Japão aprova orçamento recorde de defesa alegando necessidade de “conter a China"
Alta de 9,4% nos gastos militares reforça mísseis, drones e estratégia agressiva com foco na China
247 - O governo do Japão aprovou um orçamento preliminar de defesa histórico para o ano fiscal de 2026, aprofundando uma guinada estratégica voltada contra a China em meio ao aumento das tensões no Leste Asiático. O plano prevê um crescimento de 9,4% em relação a 2025 e corresponde ao quarto ano do programa quinquenal que busca dobrar os gastos anuais com armamentos, elevando-os ao patamar de 2% do Produto Interno Bruto (PIB), informa o G1.
A ampliação dos recursos militares ocorre em um contexto de pressão dos Estados Unidos por maior engajamento japonês e de deterioração das relações com Pequim. O governo da primeira-ministra Sanae Takaichi prometeu antecipar em dois anos o cumprimento da meta de 2% do PIB, alcançando-a até março.
A elevação do orçamento está diretamente associada à revisão da política de segurança japonesa, que rompe com restrições históricas do pós-Segunda Guerra Mundial. A atual estratégia identifica a China como o principal desafio estratégico do país e defende um papel mais ativo e ofensivo das Forças de Autodefesa do Japão, especialmente no âmbito da aliança militar com os Estados Unidos.
Em novembro, Sanae Takaichi intensificou o discurso ao afirmar que as Forças Armadas japonesas poderiam se envolver caso a China adotasse alguma ação contra Taiwan. A declaração marcou um novo patamar na retórica de segurança de Tóquio e ampliou a percepção de confronto estratégico na região.
O novo orçamento destina mais de 970 bilhões de ienes, cerca de US$ 6,2 bilhões, para o fortalecimento da capacidade de mísseis de “standoff”, capazes de atacar alvos inimigos à distância. Desse montante, 177 bilhões de ienes serão usados na aquisição de mísseis antinavio Type-12, desenvolvidos no Japão e modernizados para alcançar aproximadamente mil quilômetros.
O primeiro lote desses mísseis será implantado na província de Kumamoto, no sudoeste japonês, até março, um ano antes do previsto inicialmente, como parte da aceleração do reforço militar na região considerada mais sensível em relação à China.
Diante do envelhecimento populacional e das dificuldades para manter efetivos suficientes, o governo também aposta em armamentos não tripulados. Para a defesa do litoral, estão previstos cerca de 100 bilhões de ienes para a implantação de um número descrito como “massivo” de drones aéreos, marítimos e subaquáticos, integrados ao sistema “SHIELD”, com operação planejada para março de 2028. Para acelerar a implementação, o Japão deve recorrer inicialmente a importações, possivelmente da Turquia ou de Israel.
O Ministério da Defesa japonês decidiu criar um novo escritório dedicado a estudar equipamentos, estratégias e necessidades para lidar com a atividade militar da China na região. Paralelamente, o Japão busca fortalecer sua indústria de defesa, majoritariamente doméstica, por meio de projetos conjuntos com aliados e da ampliação das exportações de armamentos, após flexibilizar restrições nos últimos anos. Para 2026, o orçamento prevê mais de 160 bilhões de ienes para o desenvolvimento de um caça de próxima geração em parceria com o Reino Unido e a Itália, com previsão de implantação em 2035, além de pesquisas em drones operados por inteligência artificial.
Em outro movimento relevante, a Austrália selecionou a Mitsubishi Heavy Industries para modernizar fragatas da classe Mogami, que substituirão sua frota de navios ANZAC. O orçamento japonês também reserva quase 10 bilhões de ienes para apoiar a base industrial e as vendas externas de armamentos.
O plano ainda depende da aprovação do Parlamento até março, como parte do orçamento nacional estimado em 122,3 trilhões de ienes. Com a execução do programa quinquenal, os gastos anuais de defesa devem alcançar cerca de 10 trilhões de ienes, posicionando o Japão como o terceiro maior investidor militar do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e da China. Apesar do cumprimento da meta de 2% do PIB, o próprio governo reconhece que o financiamento de aumentos futuros em proporção ainda maior do produto nacional permanece incerto.


