Cerco militar imposto por exército israelense isola Qabatiya e aprofunda crise humanitária na Cisjordânia
Operação israelense impõe toque de recolher, demolições e detenções em massa no norte do território ocupado
247 - A cidade palestina de Qabatiya, localizada ao sul de Jenin, vive uma situação de completo isolamento após a imposição de um cerco militar rigoroso pelas forças de ocupação israelenses. Pelo segundo dia consecutivo, moradores permanecem confinados em suas casas sob um toque de recolher absoluto, enquanto a circulação de pessoas e veículos foi totalmente proibida, aprofundando o clima de medo e insegurança na região.
De acordo com a emissora Telesur, que cita informações da agência palestina WAFA e de outras fontes locais, o cerco é acompanhado por uma ampla operação militar que inclui interrogatórios em massa, detenções arbitrárias, demolições de residências e o deslocamento forçado de famílias palestinas. Tropas israelenses bloquearam acessos secundários da cidade com montes de terra e utilizaram tratores militares para destruir ruas e comprometer serviços básicos, como o fornecimento de energia elétrica, em diversos bairros.
A ofensiva em Qabatiya ocorre após uma ação da resistência palestina registrada na sexta-feira (26), nas localidades de Beisan e Afula, territórios ocupados desde 1948, que resultou na morte de dois israelenses. Em resposta, o exército israelense invadiu a residência de Ahmad Abu al-Rub, acusado pelas autoridades de envolvimento no ataque. Durante a incursão, soldados detiveram o pai do suspeito, expulsaram violentamente os demais familiares e realizaram medições técnicas para a demolição da casa, prática amplamente denunciada por organismos internacionais como punição coletiva.
Além das ações repressivas, instalações civis foram convertidas em estruturas militares temporárias. Uma escola em Qabatiya, por exemplo, foi transformada em centro de detenção e interrogatório em massa, segundo relatos locais. A militarização de espaços destinados à educação e à vida comunitária tem sido recorrente em diferentes pontos da Cisjordânia ocupada.
A escalada não se restringe a Qabatiya. Na Jerusalém Oriental ocupada, tropas israelenses invadiram a cidade de Anata ao amanhecer, disparando munição real e gás lacrimogêneo contra civis. Durante a operação, jovens palestinos foram detidos e câmeras de vigilância de estabelecimentos comerciais, confiscadas antes da retirada das forças.
Situações semelhantes foram registradas ao sul de Hebron, nas cidades de Dura e Deir Samet, onde casas foram alvo de buscas generalizadas com o objetivo de localizar e deter moradores. Na região de Belém, patrulhas militares circularam por Beit Fajjar e Tuqu’, enquanto a oeste de Ramalá um forte contingente foi mobilizado após um incidente envolvendo disparos nas proximidades do posto de controle de Hashmonaim.
Essas ações integram uma política sistemática de controle territorial destinada a sufocar a vida cotidiana e enfraquecer a resistência palestina na Cisjordânia. Trata-se da continuidade de um processo histórico iniciado com a Nakba de 1948, não podendo ser caracterizado apenas como resposta pontual a ações armadas recentes.
O contexto mais amplo é marcado pelo agravamento da ofensiva israelense também na Faixa de Gaza e pela intensificação das incursões militares na Cisjordânia e em Jerusalém. Desde o início dessa fase de violência, ao menos 1.103 palestinos foram mortos nesses territórios, enquanto o número de feridos ultrapassa 11 mil. Já o total de palestinos sequestrados ou detidos sob custódia israelense supera 21 mil, em operações que ocorrem diariamente.
Em Qabatiya, a destruição deliberada da infraestrutura básica empurrou a cidade para uma situação de emergência humanitária. Sem acesso regular a serviços essenciais e sob a constante ameaça de operações armadas, a população civil enfrenta condições cada vez mais precárias. Observadores internacionais alertam que o uso de escavadeiras para devastar vias urbanas e o corte intencional de energia configuram táticas de guerra contra civis, em violação ao direito internacional.
Enquanto isso, organizações palestinas reiteram que a resistência do povo palestino é um direito legítimo, reconhecido pelas Nações Unidas, diante de uma ocupação militar que atinge indiscriminadamente combatentes e famílias inteiras dentro de suas próprias casas.



