Tiago Barbosa: sem a sabotagem diária da mídia, aprovação de Lula seria muito maior
Jornalista afirma que imprensa corporativa bloqueia conquistas do governo, blinda a direita, naturaliza chacinas e amplia o impacto de fake news
247 – Em entrevista à TV 247, concedida à jornalista Laís Gouveia, o jornalista e colunista do Brasil 247 Tiago Barbosa fez um balanço político e midiático do ano, com foco nas disputas de narrativa, na atuação da imprensa corporativa e nos riscos crescentes da desinformação no ciclo eleitoral de 2026. A conversa foi exibida no programa Fura Bolha, da TV 247.
Ao longo de quase uma hora de entrevista, Tiago sustentou que a comunicação do governo do presidente Lula melhorou de forma visível ao longo do ano, mas segue limitada por um bloqueio estrutural promovido pela grande mídia. Segundo ele, sem essa sabotagem cotidiana, a percepção pública sobre o governo seria muito mais positiva.
“A gente tem uma mídia que faz um anteparo, não no sentido de uma crítica construtiva, mas no sentido de bloquear o alcance dessas bandeiras positivas, dessas conquistas e desses avanços. Se não tivéssemos uma mídia tão alinhada à direita e a grupos extremistas, a comunicação do governo iria muito mais longe.”
A fake news do Pix e a força da mentira sob medida
Ao comentar a onda de desinformação envolvendo o Pix no início do ano, Laís avaliou que o governo sofreu uma derrota de narrativa. Tiago concordou e explicou que o impacto se deu porque a mentira foi construída para dialogar com preconceitos já consolidados na sociedade.
“A mentira, o boato e a fantasia circulam porque confirmam estereótipos. Elas reforçam ideias como a de que o Partido dos Trabalhadores é corrupto, que Lula é ladrão ou que o governo quer tomar o dinheiro das pessoas. A fake news do Pix toca exatamente nesses pontos.”
Segundo ele, o boato ganhou força porque mexe com algo presente no cotidiano de toda a população e porque se encaixa perfeitamente em um discurso já difundido pelas redes.
“Ela coloca o governo como alguém que quer controlar a sua forma de pagamento ou taxar o seu dinheiro. Isso cria medo e mobiliza rapidamente.”
Tiago também criticou a estratégia de recuo diante de narrativas falsas, avaliando que esse tipo de resposta tende a reforçar a mentira.
“Recuar diante de boatos é prejudicial, porque acaba confirmando a narrativa falsa. Quando você recua de uma medida correta por causa de uma mentira, passa a impressão de que quem inventou o problema tinha razão.”
Comunicação do governo melhora e assume tom mais combativo
Apesar das críticas, Tiago reconheceu avanços importantes na comunicação do governo ao longo do ano, especialmente a partir da adoção de uma postura mais direta e combativa.
“O governo passou a encampar bandeiras que circulavam na sociedade, como o fim da escala 6x1 e a isenção do imposto de renda. Isso foi positivo.”
Ele também destacou o uso mais frequente de pronunciamentos e peças publicitárias com linguagem acessível e maior sintonia com as redes sociais.
“O governo comunicou bem. O presidente Lula fez um pronunciamento forte e corajoso sobre o imposto de renda. As peças ficaram mais ágeis, mais conectadas com o que circula no ambiente digital.”
Para Tiago, a defesa explícita da soberania nacional também marcou uma inflexão importante.
“Quando o governo assume o discurso de que o Brasil é dos brasileiros, ele cria um contraste claro com o outro lado. Automaticamente, coloca os adversários como inimigos do país e se apresenta como quem defende a população.”
A omissão que despolitiza e apaga o mérito das políticas públicas
Um dos pontos centrais da entrevista foi a crítica à forma como a mídia tradicional cobre indicadores econômicos. Segundo Tiago, avanços como melhora da renda e aumento do consumo são noticiados sem qualquer associação às políticas públicas responsáveis por esses resultados.
“Você tem matérias dizendo que a renda melhorou, mas não associa essa melhora às políticas de governo. Quem lê não consegue fazer essa ligação e não se politiza.”
Ele afirmou que esse tipo de cobertura impede a formação de consciência crítica.
“A mídia brasileira age para despolitizar e obstruir o senso crítico da audiência. Ela trabalha com ausências. Diz que a renda melhorou, mas não explica por quê, nem quem fez.”
Laís concordou e ironizou o esforço retórico de manchetes que descrevem avanços econômicos como fenômenos espontâneos, sem autoria política.
Blindagem a Tarcísio e normalização do extremismo
Outro eixo forte da entrevista foi a crítica à cobertura da imprensa sobre o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Para Tiago, a mídia tenta vendê-lo como um nome moderado, ocultando sua ligação direta com o bolsonarismo e práticas autoritárias.
“Ele não é um moderado. Ele é um extremista. Ele foi ministro de Bolsonaro, herdou essas bandeiras e faz questão de mantê-las.”
Segundo ele, essa blindagem é perigosa porque normaliza posições extremistas.
“Quando você apresenta um extremista como moderado, você naturaliza esse comportamento. A violência passa a ser vista como normalidade.”
Tiago também criticou o padrão de dois pesos e duas medidas.
“Com a esquerda, a mídia transforma detalhes em escândalos. Com a direita, transforma crimes em descuidos.”
Chacinas, ‘antecedentes’ e a licença para matar
Ao tratar da cobertura sobre operações policiais, Tiago fez duras críticas ao discurso recorrente que tenta justificar mortes com base no histórico das vítimas.
“Toda vez que a polícia mata uma pessoa pobre e negra, a mídia coloca logo que ela tinha antecedentes, como se antecedente fosse licença para matar.”
Ele apontou que esse critério nunca é aplicado a pessoas ricas ou poderosas.
“Antecedente só serve para pobre. Rico com antecedentes não pode ser morto. Isso revela um viés brutal e desumano.”
Para Tiago, parte da imprensa perdeu qualquer compromisso com princípios humanitários e passou a tratar chacinas como instrumentos de disputa política.
Cortinas de fumaça e a guerra cultural permanente
O jornalista também analisou a estratégia da extrema direita de ocupar a agenda pública com pautas morais e “lacrantes” para desviar atenção de escândalos reais, como uso irregular de emendas e relações obscuras com dinheiro e poder.
“Eles criam fantasias que ocupam o tempo das pessoas enquanto cifras milionárias circulam, dinheiro é guardado em casa e imóveis são comprados em espécie.”
Segundo ele, a disputa central passa pelo controle da agenda.
“Quando você consegue colocar os temas realmente importantes na pauta, como renda, emprego e políticas públicas, você tira força dessas distrações.”
Inteligência artificial e o risco para 2026
Questionado sobre a próxima eleição, Tiago demonstrou preocupação com o impacto da inteligência artificial na produção de conteúdos falsos.
“O nosso ecossistema de comunicação não tem a velocidade necessária para identificar e combater esse tipo de coisa.”
Ele lembrou que, mesmo sem uso de IA, a fake news do Pix circulou por muito tempo antes de ser enfrentada de forma eficaz.
“Imagine isso com inteligência artificial, criando vídeos, áudios e imagens falsas. É muito preocupante.”
Otimismo com cautela
Por fim, Tiago avaliou que o cenário eleitoral é favorável ao presidente Lula, mas alertou para o risco de escândalos fabricados de última hora.
“Tudo caminha para uma vitória no primeiro turno, mas a opinião pública oscila muito rápido. A eleição é curta e vulnerável a mentiras bem construídas.”
Para ele, o resultado ideal seria aquele decidido com base na realidade concreta do país.
“Espero que a decisão seja tomada com base no aumento da renda, na redução da desigualdade e no fortalecimento das políticas públicas, e não em pânico artificial.”
A entrevista termina com um alerta claro: sem enfrentar a sabotagem diária da mídia corporativa e o ecossistema da desinformação, a disputa democrática seguirá desigual.



