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Índia, Brasil e África do Sul reforçam aliança diante de ofensiva de Trump, aponta Bloomberg

Encontro trilateral em Joanesburgo busca reação coordenada às tarifas e pressões dos EUA

Índia, Brasil e África do Sul reforçam aliança diante de ofensiva de Trump, aponta Bloomberg (Foto: Ricardo Stuckert / PR)

247 - Líderes de Índia, Brasil e África do Sul decidiram ampliar sua coordenação política e econômica em resposta ao agravamento das tensões diplomáticas provocadas pelo atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O encontro ocorreu no domingo (23), em Joanesburgo, à margem da cúpula do G20.

A informação foi publicada originalmente pela Bloomberg, que apontou que a aproximação entre os três países funciona como um recado direto ao governo norte-americano. A movimentação surge após sucessivas ofensivas de Trump contra essas economias emergentes, incluindo tarifas elevadas, declarações hostis e críticas públicas.

Logo na abertura, o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, destacou que “nosso agrupamento reafirma que a diversidade não é uma linha de fratura, mas uma fonte de força”. Para ele, a união entre as três nações deve ajudar a construir um sistema internacional “mais representativo e responsivo”.

Trump pressiona e aproxima emergentes

Conforme a Bloomberg, a atual administração norte-americana tem revertido décadas de diplomacia ao adotar medidas agressivas contra Índia, Brasil e África do Sul. Nova Délhi foi alvo de tarifas de 50% em função de sua relação com a Rússia, além de ter sido irritada por repetidas declarações de Trump afirmando que teria negociado um cessar-fogo com o Paquistão.

Na África do Sul, o presidente dos EUA boicotou o próprio G20 e fez alegações falsas sobre um suposto “genocídio de fazendeiros brancos”. Já o Brasil foi pressionado com tarifas pesadas enquanto Washington tentava forçar o governo brasileiro a arquivar o processo contra Jair Bolsonaro, acusado de tentar um golpe contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Lula reagiu, e Trump recuou parcialmente ao liberar exceções tarifárias.

Para Syed Akbaruddin, ex-embaixador indiano na ONU, “a reunião é um recado para Trump”. Ele afirmou que, com os Estados Unidos demonstrando desinteresse por agendas africanas e pelo fortalecimento de organismos multilaterais, as economias emergentes buscam resolver seus desafios de forma coordenada. “É difícil prever como os EUA vão reagir”, disse.

Cooperação trilateral volta ao centro

Mesmo integrantes do BRICS, os três países enxergam na aliança trilateral um espaço mais equilibrado e com agendas mais alinhadas. Segundo diplomatas citados pela Bloomberg, a África do Sul propôs reativar as reuniões de alto nível, priorizando grupos menores e mais eficientes após a ampliação do BRICS.

Ben Joubert, representante da chancelaria sul-africana, explicou que “é relativamente fácil construir consensos nesse formato e avançar nos temas que consideramos importantes”. Em entrevista, reforçou: “Vamos empenhar todos os esforços para fortalecer nossa cooperação”.

A última reunião desse grupo havia ocorrido em 2011, também na África do Sul. Formada oficialmente em 2003, a aliança trilateral atua em questões de governança global, cooperação entre países do Sul Global e financiamento conjunto de projetos sociais e de infraestrutura.

O conselheiro internacional do presidente Lula, Celso Amorim, ressaltou que “há uma afinidade natural entre os três países”. Já Veda Vaidyanathan, pesquisadora do Centre for Social and Economic Progress, de Nova Délhi, afirmou que a participação indiana é “significativa” em um contexto no qual várias nações tentam reduzir riscos e diversificar cadeias de suprimentos.

Embora o encontro em Joanesburgo não deva gerar anúncios de grande impacto, a reunião simboliza o esforço de Índia, Brasil e África do Sul para reagir a pressões externas e reforçar sua capacidade de articulação diante de desafios globais crescentes.

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