediu a concessão de prisão domiciliar humanitária alegando doenças permanentes, pedido negado neste sábado por Moraes. Os advogados afirmam que recorrerão da decisão.
Relação com investigação sobre lobby com governo Trump
Bolsonaro já estava em prisão domiciliar por descumprir medidas cautelares impostas no inquérito que investiga a atuação do deputado Eduardo Bolsonaro junto ao governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para promover retaliações contra o governo brasileiro e contra ministros do Supremo.
Essa investigação é uma das mais sensíveis no contexto da trama golpista, pois aponta tentativas de articulação internacional para pressionar e desestabilizar instituições brasileiras.



